As peculiaridades fúnebres na Alemanha
30 de novembro de 2018A morte na Alemanha exige um longo ritual de preparação. Dependendo do estado federativo, há um mínimo de 24 horas e um máximo de dez dias para realizar o enterro e, em caso de cremação, a espera pode chegar a até quatro semanas.
O enterro não é imediato e organizado às pressas. As famílias costumam enviar um cartão de aviso sobre a morte da pessoa, informando o local da cerimônia, e do enterro ou da cremação.
A despedida é um processo longo na Alemanha. As famílias também recebem cartões de condolências enviados por amigos, colegas e familiares, alguns acompanhados de dinheiro para ajudar com os gastos do funeral.
Na seção de cartões nas lojas, sempre há entre as mensagens de aniversário ou declarações de amor, o Beileidskarte ou Trauerkarte, cartão com imagens cinzas ou uma rosa preta expressando os pêsames pela perda de um ente querido.
A cerimônia de despedida é silenciosa, e os choros em geral são mais contidos. Há uma música triste de fundo, e as pessoas costumam vestir preto. Músicos também podem ser contratados. O caixão pode estar aberto ou fechado.
Um padre ou um pastor só vão aparecer se a pessoa estiver em dia com o imposto da igreja, o Kirchensteuer. Por isso, algumas pessoas mais velhas que ficaram muito tempo sem frequentar a igreja costumam pagar o imposto para garantir uma cerimônia religiosa.
O hiato entre a morte e a despedida final é uma forma de se preparar para esse dia e minimizar o choque da perda. Depois do sepultamento, todos costumam se reunir num café, restaurante ou na casa de quem organizou o enterro para um café com bolo. É uma tradição para que todos se reúnam e tenham tempo de conversar, dar os pêsames e falar sobre as memórias da pessoa que se foi. O nome desse encontro é Leichenschmaus, o banquete do cadáver.
Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos na área de sustentabilidade e é mestre em Direitos Humanos.