Governo Kirchner
28 de outubro de 2010A Argentina é precursora e modelo para toda a América Latina na forma de lidar com o passado ditatorial do país, declarou à Deutsche Welle o especialista Wolfgang Kaleck, secretário-geral do Centro Europeu de Direitos Humanos e Constitucionais, uma organização independente de defesa dos direitos humanos.
"Ainda estamos esperando que outros países, como Uruguai, Paraguai, Brasil e sobretudo a Colômbia, sigam esse caminho", disse Kaleck. Para ele, o governo do ex-presidente Néstor Kirchner entrará para a história pela maneira como abordou o passado ditatorial da Argentina.
Deutsche Welle: Como Kirchner entrará para a História no que diz respeito aos direitos humanos?
Wolfgang Kaleck: No que diz respeito aos direitos humanos, jamais um chefe de governo entrará para a História livre de críticas, e isso vale também para o ex-presidente Kirchner no que diz respeito à atual situação da Argentina.
Mas ele entrará para a História pela maneira como abordou o passado ditatorial do país. De imediato, desde o início de sua presidência, em 2003, criou precedentes importantes, por exemplo ao convidar as mães da Praça de Maio ao palácio presidencial.
E logo, junto com a Justiça e com o Parlamento, cuidou para que fossem derrubadas as leis de impunidade, o que foi depois confirmado pela Corte Suprema. A partir daí, o governo se empenhou para que o passado ditatorial, entre 1976 e 1983, fosse amplamente revisto.
Que influência essa postura exerceu sobre os demais países da América Latina?
Ainda estamos esperando. A Argentina é, de certa forma, um modelo para toda a América Latina. Talvez pudéssemos citar aqui também o Chile. Afinal, após a detenção de Pinochet, houve lá alguns processos judiciais e alguns torturadores forem presos.
Os processos judiciais na Europa também desempenharam um papel importante nessa evolução paralela que aconteceu na Argentina e no Chile. Também temos que citar o Peru, onde o ex-presidente Fujimori e seu chefe de inteligência estão na cadeia por desrespeito aos direitos humanos.
Mas podemos apontar claramente a Argentina como precursora. E, como eu dizia, ainda estamos esperando que outros países, como Uruguai, Paraguai, Brasil e sobretudo Colômbia, sigam esse caminho.
A Argentina continuará pelo caminho de Kirchner?
Creio que a Justiça assumiu essa tarefa. A Justiça, que durante anos era dependente da política, era em parte corrupta, marcada por elementos próximos aos militares e à ditadura, emancipou-se um pouco mais.
Os processos adquiriram uma dinâmica própria – é o que esperamos – de maneira que já não é mais tão decisivo qual governo está no poder. Mas essa é a nossa tese e também a nossa esperança.
Autora: Emília Rojas (as)
Revisão: Roselaine Wandscheer