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Argentinos voltam às ruas contra feminicídios

12 de abril de 2017

Assassinato de jovem de 21 anos reacende clamor por justiça num país onde, segundo estimativas de ONGs, a cada 18 horas uma mulher é morta. Autor do crime estava em liberdade condicional.

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Manifestantes carregam cartazes com imagem de Micalea García, cujo assasinato fez renascer protestos na Argentina
Manifestantes carregam cartazes com imagem de Micalea García, cujo assasinato fez renascer protestos na ArgentinaFoto: Getty Images/AFP/E. Abramovich

Milhares de argentinos saíram às ruas nesta terça-feira (11/04) para renovar o grito de "Ni uma menos" ("nem uma a menos"), associado à campanha para pôr fim aos feminicídios que voltaram a indignar o país após o mais recente assassinato de uma jovem.

A morte de Micaela García, cujo corpo foi encontrado no último sábado, provocou o clamor público por medidas efetivas para prevenir esses crimes, os quais, segundo estimativas de organizações sociais, ocorrem com a assustadora frequência de um a cada 18 horas.

O crime também reacendeu o debate sobre a chamada "Justiça garantista" que concede o benefício da liberdade condicional aos suspeitos de feminicídio, mesmo aos que já foram condenados anteriormente.

A jovem de 21 anos, estudava em Galeguay, na província de Entre Ríos, onde realizava trabalhos sociais em bairros pobres como militante do movimento peronista JP Evita. Após uma semana de buscas, seu corpo foi encontrado na periferia da cidade com sinais de violência sexual, antes da morte por estrangulamento.

O suspeito, Sebastián Wagner, de 30 anos, está preso. Outros dois homens também foram detidos, um deles sob suspeita de ter colaborado no assassinato. Em 2016, após decisão judicial controversa, Wagner ganhou liberdade condicional após quatro anos de prisão por dois casos de abusos sexuais em 2010. Ele deveria ter cumprido pena de nove anos. O juiz que concedeu o benefício é alvo de moções de políticos tanto da oposição quanto do governo, que pedem sua destituição.

Vítima participou de marcha contra feminicídio

Micaela havia participado das manifestações sob o lema "Ni uma menos", iniciadas em junho de 2015, quando centenas marcharam pelas ruas de Buenos Aires para protestar contra os feminicídios. Cartazes levados por mulheres no protesto na capital argentina mostravam Micaela García vestindo uma camiseta com o slogan.

Como as mulheres combatem o feminicídio pelo mundo

Seu pai, que recebeu a bênção do papa Francisco neste domingo, juntamente com a família, disse estar orgulhoso da filha por sua militância em favor das camadas mais desfavorecidas da sociedade.

"Micaela era una militante do movimento argentino de mulheres e de uma organização política. Seu caso é uma insanidade", afirmou a ativista Luna Palmada da organização Plenário das Trabalhadoras e da Secretaria da Mulher da Federação Universitária de Buenos Aires.

Palmada lembrou que o movimento "Ni una menos" foi iniciado há dois anos, e que apesar da mudança de governo no país, "o Estado não desenvolveu nenhuma saída para a violência que as mulheres vivem cotidianamente na Argentina".

"Estamos com uma média de uma mulher assassinada a cada 18 horas. Quando houve a primeira mobilização do 'Ni una menos' estávamos com uma mulher assinada a cada 23 horas. Esse é um flagelo mundial", alertou a deputada Laura Marrone do partido Izquierda Socialista.

Dados oficiais indicam que 290 mulheres foram assassinadas em 2016 na Argentina, ou seja, uma média de uma a cada 30 horas. Segundo um levantamento realizado pela ONG Anistia Internacional, nos primeiros 43 dias de 2017 foram cometidos mais de 50 feminicídios.

RC/efe/dpa