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As primeiras baixas ministeriais desde a redemocratização

18 de fevereiro de 2019

Escândalos, atritos, desprestígio e até um romance levaram à queda de ministros nos primeiros meses de governo desde a era Sarney. Com saída de Bebianno 48 dias após a posse, Bolsonaro só fica atrás de recorde de Temer.

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O presidente Jair Bolsonaro
Governo Bolsonaro sofreu sua primeira baixa nesta segunda, em meio a um escândalo de candidaturas laranjasFoto: picture-alliance/dpa/ZUMAPRESS/Argencia Globo/J. William

A saída de Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral da Presidência marcou a primeira baixa ministerial do governo de Jair Bolsonaro. Foram 48 dias entre a posse e a demissão. Desde 1985, todos os presidentes em primeiro mandato – com exceção de Lula – demitiram ou aceitaram a demissão de ministros em seus 12 meses iniciais à frente do governo. Lula só ultrapassou esse prazo por apenas três semanas. A queda mais rápida ocorreu no governo Michel Temer: 12 dias.

Escândalos, atritos e desprestígio com o presidente motivaram a maior parte das saídas. No caso da primeira baixa efetiva do governo de Fernando Collor, o catalisador foi um tórrido romance envolvendo dois ministros.

Em nenhum dos casos, no entanto, a saída de um ministro foi motivada por uma mistura de suspeitas de corrupção e intrigas familiares, como ocorreu no governo Bolsonaro, em que um dos filhos do presidente, o vereador Carlos, foi um dos protagonistas da demissão. Com a saída de Bebianno pouco menos de dois meses após a posse, Bolsonaro só fica atrás do recorde firmado por Temer.

Governo Sarney: 5 meses e 11 dias

Ao assumir após a morte de Tancredo Neves, José Sarney manteve inicialmente o ministério já montado pelo titular que não tomou posse. Entre os ministros estava Francisco Dornelles, sobrinho de Tancredo, que passou a chefiar a Fazenda. Dornelles logo entrou em choque com o titular de outra pasta, João Sayad, do Planejamento, em uma disputa sobre a condução da política econômica do governo.

Sarney acabou por favorecer o grupo de Sayad. Dornelles ficou isolado e pediu demissão. Para o seu lugar foi nomeado Dilson Funaro, mais alinhado com os planos de Sayad e que viria a lançar o malfadado Plano Cruzado.

Antes de Dornelles, outro ministro teve uma passagem relâmpago pela Esplanada: José Aparecido de Oliveira, titular do Ministério da Cultura, que permaneceu 55 dias no cargo. Oliveira, no entanto, não deixou a pasta por desgaste. Foi nomeado por Sarney governador do Distrito Federal como forma de acalmar diferentes correntes do PMDB que disputavam o cargo – à época, ainda não havia eleição direta no DF. Ele voltou a chefiar o Ministério da Cultura em 1988.   

Governo Collor: 7 meses

Bernardo Cabral, que havia sido relator-geral da Assembleia Constituinte, assumiu o Ministério da Justiça no mesmo dia da posse do presidente Fernando Collor: 15 de março de 1990. Em poucos dias sua posição começou a erodir diante de várias decisões erráticas e atritos com o Congresso.

Cabral era responsável pela edição de atos jurídicos do governo e acumulava a tarefa de articulação política junto ao Congresso. No entanto, várias medidas provisórias que contaram com a consultoria de Cabral foram consideradas inconstitucionais, minando seu prestígio. Ele também acumulou derrotas na articulação política.

Com poucos meses de governo, começaram a vazar relatos de que Collor estava insatisfeito com o desempenho de Cabral. A gota d'água ocorreu no final de setembro de 1990, quando a imprensa revelou que Cabral estava tendo um caso com a ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello. Collor já havia sido informado sobre o romance semanas antes, mas pediu discrição, temendo reação da opinião pública.

A dupla foi tudo menos discreta. No dia 20 de setembro, durante a festa de aniversário de Zélia, em Brasília, jornalistas presenciaram os dois dançando agarrados ao som do bolero Besame mucho. Cabral pediu demissão dias depois. Ao sair, atribuiu sua queda a "futricas" de "funcionários subalternos".

Meses antes da queda de Cabral, Joaquim Roriz já havia deixado o Ministério da Agricultura após ficar apenas 14 dias no cargo. A saída, no entanto, foi motivada pelo desejo de Roriz de concorrer ao governo do Distrito Federal.

À época, a própria nomeação de Roriz – um aliado próximo de Collor – ao ministério havia sido encarada apenas como uma tática para despistar a Justiça Eleitoral, já que Roriz corria o risco de ter a candidatura indeferida por ter desempenhado a função de governador nomeado do DF até março de 1990. Com a passagem relâmpago pela Esplanada, conseguiu se descompatibilizar e disputar nas eleições estaduais de 1990. 

Governo Itamar: 2 meses e 14 dias

Ainda como presidente interino enquanto o processo de impeachment de Fernando Collor não havia sido concluído, Itamar Franco surpreendeu, em outubro de 1992, o mercado e o mundo político ao nomear o deputado Gustavo Krause para o Ministério da Fazenda, que havia acabado de ser desmembrado da pasta da Economia. Krause não estava em nenhuma lista de nomes cogitados. Sua indicação repercutiu mal entre o mercado.

Na primeira semana no cargo, levou uma bronca pública de Itamar ao anunciar um aumento no preço dos combustíveis. Conforme as semanas foram passando, Krause começou a se sentir cada vez mais desprestigiado com Itamar. Em dezembro de 1992, um conselheiro próximo do presidente passou a atacar publicamente Krause pela política de juros da Fazenda.

Sentindo que estava sendo "fritado", Krause pediu demissão em 16 de dezembro, sem esperar pela posse definitiva de Itamar no cargo. Segundo o jornal O Globo, Krause disse que não era "possível ser ministro da Fazenda sem estar integrado com o presidente".

Seus dois sucessores na pasta, Paulo Haddad e Eliseu Resende, também durariam menos de três meses cada no ministério. Haddad caiu também por dificuldades em se relacionar com Itamar. Resende, por causa de um escândalo em que foi acusado de favorecer a empreiteira Odebrecht.

Primeiro governo FHC: 10 meses e 20 dias

Titular do antigo Ministério da Aeronáutica (que viria a ser absorvido pela pasta da Defesa em 1999), o tenente-brigadeiro-do-ar Mauro José Miranda Gandra foi o pivô do primeiro grande escândalo do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Pairavam sobre Gandra suspeitas de tráfico de influência na instalação do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), projeto prioritário do governo.

Antes de Gandra, o escândalo já havia derrubado o chefe do cerimonial do Planalto, Júlio César Gomes dos Santos. Um grupo da Polícia Federal havia interceptado o telefone de Santos e gravou uma conversa na qual um representante da firma americana Raytheon – escolhida para montar o sistema – falou da sua amizade de longa data com o ministro e contou que ele havia ficado hospedado em sua casa.

O diálogo foi reproduzido pela imprensa, e Gandra acabou pedindo demissão pouco menos de 11 meses após a posse. O escândalo também viria a derrubar o então presidente do Incra, Xico Graziano, acusado de estar por trás do grampo.  

Primeiro governo Lula: 1 ano e 20 dias

Ao montar sua equipe, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entregou o Ministério da Ciência e Tecnologia ao PSB, membro da base aliada. À época, dois caciques do PSB, os ex-governadores Ronaldo Lessa e Anthony Garotinho, indicaram Roberto Amaral para o cargo. Sem experiência na área, Amaral logo se notabilizou por sugerir em uma entrevista à rede BBC que o Brasil deveria investir no projeto de uma bomba atômica.

Para piorar, seus padrinhos políticos no PSB perderam influência ou deixaram o partido. Logo, outros caciques da sigla que tomaram o espaço, entre eles o ex-governador Miguel Arraes, passaram a influenciar o Planalto para que Amaral fosse substituído. Sem apoio de Lula, Amaral pediu demissão em 9 de janeiro de 2004. Permaneceu até 21 de janeiro no cargo. Foi substituído pelo então deputado Eduardo Campos, neto de Arraes.

Dois dias após a saída de Amaral, foi a vez de o ministro da Educação Cristovam Buarque perder o cargo. Foi demitido por telefone por Lula, que disse estar insatisfeito com o desempenho do ministro.  

Primeiro governo Dilma: 5 meses e seis dias

Antigo ministro da Fazenda de Lula, Antonio Palocci já havia caído em desgraça em 2006 após o escândalo da quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa, que havia revelado que o petista usava uma mansão em Brasília para se reunir com lobistas e participar de festas com prostitutas. Mesmo com o escândalo, Palocci manteve sua influência no PT e, em 2010, coordenou a campanha presidencial de Dilma Rousseff.

Após a posse da petista, Palocci assumiu o Ministério da Casa Civil em janeiro de 2011. Em maio, reportagem do jornal Folha de S. Paulo apontou suspeitas de enriquecimento ilícito por parte do ministro. Ele havia multiplicado seu patrimônio em 20 vezes em apenas quatro anos.

Nas três semanas seguintes surgiram mais notícias negativas sobre sua evolução patrimonial, levantando suspeitas sobre tráfico de influência. No dia 7 de junho, Palocci deixou o cargo. Foi o primeiro de seis ministros de Dilma que seriam derrubados por escândalos apenas no primeiro ano de governo.

Governo Temer: 12 dias

Ainda na posição de presidente interino após o afastamento de Dilma Rousseff, Michel Temer registrou sua primeira baixa com menos de duas semanas de governo. Romero Jucá, ministro do Planejamento, deixou o cargo horas após a Folha de S. Paulo revelar uma gravação em que o homem-forte de Temer falava que a queda de Dilma proporcionaria um cenário para enfraquecer a operação Lava Jato e a costura de um "amplo acordo" com "Supremo, com tudo". A conversa foi registrada por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, subsidiária da Petrobras.

No seu primeiro ano de governo, Temer ainda perderia outros três ministros pela eclosão de escândalos. Dois outros ministros deixaram o cargo após atritos com o governo ou colegas de Esplanada.

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