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Ativismo de artistas brasileiros chama atenção fora do Brasil

15 de fevereiro de 2012

Eles são contra a construção da usina de Belo Monte, fizeram sucesso na internet e foram recebidos por ministros. Causa que reuniu nomes famosos da televisão chama a atenção fora do Brasil.

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Maitê Proença na gravação do vídeoFoto: Luciana Azambuja

O vídeo é descomplicado, sem ataques diretos, interpela o espectador com perguntas como "O que eu tenho a ver com isso?" e "Índio!? Ainda tem índio?". O script concebido pelo Movimento Gota D'Água e interpretado por artistas famosos no Brasil causou uma mobilização respeitável no mundo online.

O email assinado pelos organizadores da campanha circulou pelo mundo: internautas dos Estados Unidos, Japão, Congo, Austrália, Holanda e outros 14 países assinaram a petição que pedia a paralisação das obras da usina hidrelétrica de Belo Monte. Em uma semana, foram reunidas um milhão de assinaturas.

O movimento que pede o engajamento dos brasileiros na discussão energética nacional deixa de acontecer, aos poucos, exclusivamente no mundo virtual e ganha palco também no cenário internacional. Depoimentos dos idealizadores estão no documentário Count-Down no Xingu 2, do diretor alemão Martin Kessker, que será exibido em Berlim. E o vídeo na íntegra, que já ganhou versão com legendas em inglês, também será apresentado na íntegra nesta quinta-feira (16/02) na capital alemã.

"É muito importante o apoio de países como a Alemanha, que têm esse pensamento de desenvolvimento sustentável já tão aprimorado. É importante que a gente consiga fazer com que nosso governo escute, observe e inclusive troque informações com o governo alemão. A política energética da Alemanha hoje em dia é uma revolução", comentou Maria Paula Fernandes, uma das líderes do Gota D'Água, em conversa com a DW Brasil.

Brasil, Soziale Bewegung Movimento Gota D'Água
Kessler entrevista articuladores do movimentoFoto: Luciana Azambuja

"Um movimento de artistas"

A ideia da mobilização online partiu do ator Sergio Marone. O estalo veio durante a leitura da Carta do Cacique Seattle, de 1855. "Ele escreveu essa carta quando o presidente dos Estados Unidos disse que queria comprar as terras dos índios para construir a capital do país. A carta é poética, de uma sabedoria e simplicidade que me impressionou. Foi quando percebi que os índios brasileiros também estavam gritando contra a construção de Belo Monte, e não estavam sendo ouvidos", contou à DW Brasil.

O roteiro do vídeo foi escrito após consultas ao Movimento Xingu Vivo para Sempre, que reúne lideranças indígenas – os idealizadores do Gota D'água precisaram conquistar a confiança desses movimentos de base: "Até então, eles achavam que éramos um movimento de artistas, no bom e no mau sentido", lembra Fernandes.

No filme de cinco minutos, nomes famosos da história da telenovela brasileira apelam para que a presidente Dilma Rousseff interrompa a construção da usina. "Os atores sabiam da polêmica de Belo Monte, mas tinham medo de se meter com uma coisa que não conheciam direito. Nosso desafio foi traduzir toda aquela trama de interesse e fragilidade da região. Na hora que os artistas convidados leram (o script), ninguém titubeou", contou Fernandes.

Pressão e Rio+20

"É fundamental que a gente leve para o mundo o que está acontecendo no Brasil, ironicamente, no momento em que acontece a maior conferência de sustentabilidade do planeta", falou Sérgio Marone sobre a importância de internacionalizar a discussão. "A gente está recebendo o maior encontro de desenvolvimento sustentável e tem como o maior celeuma a maior obra já feita na maior floresta do mundo. É uma coisa que comove o mundo", completou Fernandes.

O grupo teve a chance de apresentar pessoalmente em Brasília o abaixo-assinado online contra Belo Monte. No fim de dezembro, eles foram recebidos pelo ministros Edison Lobão (Minas e Energia), Izabela Teixeira (Meio Ambiente) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência da República).Na época, outros ministérios criticaram o vídeo da campanha veiculado em redes sociais, dizendo que "assuntos preparados de forma leviana, muitas vezes levados como verdade, não coincidem com que os técnicos dizem", afirmou o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann.

Ainda assim, o Gota D'Água continua promovendo palestras, aceitando convites de prefeituras, escolas e entidades de todo o país que pedem apoio na discussão sobre o tema. "Só por isso já valeu, o movimento já cumpriu seu papel", avalia Fernandes. Ela revela a sua convicção: "A gente ainda tem esperança de parar a obra de Belo Monte. Com certeza, a gente só vai conseguir parar se a gente tiver apoio e pressão internacional."

Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer