Aspirações do "Clube dos 4" geram protestos
24 de setembro de 2004O assunto pode ter sido digno de nota na imprensa alemã e brasileira, mas, nos labirintos das Nações Unidas, acabou quase passando despercebido. No mais, enquanto os quatro países – Alemanha, Brasil, Japão e Índia – lutam por uma vaga permanente no Conselho de Segurança, alguns de seus vizinhos já abriram a boca em sinal de protesto.
No caso alemão, a Itália foi o primeiro a manifestar seu não. E não foi a única voz contrária. Na América do Sul, surgiram protestos vindos da Argentina. Entre os vizinhos da Índia, Bangladesh já avisou não estar de acordo.
Destino: gaveta?
Ou seja: apesar de todas as boas intenções, é possível que tais reformas na estrutura da ONU ainda sejam conservadas por um bom tempo na gaveta. O governo alemão, por sua vez, tem boas razões para investir na questão. Afinal, além do fato de que as estruturas da ONU se encontram mesmo obsoletas, uma cadeira no Conselho de Segurança está intimamente ligada às doses de poder e influência dos países ali sentados.
O ministro do Exterior, Joschka Fischer, mostrou-se ávido em costurar alianças "pragmáticas" daqui e dali, inclusive com o Brasil. Frente às câmeras de tevê houve uma série de apertos de mãos entre o que até começou a ser chamado de "Clube dos 4". O perigo, alertam alguns, é o de que daqui a pouco comece a surgir uma série de clubes: dos quatro, cinco, seis, etc, etc, etc. "A discussão sobre a reforma está andando. É preciso se empenhar agora, para se obter sucesso. Mas nada vai ser fácil", admite o ministro.
Dificuldades de chegar a um consenso
Um excesso de candidatos a cadeiras permanentes seria, no entanto, uma perda de tempo. Pois, no fim, as mudanças só serão efetivadas se dois terços dos 191 países-membros da ONU derem seu aval. Além, claro, dos cinco países que já são membros permanentes do Conselho de Segurança – China, Rússia, Reino Unido, França e EUA. Todos com direito de veto e nenhum disposto a perder qualquer tipo de privilégio e poder.
Após os esforços do ministro, a questão continua em aberto: será possível chegar a um consenso a esse respeito? Pelo sim pelo não, Fischer continua em busca de apoio para suas propostas. Nesta sexta-feira (24), ele convidou todos os países insulares do mundo – entre eles a Indonésia – para um grande almoço na "Casa Alemã", em Nova York.
Afinal de contas, qualquer voto é útil na corrida pelos "dois terços" da ONU. "Não estou otimista nem pessimista, mas decidido a trabalhar junto com os funcionários do governo alemão, para que essa oportunidade possa ser aproveitada", afirmou Fischer. Se vai ser mesmo possível, só o tempo dirá.