Atos espontâneos e apelos à conciliação marcam visita do papa à Terra Santa
27 de maio de 2014A viagem do papa Francisco ao Oriente Médio será lembrada por imagens marcantes e gestos espontâneos. Por pouco mais de 72 horas, o pontífice visitou a Jordânia, os territórios palestinos e Israel. O diálogo entre as religiões, especialmente com os judeus e muçulmanos, foi o tema principal da última parte de sua jornada, em Jerusalém. Não por acaso Francisco viajou com dois antigos amigos de Buenos Aires, o rabino Abraham Skorka e o imã Omar Abboud.
O papa encontrou o tom certo para conduzir sua difícil jornada por um minado campo político, onde cada gesto e palavra são observados com extrema atenção. Com seus atos espontâneos, ele transformou uma viagem minuciosamente planejada em algo menos convencional.
Foi assim também em Jerusalém, porém Francisco não escapou de decepcionar alguns. A movimentada Cidade Velha, da Porta de Jafa até os sítios cristãos, foi temporariamente fechada. "Queríamos ter dito 'oi' para ele", disse um jovem palestino, que vive na Cidade Velha. "Mas não nos deixaram nem chegar perto."
Cerca de oito mil soldados das forças de segurança israelenses foram responsáveis para que o programa de viagem do papa acontecesse sem problemas. Pichações anticristãs haviam sido feitas em diversos locais cristãos da cidade, e havia um temor de ações por parte de extremistas judeus.
No entanto, o fechamento de Jerusalém foi um banho de água fria para muitos turistas. "Queria ver o Muro das Lamentações, mas não deu certo. É uma pena", disse Ann Campell, de Tel Aviv. "Consegui vê-lo apenas pela TV, e ele me impressionou como um homem humilde, que quer a paz entre as pessoas."
Gestos espontâneos
Uma das imagens mais fortes da viagem do papa foi sua visita ao Muro das Lamentações. No local, ele orou silenciosamente por alguns momentos, com a cabeça inclinada e as mãos sobre as pedras. E sempre ao lado dos seus dois companheiros de viagem: o rabino e o imã, num gesto simbólico em prol do entendimento interreligioso.
No início da manhã, ele se encontrou com o mufti (autoridade religiosa muçulmana) de Jerusalém Mohammed Hussein e outros estudiosos no Haram al-Sharif, o Monte do Templo, local sagrado para muçulmanos e judeus. Ali, ele advertiu que ninguém deve usar o "nome de Deus para violência".
A pedido do premiê Benjamin Netanyahu, em outro gesto não programado, Francisco passou também pelo Memorial às Vítimas do Terror de Israel. “Rezo por todas as vítimas do terrorismo. Por favor, chega de terrorismo”, disse ele no memorial, onde estão gravados nomes de civis israelenses mortos em atentados.
Discurso convincente
Em breve, o papa deverá receber convidados do Oriente Médio em casa. No sábado, ele convidou os presidentes de Israel, Shimon Peres, e da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, para uma oração pela paz em Roma.
O encontro deve acontecer em junho. O ato é simbólico - no mês que vem se realizam as eleições para presidente em Israel, e Peres, com 90 anos, não participará. Ainda assim, o encontro é um sinal em prol do diálogo.
"Essa iniciativa de paz foi certamente uma das surpresas da viagem e também um sinal que o papa foi mais político do que se pensava", disse o padre alemão Pater Nikodemus, da Abadia Dormitio, em Jerusalém.
Uma iniciativa que colocou, segundo Nikodemus, um dos pontos principais da viagem papal em segundo plano: o encontro com o líder da Igreja Ortodoxa e outros líderes religiosos na Basílica do Santo Sepulcro – 50 anos após o primeiro encontro histórico entre o papa Paulo 6º e Atenágoras 1º de Constantinopla.