As reviravoltas do pós-guerra
22 de agosto de 2003As declarações do premiê alemão, Gerhard Schröder, e do ministro do Exterior, Joschka Fischer, podem ser descritas como o ápice da diplomacia. Enquanto a ONU, após o atentado à sua sede em Bagdá, vê-se às voltas com a busca de um novo curso para o pós-guerra no Iraque, tanto o premiê Gerhard Schröder quanto o ministro do Exterior, Joschka Fischer, afirmam com a elegância de quem “não tem nada a ver com isso”, que não vêem necessidade de um engajamento militar do país.
Pressão interna - A pressão para que Berlim repense sua postura começa, no entanto, dentro de casa. Líderes da oposição democrata-cristã passaram a defender o envio de soldados alemães ao Iraque e o tema vem tornando-se pauta da política interna. Em uma entrevista ao diário Süddeutsche Zeitung na edição da última quinta-feira (21/8), Fischer alfinetou os EUA, ao afirmar que “as tarefas de estabilização e reconstrução do Iraque são maiores do que muita gente pensou que fossem”.
Por ter se posicionado de antemão contra a guerra, Berlim permanece agora em uma posição confortável: “O Conselho de Segurança da ONU definiu, em sua resolução 1483, que a responsabilidade pela estabilidade do Iraque é da coalizão EUA-Reino Unido”, observa Fischer. A discussão sobre o envio de tropas militares ao Iraque é, no entanto, crucial. E atinge não só Berlim, como Paris (onde o ministro alemão encontrou na última quinta-feira seu colega de pasta francês) e Moscou - os outros dois pesos pesados no não à guerra.
Mesmo filme - Alemanha, França e Rússia afirmam estar abertas ao diálogo, contanto que este ocorra dentro dos parâmetros estabelecidos pelo Conselho de Segurança da ONU. Ou seja, repete-se o jogo do período anterior à guerra. Uns insistem no aval da ONU. Outros preferem ignorá-la. O envolvimento de outros países em questões militares depende também da boa vontade de Washington e Londres em passar a bola à frente. Diante da simples menção de tais possibilidades, o Secretário norte-americano de Estado, Colin Powell, afirmou que não vê necessidade de que os EUA abdiquem de seus poderes sobre o Iraque.
Política de prevenção - Questionado se o fortalecimento da presença alemã no Afeganistão - exatamente neste momento - não seria um sintoma de que Berlim pretende esquivar-se de um eventual envolvimento militar no Iraque, o ministro Fischer defende em entrevista ao Süddeutsche Zeitung o que chama de “política preventiva”. Isso significa “colocar-se frente aos desafios em todo o cinturão islâmico em crise: da Indonésia aos países do Magreb. Esta é a questão estratégica que afeta a segurança européia e ocidental no século 21. A política alemã tem que dar sua contribuição”.