Imagens sem respostas
13 de março de 2009Por que deu a louca no Senhor R.? foi a pergunta de que partiram os cineastas Rainer Werner Fassbinder e Michael Fengler, em 1970, para rodar um longa-metragem, no qual descrevem a vida desolada e monótona do funcionário R..
Este tenta, em determinados momento de sua vida, minimizar as frustrações acumuladas através de um ato de extrema brutalidade. Nem os colegas de escritório de R. conseguem, até o fim do filme, encontrar uma resposta satisfatória para os motivos que, na verdade, levaram R. a fazer uso de meios tão drásticos, ao matar a mulher e o filho.
O assunto que envolve atiradores que matam sem motivo aparente vem sendo tratado, principalmente desde o fim da década de 1960, por vários cineastas. Peter Bogdanovich centrou, em 1968, seu Na mira da morte no personagem Bobby, um jovem norte-americano comum. Mesmo que as razões para os tiros intencionalmente fatais nunca fiquem claras, alguns poucos motivos são aventados no filme. O mais importante deles: Bobby é incapaz de dividir suas frustrações e medos com as pessoas que o cercam.
Incapacidade de comunicação
Essa falta de capacidade de se comunicar também aparece no mais conhecido filme sobre a vida de um atirador. Travis Bickle, o "herói" de Taxi driver (1976), dirigido por Martin Scorsese, é, acima de tudo, um homem que vive isolado, tendo poucos contatos reais com o mundo que o cerca.
Em 1982, o diretor Joel Schumacher facilitou a compreensão do espectador em relação às razões de seu personagem em Um dia de fúria, no qual o protagonista William Foster (Michael Douglas) é cercado por inúmeros problemas: Foster perdeu o emprego, separou-se da mulher por vontade da mesma e não pode mais ver a filha. Num determinado momento, ele se desespera e, de posse de uma arma, atira sem controle para todos os lados.
Já o jovem casal Mallory e Mickey sai deliberadamente para uma caçada humana, no controverso Assassinos por natureza, dirigido por Oliver Stone. Aqui, a raiva e a frustração são justificadas pelos sofrimentos a que os personagens foram submetidos no passado. Stone elucida também no filme o papel da mídia. Segundo o cineasta, com sua ânsia de apresentar imagens espetaculares, ela se faz corresponsável pelo comportamento brutal dos dois jovens.
Cotidiano escolar nos EUA e na Alemanha
Já o diretor Gus van Sant inspirou-se concretamente num caso real para fazer Elefante. O massacre causado por um estudante em Littleton, na Columbine High School, serviu de ponto de partida para o diretor. Há de se notar que Van Sant evita qualquer tipo de psicologização. O espectador é abandonado com o que vê, podendo somente observar o que aconteceu num determinado dia na escola.
Apenas no fim do filme é que Van Sant dá pistas a respeito de possíveis razões para o massacre dos estudantes: videogames brutais e clips de teor nazista determinavam o dia-a-dia dos futuros assassinos. A total recusa de colocar os personagens num contexto psicológico levou a reações as mais diversas. No Festival de Cinema de Cannes de 2003, contudo, Elefante ganhou a Palma de Ouro.
Outros dois diretores alemães também trataram do assunto em filmes recentes. Detlef Muckel apresentou no último ano seu documentário Amok (Massacre), que desde então já foi exibido em algumas escolas do país. Muckel tenta investigar o que pensa um atirador e quais as razões que ele pode ter para desenvolver tal ideia. O filme é composto de cenas de ficção, entrevistas e imagens documentais, reunidas a fim de manter a atenção do espectador.
Sem explicações claras
O jovem diretor Thomas Sieben, que estreou na direção com Distanz (Distância), exibido na seção Perspectivas do Cinema Alemão no último Festival de Berlim, renuncia, assim como Gus van Sant, à psicologia em seu filme. Sieben mostra o dia-a-dia do jardineiro Daniel, um jovem quieto e retirado, que repetidamente faz uso de violência gratuita. Às vezes joga paralelepípedos do alto de uma ponte sobre uma rodovia, às vezes atira com uma espingarda de caça roubada nos que correm pelo parque.
O espectador não sabe nada sobre o passado de Daniel, sobre as possíveis razões que levam este homem – na realidade simpático – a atos de tamanha violência. O espectador não recebe nenhuma explicação psicológica para o ocorrido, num filme que transtorna e certamente deixa muita gente atônita ao sair da sala de cinema.
Afinal, os cineastas também não encontram em seus roteiros explicações plausíveis para a violência cometida pelos atiradores. Gus van Sant remete no título de seu filme Elefante a uma parábola budista, na qual cinco cegos examinam um elefante, chegando a cinco conclusões diferentes. O que o diretor quis dizer com isso: quem estiver procurando por uma única explicação convincente para as explosões de violência de um atirador, está fadado ao fracasso, por excluir as outras quatro explicações.
Autor: Jochen Kürten
Revisão: Augusto Valente