Atari Teenage Riot volta ao Brasil para provar que não vive do passado
15 de junho de 2012Para algumas bandas, voltar à ativa pode ser um negócio lucrativo. O mercado alimenta gerações saudosas por aquela sensação de juventude embalada pela trilha sonora ideal, que reaviva sonhos e esperanças de anos passados.
No entanto, é muito fácil torcer o nariz para a volta do Atari Teenage Riot. Uma banda, ainda jovem no nome, que promovia a revolução e a ação, não só em sua mensagem – sempre política – mas também na mistura única e barulhenta entre música eletrônica e punk. Em tempos pouco utópicos, o que pode ser dito de uma banda que pregava da forma mais visceral e direta a revolução e o anarquismo?
Volta acidental
O Atari Teenage Riot (ATR) acabou de maneira dramática, com a vocalista Hanin Elias deixando a banda horas antes de um show, no final de 1999, e o suicídio de Carl Crack, em 2001. No entanto, foi a própria Elias quem se aproximou, em 2009, do líder e vocalista da banda, Alec Empire, sugerindo que o grupo voltasse para um único show em Londres.
"Decidimos fazer o show. Quando anunciamos, percebemos certo cinismo nas pessoas. Entendo, eu teria a mesma reação. Não senti nenhuma pressão. Pensei que esse show seria uma boa maneira de refletir sobre o período da banda", declarou Empire em conversa com a DW Brasil.
Eles então decidiram gravar uma faixa e disponibilizá-la gratuitamente para os fãs na internet. Como uma volta ao passado, os dramas voltaram à rotina do Atari Teenage Riot. "Hanin percebeu que não conseguia cantar como antes. Estávamos com um novo MC [mestre de cerimônias] e queríamos fazer algo diferente, mas isso pesou para ela. Prefiro a confrontação a ter que reviver um passado que não existe mais", disse o vocalista.
A volta da banda aconteceu de maneira clássica, como um bom show do ATR nos anos 1990. Hanin não apareceu para o show em Londres, cujos ingressos estavam esgotados. A banda fez como fazia antes, Nicki cantou as partes de Hanin e o publico foi ao delírio.
O que mais impressionou Empire foi o público, formado 90% por jovens que nunca haviam estado num show do Atari Teenage Riot. "Fiquei surpreso, mas depois entendi que bandas novas como Crystal Castles e M.I.A mencionam o ATR como referência e com a internet é muito fácil entrar em contato com todo o tipo de música", completou.
Nova energia
A repercussão foi tão positiva que a banda marcou outros shows pela Europa. Para a primeira apresentação em sua cidade natal, eles escolheram o Berlin Festival, que acontece no antigo aeroporto de Tempelhof, lugar onde a banda embarcou para seus shows no Brasil em 1998.
"Acho que foi a época certa para acontecer e funcionou. Os conservadores de volta ao poder, não só no Reino Unido, mas em diversos países da Europa. A banda tomou uma decisão espontânea de continuar, e ver aonde tudo aquilo ia dar", disse Empire.
Uma força imprescindível não só para a relevância política e cultural da banda, mas também para impulsionar as apresentações ao vivo. "As pessoas estavam interessadas e fomos atrás dessa energia. Dai começaram os questionamentos se o ATR era capaz de fazer outro álbum, já que diversas bandas que voltaram a fazer shows não conseguem superar o passado de maneira digna ou simplesmente nem tentam", declarou Empire.
Depois da provocação de um jornalista de uma revista inglesa, Empire encontrou o produtor Steve Aoki num festival no Japão, que convenceu a banda a voltar ao estúdio. "Tem muita coisa acontecendo com o ativismo hacker e o Wikileaks, achei que tinha muito a ser dito. Se tivesse que repetir só o que dizia nos anos 1990, não funcionaria", completou. Assim nasceu Is this hyperreal? – disco lançado no ano passado que, com temas atuais, encontra o ponto de equilíbrio entre o passado do Atari Teenage Riot e uma produção mais experiente e madura.
Política e ação
Alguns temas abordados pela banda no passado continuam relevantes, como no álbum The Future of War de 1997. "O disco foi todo feito em cima da relação de como a política e as grandes corporações lucram com a guerra. Isso é exatamente o que acontece hoje. Acho válido retomar temas que ainda são relevantes", disse Empire.
O disco é um dos mais polêmicos da carreira da banda e até hoje continua proibido na Alemanha. A frase "I have a fear of a white planet" (tenho medo de um planeta branco) foi considerada racista. Ele não pode ser vendido ou tocado publicamente no país.
"Espere o inesperado"
"Hoje em dia as pessoas nem precisam cometer um crime para serem presas, é só demonstrar qualquer intenção no Facebook", disse o vocalista à DW Brasil.
Para Empire, uma das grandes lutas dos próximos anos será como driblar a constante vigilância de governos e corporações, que têm acesso quase completo a todas as nossas informações e ações, principalmente através da internet. A banda, que está no estúdio preparando um novo álbum, quer deixar alta a expectativa dos brasileiros.
"Se o publico brasileiro for tão cheio de energia como eu me lembro, vocês podem esperar o inesperado. O Atari Teeenage Riot ainda tem a mesma essência, queremos ação e trazer mudanças para o que não funciona mais", concluiu o vocalista.
A revolução do Atari Teenage Riot trará seu hardcore digital e muita energia numa única apresentação no Brasil, nesta sexta-feira (15/06), no Cine Jóia em São Paulo.
Autor: Marco Sanchez
Revisão: Carlos Albuquerque