Artista brasileiro se apresenta no Tanznacht Berlin 2012
23 de agosto de 2012Para os fãs de dança contemporânea, agosto é o mês para se estar em Berlim. Além do internacional e consagrado Tanz im August, a cidade ganhou um novo festival. A Tanznacht Berlin era uma maratona de uma noite de dança, nos moldes de eventos que acontecem durante todo o ano em museus e instituições culturais pela cidade – e que ainda acontece no dia 25 de agosto. Mas uma noite não era suficiente para mostrar o volume de produção e a diversidade de espetáculos produzidos em um dos grandes centros da dança contemporânea.
Durante quatros dias, a sétima edição do Tanznacht Berlin reúne mais de vinte trabalhos de artistas que vivem atualmente na cidade. O panorama tenta representar a criativa diversidade com performances, espetáculos, interação com espaços urbanos, instalações, workshops e uma programação especial para as crianças.
Vivendo desde o começo do ano em Berlim, onde faz mestrado em dança e performance na HZT/UdK, o brasileiro Flavio Ribeiro foi convidado, através da universidade, para o projeto Metabolic Metropolis. "Meu interesse não é colocar meu corpo a serviço da ideia de um coreógrafo, mas sim desenvolver uma ideia própria, um conceito. Achei o convite uma oportunidade excelente de criação coletiva", disse o artista em entrevista à DW Brasil.
"Com o trabalho de Pina Bausch, percebi que estava diante de uma outra forma de provocar ideias e sentimentos através do movimento. Em seu trabalho, as situações surgem a partir da experiência de vida de cada bailarino, numa criação conjunta", completou Ribeiro.
Variedade de espetáculos
A maior parte dos eventos do Tanznacht Berlin 2012 acontece no Uferstudios, antigo complexo da BVG (companhia de transporte público de Berlim) que foi transformado em 14 estúdios, ateliês e escritórios, mantendo características e o clima da construção original.
O festival também visita alguns pontos conhecidos da cidade, como no espetáculo X-Choreografen, que vai tomar conta da Kurfürstendamm, uma das principais avenidas da cidade. O passado de Berlim é o tema de Oral Dance Histories. Hip-hop e dança contemporânea se misturam em The Battle. Já as crianças podem conferir We are the Monsters, em que a coreógrafa Colette Sadler faz um workshop com os pequenos baseado em sua apresentação sobre monstros. Ufer/Outside mostra a nova geração de artistas, com crianças participantes do projeto TanzZeit, que leva dança as algumas escolas primárias da cidade.
Ir além dos moradores e visitantes e cavar memórias e emoções atreladas a elas é o ponto de partida de Metabolic Metropolis. Encarar a cidade como um organismo vivo onde todos fazem parte, traçar um mapa emocional e simplesmente ser Berlim é a proposta do espetáculo. "Toda metrópole tem que ser metabólica, por definição. Berlim metabolizou uma história rica e complicada, e até hoje tem uma fauna humana muito interessante", disse Ribeiro.
Multiplicidade de leituras
Metabolic Metropolis quer relacionar a história da cidade com a das pessoas e dar voz a lugares, buscando a visão pessoal e as vivências de cada artista. "A proposta é trabalhar a relação multifacetada da cidade com seus habitantes. É uma relação digestiva, antropofágica, celular, como num ser vivo. Uma cidade se alimenta daqueles que a habitam/visitam e vice-versa", explicou o artista.
Com uma proposta bem aberta e pessoal, o brasileiro se juntou à colega Lea Moro, e de suas leituras de Berlim nasceu Warhol & Marx: The writing is on the Wall, que faz parte do espetáculo Metabolic Metropolis. "Através de citações, criamos um dialogo fictício entre Warhol e Marx. Os dois tinham mais em comum do que se poderia suspeitar", disse o artista. Eles citarão o pai do socialismo e o pai da pop arte através de pichações efêmeras, feitas como espuma de barbear que será carregada pelo vento ou pela chuva.
A história e a divisão da cidade é o que liga Berlim a essas duas personalidades. "Eles simbolizam os extremos de Berlim, que durante anos foi cortada por um muro e tinha um lado socialista e o outro capitalista. A Berlim atual é o resultado dessas influências e a dupla é ideal para ilustrar essa duplicidade", declarou o artista, que viveu na cidade no final dos anos 80, quando o muro ainda era uma realidade.
Centro da dança contemporânea
Segundo Flavio Ribeiro, o que ele faz é performance, que está mais ligada as artes plásticas. "O corpo em movimento pode ou não fazer parte do meu trabalho. Minha última performance consistia em uma caixa de papelão imóvel no palco. O movimento é produzido pela mente do expectador com auxílio de uma gravação da minha voz", disse.
O artista acredita que a capital alemã é hoje um dos mais importantes centros de dança e artes plásticas no mundo. Isso é resultado da diversidade e da receptividade de Berlim, e de um público interessado, sem medo de fugir de novas e ousadas propostas.
"Berlim oferece superproduções de balé e trabalhos alternativos, feitos com poucos recursos. Essa diversidade atrai muitos artistas de todas as áreas", disse o brasileiro. A necessidade de questionar e expandir linguagens e diálogos da arte vem através do experimentalismo, que é essencial para o desenvolvimento e, conseqüentemente, para a evolução.
E como a cena da dança contemporânea na Alemanha se compara à do Brasil? Para Ribeiro, o aumento da produção na última década é evidente, e coreógrafos brasileiros estão em grandes companhias em todo o mundo. "Tem muita gente talentosa no Brasil. Precisamos de incentivo e financiamento para as pequenas produções, trabalhos experimentais e alternativos. Esses trabalhos não são sempre comercialmente viáveis, mas desenvolvem novas frentes, novas estéticas e novos diálogos", concluiu o artista.
Autor: Marco Sanchez
Revisão: Francis França