As sanções da UE contra a Rússia estão funcionando?
1 de agosto de 2022Desde a invasão russa da Ucrânia no final de fevereiro, a União Europeia (UE) cortou quase completamente as relações econômicas com seu antigo parceiro comercial ao impor seis pacotes de sanções.
Mas há exceções: gás, petróleo fornecido por meio de oleodutos, alimentos, cereais e certos tipos de fertilizantes não estão sujeitos às sanções. O Conselho da União Europeia, o órgão que representa os 27 países-membros, informa que foram impostas sanções contra 1.212 indivíduos e 108 empresas e outras entidades. Os indivíduos incluem o presidente russo, Vladimir Putin, seu ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, e diversos oligarcas do círculo de influência do Kremlin.
Metade das reservas do Banco Central da Rússia foi congelada, os bancos russos foram cortados do sistema de pagamento internacional Swift. As exportações de itens de tecnologia ocidental, aeronáutica, eletrônica e artigos de luxo foram proibidas. Mais de mil empresas ocidentais retiraram-se da Rússia. Além da UE, os EUA, Canadá, Japão, Suíça e Reino Unido também impuseram sanções contra a Rússia.
Em seu Monitor de Sanções, a rede de pesquisa Correctiv enumerou 6.825 medidas tomadas pela comunidade internacional desde o início da guerra de agressão russa. Nunca na história foram impostas tantas sanções contra um único país.
Efeitos
A questão agora é: como funcionam essas sanções, e elas podem levar a uma mudança no curso da guerra do Kremlin? O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, disse em entrevista à DW na última sexta-feira que as sanções estão atingindo "duramente" a economia russa. "A produção econômica russa está diminuindo em 10%. Eles sofrerão a pior recessão desde o final da Segunda Guerra Mundial".
A UE ainda depende do abastecimento energético russo, admitiu Borrell, mas acrescentou que isso deve mudar dentro de alguns meses. "Continuamos a comprar gás, mas já reduzimos as importações pela metade. Não podemos fazer milagres". Mesmo com os lucros da venda de gás, os russos não podem mais comprar nada no Ocidente, como, por exemplo, tecnologia para seus tanques, aponta Borrell. "Eles têm dinheiro, mas não conseguem comprar nada."
Vários estudos de universidades e institutos de pesquisa econômica abordam os possíveis efeitos das sanções e seu impacto na Rússia e nos países do Ocidente que as impuseram. Todos indicam declínio no desempenho econômico da Rússia neste ano. Em abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou que a contração do PIB russo poderia chegar a 8,5%. Mais recentemente, o fundo revisou sua previsão para 6%, indicando que o país tem conseguido contornar parte dos problemas gerados pelas sanções.
A economista Maria Shagina, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), em Zurique, projeta um declínio de 6%.
Setores afetados
"A Rússia continua a vender petróleo e gás a preços recordes e assim enche seu cofre de guerra, algo que já vinha fazendo antes mesmo da guerra. É por isso que temos esta situação única que indica que a Rússia não está sendo particularmente afetada por sanções", diz Shagina, do IISS.
"No nível microeconômico, entretanto, o quadro parece bastante diferente, especialmente na indústria automobilística e aeronáutica. Nelas são observados declínios de 80-90%", afirma.
A Rússia tem agora que mudar seu modelo econômico pela falta de acesso ao capital e mercado financeiro ocidentais, diz a pesquisadora. "A Rússia terá uma reversão da industrialização. A grande questão é com qual rapidez a Rússia poderá lidar com isso e unir forças com a China ou a Índia", diz.
Poucas alternativas
As sanções contra a Rússia estão tendo efeito, afirma Julian Hinz, do Instituto Kiel para a Economia Mundial. A opinião de que o Ocidente sofre mais com suas próprias medidas do que a Rússia é incorreta, avalia. "Se você olhar para as estatísticas, verá que a economia russa está sofrendo maciçamente com as sanções. Muito mais do que a economia europeia. Não há comparação", diz.
Ele também aponta que será difícil para a Rússia produzir alternativas nacionais às mercadorias importadas, porque a indústria local necessita de matérias-primas e conhecimento técnico do exterior. Finz ainda avalia que o Kremlin terá dificuldades para encontrar compradores para o petróleo e o gás que não estão sendo mais enviados para a UE e os EUA. "Não há oleodutos disponíveis [para outros mercados]. Há alguma capacidade de oleodutos indo para a China, mas eles não chegam a 10% da capacidade do que poderia ser enviado para a Europa ao mesmo tempo. Nada disso, em termos de capacidade, é capaz de substituir os oleodutos que vão para a Europa."
Borrell: "Putin não se importa com seu povo".
Borrell argumenta que a Rússia vai acabar isolada. "Uma economia moderna não pode funcionar se o vínculo com o resto [dos] poderes econômicos e poderes tecnológicos for cortado. Isso prejudicará muito a economia russa - não amanhã: a guerra continuará, infelizmente continuará. Mas a economia vai sofrer muito", disse o chefe da diplomacia europeia. "Putin terá que escolher se quer ter armas ou manteiga para seu povo. E sei que ele não se importa muito com seu povo."
A questão crucial, então, é se as sanções econômicas acabarão ajudando a mudar a vontade política do regime autoritário em Moscou. Alexander Libman, professor de política russa e do Leste Europeu na Universidade Livre de Berlim, está cético. Recentemente, ele disse à emissora pública alemã Deutschlandfunk que Putin não está impressionado com os danos à economia russa.
"As sanções não mudarão nada dentro de semanas ou meses", avaliou Libman. "É preciso ser honesto: as sanções são um instrumento – há muita pesquisa sobre isso – que geralmente não funciona. Na maioria dos casos, as sanções não influenciaram o comportamento dos Estados sancionados."