Cerimônia com diplomatas na Arábia Saudita é alvo de ataque
11 de novembro de 2020Um ataque a bomba em uma cerimônia em homenagem aos soldados mortos na Primeira Guerra Mundial na cidade de Jidá, na Arábia Saudita, gerou uma grave ameaça a missões diplomáticas no local e deixou feridos nesta quarta-feira (11/11).
Diplomatas de vários países estavam no evento, realizado em um cemitério não muçulmano, celebrando o 102º aniversário do Dia do Armistício assinado pela Alemanha e pelos países aliados no final da Primeira Guerra.
O Ministério do Exterior da França confirmou que o evento contava com membros de várias embaixadas estrangeiras. O ataque é o segundo contra representações internacionais em Jidá em poucas semanas.
Segundo algumas autoridades no local, ao menos quatro pessoas ficaram feridas. Entre elas estão um policial grego que mora na Arábia Saudita, um cidadão britânico e um policial saudita, segundo informou a emissora estatal Ekhbariya, citando fontes do governo da região de Meca, onde se localiza Jidá.
"Os serviços de segurança lançarão uma investigação sobre a agressão ocorrida durante uma congregação de vários cônsules em Jidá", divulgou a emissora.
A explosão, ocorrida enquanto o cônsul francês discursava, gerou pânico, segundo testemunhas. As ruas que levam ao cemitério foram bloqueadas pela polícia.
"As embaixadas presentes na cerimônia condenam esse ataque covarde, completamente injustificado", disse a embaixada da França, em nota. "Pedimos às autoridades sauditas que esclareçam da melhor forma possível esse ataque, e identifiquem e busquem os perpetradores."
A representação francesa pediu aos seus cidadãos que vivem em solo saudita que exerçam vigilância máxima. A delegação da União Europeia agradeceu às equipes de emergência sauditas, mas exigiu uma investigação imediata e rigorosa.
O ataque ao cemitério não muçulmano ocorre pouco mais de um mês após um guarda do consulado francês em Jidá ser ferido a faca por um saudita.
Várias nações muçulmanas vivem uma onda de repúdio ao posicionamento do governo francês em defesa do secularismo e da liberdade de expressão, inclusive na polêmica em torno das caricaturas satíricas do profeta Maomé.
O presidente francês, Emmanuel Macron, vem fazendo uma forte defesa dos valores franceses, inclusive defendendo a publicação das caricaturas, que muitos consideram ofensivas, pelo jornal satírico Charlie Hebdo.
Os polêmicos cartuns foram mostrados pelo professor francês de história Samuel Paty em sala de aula, durante um debate sobre liberdade de expressão. Ele acabou sendo decapitado por um extremista islâmico em 16 de outubro, nas proximidades de Paris.
Protestos eclodiram em vários países muçulmanos após o posicionamento de Macron, com muitos exigindo boicotes a produtos franceses.
A Arábia Saudita, país que abriga os locais mais sagrados do islamismo, também criticou a França e disse rejeitar "quaisquer tentativas de associar o Islã ao terrorismo", mas não chegou a condenar o governo francês. Riad disse "condenar veementemente" o ataque terrorista em Nice, na França, no mês passado, que deixou três mortos.
Nesta terça-feira, Macron recebeu líderes europeus para uma conferência sobre como lidar com o combate ao terrorismo islâmico, após a morte de quatro pessoas em um ataque a tiros em Viena, na semana passada.
RC/rtr/afp