1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Aras recorre ao Supremo contra regras do TSE sobre fake news

22 de outubro de 2022

Resolução ampliou poder da corte para determinar retirada de notícias falsas e agilizou procedimentos. Procurador-geral afirma que medida fere prerrogativas do Ministério Público e viola a liberdade de expressão.

https://p.dw.com/p/4IXa9
Augusto Aras falando
Aras afirma que resolução do TSE "abre espaço para atuação arbitrária não desejada"Foto: Evaristo Sa/AFP

O procurador-geral da República, Augusto Aras, ajuizou nesta sexta-feira (21/10) uma ação direta de inconstitucionalidade que pede a derrubada de trechos de resolução aprovada na quinta-feira pelo plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que ampliou o poder da corte para determinar a retirada de notícias falsas de plataformas digitais na reta final da eleição.

A resolução autoriza a Presidência do TSE, atualmente exercida pelo ministro Alexandre de Moraes, a determinar automaticamente, sem a necessidade de novo pedido das partes ou do Ministério Público, a remoção de conteúdos idênticos que já haviam sido derrubados por decisão colegiada da corte, mas foram em seguida replicados em outros locais na internet.

A norma também estabeleceu que as plataformas de internet têm, após a ordem do TSE, até duas horas para remover conteúdos que atentem contra a integridade do processo eleitoral, e no máximo uma hora da antevéspera até os três dias seguintes à eleição. O descumprimento desses prazos será punido com multa de R$ 100 mil a R$ 150 mil por hora.

A corte também determinou que será proibida a veiculação de propaganda eleitoral paga na internet nas 48 horas antes do segundo turno e nas 24 horas após a votação. Até então, as redes sociais tinham que suspender essas propagandas apenas às 23h59 do dia anterior ao pleito.

O objetivo de estender a proibição aos três dias seguintes à eleição é evitar campanhas que busquem contestar a urna eletrônica e o resultado eleitoral, que costumam ser promovidas em redes bolsonaristas.

A resolução permite ainda que o TSE determine a suspensão temporária de canais, sites e perfis que insistirem em propagar desinformação.

O que Aras argumenta

O procurador-geral da República afirma que a nova resolução fere prerrogativas do Ministério Público Eleitoral, cria sanções distintas das previstas em lei, amplia o poder de polícia do presidente da corte em prejuízo da colegialidade e viola a liberdade de expressão.

"Permitir a ação uníssona e unilateral do órgão jurisdicional, desde o início da verificação do ilícito eleitoral até a decisão e aplicação de sanção, com a supressão da representação do Ministério Público e a ausência de previsão da possibilidade de provocação da Corte eleitoral pelos candidatos interessados e partidos e coligações respectivas, abre espaço para atuação arbitrária não desejada, arriscando-se a imparcialidade da jurisdição", escreveu Aras.

A guerra de mentiras no segundo turno

Na petição, ele diz ainda que a possibilidade de o TSE suspender canais, sites e perfis da internet seria uma medida excessiva e desnecessária, e que a multa de R$ 100 mil a R$ 150 mil para as plataformas digitais em caso de descumprimento de ordem para retirar conteúdos que atentem contra a integridade do processo eleitoral seria uma ampliação "excessiva e desproporcional" do valor fixado na Lei das Eleições.

Em relação à permissão para a Presidência do TSE de estender decisões colegiadas do tribunal para a retirada de conteúdos idênticos replicados em outros locais da internet, Aras afirmou que o dispositivo confere uma "carta em branco" ao comando da corte e cria a "possibilidade de atuação judicial monocrática de ofício".

Na petição, Aras menciona diversas vezes a palavra censura ao se referir à resolução. "O antídoto para a desinformação é mais informação, e não a censura. No espaço democrático, a palavra, o voto, é o poder do cidadão. (...) A democracia se faz com a participação ativa dos cidadãos, sobretudo nos espaços de diálogo, sendo induvidoso que a internet revela-se hoje como espaço dos mais acessíveis para a manifestação do pensamento", afirmou o procurador-geral.

A ação de Aras foi distribuída para o gabinete do ministro Edson Fachin, que presidiu o TSE de fevereiro a agosto deste ano, quando a corte também aprovou ma resolução sobre o combate de fake news relacionadas às eleições.

Moraes aponta aumento de "notícias fraudulentas"

As novas regras do TSE foram propostas por Moraes e discutidas em uma reunião na quarta-feira com representantes das plataformas de internet no país. Nesse encontro, o presidente da corte afirmou que no segundo turno "houve um aumento não só das notícias fraudulentas, mas da agressividade dessas notícias, o que leva a uma corrosão da democracia, o que pede um procedimento mais célere em relação à desinformação".

Moraes informou que, nas eleições deste ano, houve alta de 1.671% no volume de denúncias de desinformação encaminhadas às plataformas digitais em comparação com as eleições de 2020, e os episódios de violência política via redes sociais cresceram 436% comparado às eleições de 2018.

bl (ots)