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Ativistas relatam dezenas de mortes em protestos no Irã

22 de setembro de 2022

Manifestações contra morte de jovem que se recusou a usar o véu islâmico são fortemente reprimidas pelas forças de segurança. Entidades denunciam que número de vítimas é quase o dobro do anunciado pelas autoridades.

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Protesto em avenida Teerã contra morte de Mahsa Amini, muitas pessoas e automóveis e ao fundo, um veículo incendiado
Protesto em Teerã contra morte de Mahsa AminiFoto: AP/dpa

Ao menos 17 pessoas morreram nos protestos que eclodiram no Irã após a morte de Mahsa Amini, uma jovem curda que estava sob custódia da polícia da moral iraniana. Organizações de direitos humanos denunciam a violência policial e afirmam que o número de mortes nos distúrbios seria de quase o dobro desse total.

Na maior onda de protestos no país nos últimos três anos, iranianas queimaram véus islâmicos e cortaram seus cabelos em desafio ao rígido código de conduta imposto pelas autoridades.

Segundo a imprensa local, o número oficial de mortos aumentou para 17, incluindo cinco membros das forças de segurança. Mas, segundo a ONG Direitos Humanos no Irã, uma entidade com sede em Oslo, na Noruega, ao menos 31 civis morreram durante os protestos.

O diretor da ONG, Mahmood Amiry-Moghaddam, disse que os iranianos saíram às ruas "em busca de seus direitos fundamentais e dignidade humana, enquanto o governo reage com tiros aos protestos pacíficos".

A Anistia Internacional e outras entidades denunciam que as forças de segurança abriram fogo contra os manifestantes utilizando armas de pressão, além de canhões de água e gás lacrimogêneo.

Os manifestantes reagiram com pedras e atearam fogo a viaturas policiais. Imagens inéditas mostravam pessoas desfigurando ou queimando retratos do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, e do antigo líder da Guarda Revolucionária iraniana Qassim Soleimani.

Aumentaram os temores quanto ao agravamento da violência após o governo iraniano restringir o acesso à internet e bloquear aplicativos como Whatsapp ou Instagram, algo que já havia sido feito em protestos anteriores.

Símbolo de resistência feminina

Mahsa Amini, da pequena cidade de Saghes, na província ocidental do Curdistão, havia viajado para Teerã com seu irmão no início da semana passada para visitar pontos turísticos da capital.

Retrato da jovem Mahsa Amini aparece em capa de jornal iraniano
Mahsa Amini foi transformada em símbolo da luta pelos direitos das mulheres no Irã Foto: Majid Asgaripour/REUTERS

Por supostamente não usar o véu islâmico obrigatório sobre a cabeça, Amini foi presa pela polícia da moral iraniana na terça-feira passada. Ativistas denunciam que ela sofreu um golpe fatal na cabeça, o que foi negado pelos policiais, que anunciaram a abertura de uma investigação sobre a morte da jovem.

Duas horas depois de ser presa, Amini foi levada a um hospital já sem vida. A polícia alega que a jovem desmaiou abruptamente.

Uma foto a mostra deitada, com os olhos negros inchados e a orelha sangrando. A imagem se espalhou rapidamente na internet, desencadeando os protestos contra a humilhação diária e o abuso sofrido por mulheres iranianas devido ao uso obrigatório do hijab.

O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos incluiu a polícia da moral iraniana em sua lista de sanções e a responsabilizou pela morte de Amini, ressaltando os "abusos e violência contra as mulheres iranianas e a violação dos direitos dos manifestantes pacíficos".

"Atos caóticos inaceitáveis"

O presidente iraniano, o ultraconservador Ebrahim Raisi, afirmou durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, que a liberdade de expressão existe em seu país, mas que estes protestos são "atos caóticos inaceitáveis". Ele disse que ordenou um inquérito sobre a morte da jovem.

O Ministério da Inteligência do Irã alertou que a participação nos protestos será considerada ilegal, e advertiu que os manifestantes serão processados na Justiça.

"Tendo em vista a exploração dos incidentes recentes pelos movimentos contrarrevolucionários, qualquer presença ou participação nessas reuniões ilegais resultará em processo judicial", afirmou o órgão em nota.

rc (AFP, Reuters)