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As primeiras reações da crítica alemã

Simone de Mello14 de junho de 2002

O grande ceticismo em relação à concepção do curador Okwui Enwezor parece se esvair, pouco depois da inauguração da mostra de Kassel.

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"New Manhattan City", obra do artista congolês Bodys Isek Kingelez exposta em KasselFoto: AP

"Universidade de Babel", "documenta da geração Attac", "curso avançado de geografia", "ampliação da zona periférica", "bolsa de informações para ativistas políticos": estes são alguns dos epítetos com que a imprensa alemã reagiu – com maior ou menor ironia – à documenta de Okwui Enwezor.

Por trás do código ferino dos suplementos culturais, revela-se, no entanto, um evidente respeito à nova mostra de Kassel. Independentemente da abordagem, os críticos atestam que Enwezor cumpriu a missão a que tinha se proposto: a documenta reverte a visão eurocêntrica do discurso sobre arte contemporânea, rompe com hierarquias do cânon, resgata vertentes estéticas periféricas e mostra o papel da arte no mundo pós-colonial e globalizado.

A proximidade do distante

Após quatro plataformas de discussão altamente teóricas, a crítica alemã suspirou aliviada, ao constatar que a arte exposta na documenta não se transformou num "pódio de debates áridos e nem numa filial do Ministério das Relações Exteriores". Apenas o mérito de reunir manifestações artísticas de zonas periféricas e de lançar o olhar para fora do eixo EUA/Europa provavelmente não teria convencido os críticos.

No entanto, a documenta foi elogiada por proporcionar uma expedição às "zonas obscuras do presente", por veicular a "imagem coerente de um realismo estratégico que questiona de forma engajada as causas das ameaças e inseguranças do mundo de hoje", ou seja, por enfocar "todos os pontos nevrálgicos, os terríveis conflitos que desencadeiam mudanças, mas também as obstruem". Ou seja, a documenta parece convincente, por mostrar que as crises mundiais periféricas facilmente podem atingir o centro. No geral, tem-se a impressão de que o visitante sairá da exposição entendendo como foi possível o 11 de setembro.

Documenta antropofágica?

Após a inauguração da mostra, no dia 8 de junho, o receio de que a documenta virasse um show de folclore e de manifestações "etnológicas" do Terceiro Mundo desapareceu por completo. Muito pelo contrário. Uma crítica confirma, por exemplo, que "o olhar etnológico lançado sobre o Terceiro Mundo se volta agora contra os europeus". Outra testemunha que "as imagens do outro, dos explorados e reprimidos, lança uma nova luz sobre a produção artística euro-americana". Em geral se destaca o mérito informativo da documenta 11, que acentua a documentação, os diários fotográficos e relatos de viagem, ressaltando o papel do artista como pesquisador e repórter.

"Arte como ONG"

Por outro lado, o curador Okwui Enwezor foi criticado pelo exagero de sua "obsessão ética", um parâmetro que reduz a complexidade das manifestações artísticas. Um crítico reclama que a radicalidade estética de determinados trabalhos é neutralizada pela "presença dominante da fotorreportagem didática". Outro critica a curadoria por submeter todas as obras a uma linha temática explícita demais, sem seguir a lógica da criação artística. "O visitante tem a desagradável sensação de estar numa documenta da geração Attac, numa bolsa de informação de ativistas políticos que se metem em todo lugar. Arte como ONG?", polemiza um crítico, formulando a sensação generalizada de que a documenta 11 tende a reduzir a arte a um programa político.

A morte da pintura –

É com pouco saudosismo que os críticos constatam a irrelevância da pintura na documenta 11. A predominância do vídeo, da fotografia e da instalação cênica, em detrimento da pintura, foi interpretada, por um lado, como um gesto ousado da curadoria e, por outro, como uma decisão coerente. Afinal, segundo as críticas, a documenta 11 prioriza o documento, negando-se a destacar a excepcionalidade e a auto-encenação do artista.