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PolíticaArgentina

Ataque a Kirchner sacode polarizada política argentina

2 de setembro de 2022

Ex-presidente escapa de tentativa de assassinato no momento em que enfrenta um processo judicial por suposta corrupção e em meio a uma crescente tensão política.

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Pessoas com uma grande faixa com as cores da bandeira argentina diante de uma tropa de choque
Apoiadores se reuniram em torno da casa de Kirchner após ela ser acusada formalmente de corrupçãoFoto: Agustin Marcarian/REUTERS

A ex-presidente Cristina Kirchner escapou por pouco de um atentado com arma de fogo nesta quinta-feira (01/09) no momento em que enfrenta um processo judicial por suposta corrupção e em meio a crescente polarização política na Argentina.

"Cristina continua viva porque, por um motivo ainda não confirmado tecnicamente, a arma que tinha cinco balas não disparou apesar de ter sido acionada", revelou o presidente Alberto Fernández, que descreveu o incidente como "o mais grave" desde a restauração democrática de 1983.

Aos 69 anos, vice-presidente desde 2019 e duas vezes presidente entre 2007 e 2015, Kirchner é acusada de corrupção na concessão de licitações de obras públicas na província de Santa Cruz, seu berço político, localizado no sul do país.

Além de problemas na Justiça, a vice-presidente enfrenta uma crise em seu governo ao travar uma disputa por espaço com o presidente, argentino, Alberto Fernández. Em agosto, o governo argentino criou um "superministério" da Economia para tirar o país da crise financeira.

No último dia 22 de agosto, o promotor Diego Luciani pediu 12 anos de prisão para Cristina, que é acusada de chefiar um esquema de associação ilícita e fraude ao Estado quando era presidente da Argentina.

Manifestações contra e a favor

Desde então, grupos a favor e contra a ex-presidente têm se manifestado nas proximidades da residência de Cristina no bairro Recoleta. Um grupo de anti-kirchneristas se aproximou de sua casa para insultá-la e, pouco depois, apoiadores da vice-presidente foram até lá para expressar seu apoio e desde então mantêm uma vigília ininterrupta.

E entre aquela multidão que a esperava todas as noites em seu retorno para casa para pedir uma saudação ou um autógrafo, estava o agressor.

A tensão aumentou após a colocação de uma cerca ao redor da casa de Cristina e das acusações do partido governista em relação à repressão contra os manifestantes pelas forças do governo da cidade de Buenos Aires – opositor do Executivo argentino.

Em vez de tentarem acalmar os ânimos, os líderes políticos do governo e da oposição se envolveram em duras trocas de acusações desde então.

O ataque permite uma trégua frágil que não se sabe quanto tempo durará. Todos os partidos políticos repudiaram o ocorrido e líderes da oposição, como o ex-presidente Mauricio Macri e o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, manifestaram sua solidariedade à vice-presidente.

"Meu repúdio absoluto ao ataque sofrido por Cristina Kirchner, que felizmente não teve consequências para a vice-presidente. Este fato gravíssimo exige um esclarecimento imediato e profundo por parte da Justiça e das forças de segurança", tuitou Macri.

Deputados e senadores da base governista se manifestaram no Congresso Nacional contra o ataque. "Não a mataram porque Deus é grande", afirmou o senador governista José Mayans. O deputado governista Sergio Palacio pediu a investigação do caso

No entanto, Patricia Bullrich, representante da ala mais dura do macrismo, manteve a linha de confronto. "O presidente está brincando com fogo: em vez de investigar seriamente um incidente grave, ele acusa a oposição e a imprensa e decreta um feriado para mobilizar militantes. Converte um ato individual de violência em um movimento político. Lamentável", disse a ex-ministra da Segurança e atual presidente do Pro (Proposta Republicana), se referindo à decisão de Alberto Fernández, de decretar feriado nacional nesta sexta-feira.

Repercussão na América Latina

O incidente também ecoou na América Latina, com políticos da região condenando a tentativa de assassinato. 

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou no Twitter que "repudia veementemente esta ação que busca desestabilizar a paz do povo irmão argentino".

Na mesma rede social, o líder cubano Miguel Díaz-Canel escreveu: "De Cuba, consternado com a tentativa de assassinato de Cristina Kirchner. Transmitimos toda nossa solidariedade à vice-presidente, ao governo e ao povo argentino."

O presidente do Chile, Gabriel Boric, afirmou que a tentativa de assassinato merece todo o repúdio e a condenação de todo o continente. "Minha solidariedade a ela, ao governo e povo argentino. O caminho será sempre do debate de ideias e diálogo, nunca de armas ou violência", acrescentou.

O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, condenou o ataque e afirmou que "a direita criminosa e servil ao imperialismo não passará. O povo livre e digno da Argentina irá derrotá-lo".

Ao se pronunciar sobre o fato, o presidente Jair Bolsonaro lembrou a facada que sofreu durante a campanha eleitoral de 2018. 

"Eu lamento. Agora, quando eu levei a facada, teve gente que vibrou por aí. Lamento, já tem gente que quer botar na minha conta esse problema. E o agressor ali, ainda bem que não sabia mexer com arma. Se soubesse, teria sucesso no intento."

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula escreveu no Twitter: "Toda a minha solidariedade à companheira Cristina Kirchner, vítima de um fascista criminoso que não sabe respeitar divergências e a diversidade. A Cristina é uma mulher que merece o respeito de qualquer democrata no mundo. Graças a Deus ela escapou ilesa."

md/lf (AFP, EFE, ots)