Ataque em Paris adiciona incerteza à eleição francesa
21 de abril de 2017Investigado como terrorista, o ataque na Champs-Élysées, em Paris, na noite desta quinta-feira (20/04) adicionou tensão ao já volátil cenário político francês, às vésperas do primeiro turno das eleições presidenciais, marcado para o domingo.
Os principais candidatos ao Palácio Bellevue cancelaram nesta sexta-feira (21/04) as atividades previstas para o último dia de campanha. E a segurança na capital francesa e em outros pontos sensíveis do país foi reforçada.
O ataque, realizado por um francês e reivindicado pelo grupo "Estado Islâmico" (EI), deixou um policial morto e três feridos. O agressor foi morto por forças de segurança logo após abrir fogo deliberadamente contra policiais na avenida mais famosa de Paris.
Apesar de pesquisas mostrarem os eleitores mais preocupados com desemprego e a situação econômica do país do que com terrorismo e segurança, analistas vinham alertando que isso poderia mudar em caso de um novo atentado.
Campanhas e a publicação de pesquisas de intenções de voto são proibidas da meia-noite desta sexta-feira até o fechamento das mesas de voto, no domingo à tarde, o que torna difícil prever o impacto real do incidente na campanha.
Mas o ataque, por si só, já coloca a segurança nacional no topo da agenda, e, segundo analistas, pode tornar o resultado do primeiro turno ainda mais imprevisível. Todos os quatro principais candidatos – Emmanuel Macron (24,5%), Marine Le Pen (23%), François Fillon (19%) e Jean-Luc Mélenchon (19%) – têm chances de ir ao segundo turno, segundo sondagem desta sexta-feira.
Le Pen capitaliza
Com pontos de vista mais duros sobre segurança e imigração, as posições de Len Pen e Fillon podem repercutir com maior força entre alguns eleitores. A candidata populista de direita se apressou para capitalizar politicamente o ataque, apelando para que o controle das fronteiras nacionais seja restabelecido imediatamente.
"A este governo efêmero, comandado pela inação, peço que ordene a restauração imediata de nossas fronteiras nacionais", declarou ao se referir ao presidente francês, François Hollande.
"A luta contra o terrorismo começa pela recuperação de nossas fronteiras nacionais e por acabar com a ingenuidade", ressaltou. Le Pen quer que estrangeiros fichados pelos serviços de inteligência por radicalismo sejam expulsos e que os que possuem dupla nacionalidade percam a cidadania francesa. Os que são franceses devem ser detidos por "adesão à ideologia do inimigo".
A presidente da Frente Nacional (FN) quer que organizações salafistas sejam proibidas na França e que imames que fazem discursos de ódio sejam expulsos. "O islamismo é uma ideologia hegemônica monstruosa que declarou guerra à nossa nação, à razão, à civilização", argumentou.
O ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, criticou Le Pen por explorar os recentes acontecimentos para dividir a população e angariar votos. Ele declarou que Le Pen "explora o medo sem nenhum pudor", ao ressaltar que as investigações não apontam nenhuma relação do incidente com a questão migratória.
Ele destacou que cerca de 80 mil pessoas foram impedidas de entrar na França em controles de fronteira e que 117 suspeitos de atividades terroristas foram deportados desde os ataques de Paris, em novembro de 2015.
Outros candidatos
O candidato centrista Emmanuel Macron apelou que os eleitores mantenham "a cabeça fria". À rádio RTL, ele disse que os agressores querem é "morte, simbolismo, espalhar o pânico e perturbar um processo democrático, que é a eleição presidencial".
O candidato, que disputa a liderança nas pesquisas de opinião com Le Pen, disse que não sabe se o ataque terá impacto sobre o resultado do primeiro turno. Macron afirmou que Le Pen mente ao dizer que ataques não teriam acontecido caso ela fosse presidente. "Ela não será capaz de proteger os nossos cidadãos", considerou.
O conservador François Fillon sublinhou que "a luta contra o terrorismo deve ser a prioridade absoluta do próximo presidente da República". O candidato que era favorito, mas caiu nas pesquisas depois de escândalos de corrupção lembrou das propostas de campanha para promover uma "mobilização mundial contra o totalitarismo islâmico" e impedir o regresso de cidadãos franceses que vão combater na Síria e Iraque.
O candidato da esquerda, Jean-Luc Mélenchon, garantiu que "os criminosos não ficarão impunes" na França. Mélenchon pediu que a população não ceda ao pânico e que o "processo democrático" das eleições não seja interrompido.
Pelo Twitter, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que o ataque terá um grande impacto nas eleições francesas do próximo domingo.
"Outro ataque terrorista em Paris. A população francesa não vai aguentar isso por muito tempo. Haverá um grande efeito na eleição presidencial", escreveu.
Investigações
O atirador francês que realizou o ataque na noite desta quinta-feira já tinha sido condenado a 15 anos de prisão em 2005 por ferir a tiros dois policiais em diferentes ocasiões.
Em 2001, ele atirou contra um policial depois de se envolver num acidente de trânsito. Dias depois, quando já estava na prisão, voltou a ferir um agente ao roubar a arma do policiol quando foi tirado da cela.
Em fevereiro deste ano, ele foi detido por supostas ameaças contra forças de segurança, mas foi liberado por falta de provas.
No carro dele, a polícia encontrou um fuzil, duas facas, um secador, um exemplar do Corão e anotações com vários endereços de delegacias de polícia.
A imprensa francesa divulgou que o agressor é Karim Cheurfi, nascido em 1977 em Livry Gargan, ao norte de Paris. Ele tinha deixado a prisão em 2015. O jornal "Le Monde" informou que investigadores encontraram "elementos de radicalização" na casa do agressor.
Um segundo suspeito de envolvimento no ataque se entregou à polícia belga, na cidade de Antuérpia. Em comunicado, o EI divulgou que o autor do tiroteio foi o belga Abu Yussef, "um dos combatentes do Estado Islâmico", mas a polícia francesa não confirmou a informação.
KG/efe/rtr/lusa