Arte pela educação social
1 de setembro de 2003A sala do terceiro ano primário está cheia de "obras de arte". As pinturas estão espalhadas pelas paredes, pelos cantos e até presas em um varal improvisado. A mistura de cores é marcante. A turma está tendo uma aula de desenho com Klaus Kijak, que duas vezes por semana aparece na escola de Osnabrück. "Eu quero mostrar para as crianças um mundo diferente. Elas tem que aprender a pintar flores em geral e não apenas tulipas", revelou o artista plástico.
Este tipo de contraponto ao ensino convencional, onde todos tem que cumprir as mesmas tarefas, faz parte da filosofia do projeto mus-e, criado em 1993 pelo renomado violinista Yehudi Menuhin, morto em 1999. A idéia é integrar artistas das mais variadas áreas ao currículo escolar de 1º grau. Através de aulas regulares, o objetivo é fortalecer a personalidade, a auto-estima e a competência social da garotada ainda na fase tenra da vida.
"É muito legal ter aulas assim pois a gente não precisa estudar", falou uma menina. "Eu gosto muito porque não tem tarefa de casa nem existe censura", acrescentou um coleguinha. As aulas de Klaus Kijak não são nenhuma exceção na Alemanha. Pelo contrário. Cerca de 10 mil alunos do país já conhecem o "Projeto Escolar Multicultural para a Europa", ou, como é comumente conhecido, mus-e.
Maior integração social
O contato com o mundo artístico desperta um sentimento de integração nas crianças, inclusive de origens diferentes. "Quem desde cedo aprende a ouvir música descobre logo o que é tolerância", disse certa vez o idealizador do projeto cultural.
Justamente por isso, as escolas com elevada porcentagem de crianças menos favorecidas e de diversas nacionalidades são o principal foco da Fundação Internacional Yehudi Menuhin, sediada em Bruxelas, encarregada da implantação do projeto na Europa. O modelo constitui de duas aulas por semana com um artista em turmas da 2ª à 4ª série.
Além fronteiras
Pelo menos 25 mil crianças de 13 países usufruem das vantagens do projeto. A Alemanha, onde o mus-e atende a 10 mil alunos, é o país com o maior número de escolas participantes. A Renânia do Norte-Vestfália, que abriga na cidade de Düsseldorf a Fundação Menuhin, é o estado líder. Todas as escolas primárias aderiram ao projeto graças ao apoio financeiro do governo estadual.
O resultado tem sido tão positivo que outros estados estão descobrindo o poder deste tipo de aula, onde o mestre não é um professor qualificado mas um artista que tenta transmitir seus conhecimentos sem base pedagógica.
A Fundação Menuhin oferece orientação aos artistas. Já a parte financeira cabe aos governos, à iniciativa privada ou outras instituições interessadas. Em Osnabrück, uma associação popular banca o projeto em quatro escolas da cidade com alto índice de estrangeiros.
"Depois de três meses, os garotos, que antes só pensavam em brigar, passaram a andar juntos pelo corredor. E aqueles que tiveram aula de dança também apresentaram maior coleguismo na sala de aula", revelou o presidente da associação, Wolfgang Lorberg.