Autores de Israel e Palestina confraternizam em solo alemão
10 de novembro de 2004A literatura é um remédio contra o mutismo para gente que normalmente não conversa entre si. Exatamente isso é o que demonstra o sétimo encontro de autores alemães, palestinos e israelenses, promovido pela Central Estadual de Educação Política (LpB) da Renânia-Palatinado entre 7 e 10 de novembro de 2004 na cidade de Landau.
Sob o slogan "Diminuir o desentendimento – Escrevendo em tempos violentos", poetas e romancistas lêem suas obras e as discutem. Mesmo quando os textos citados não tratam diretamente do conflito no Oriente Médio, a literatura é o veículo com que falam de problemas sociais.
Vizinhos desconhecidos
Nos eventos passados, muitos dos literatos israelenses e palestinos estavam tendo o primeiro contato de suas vidas com "o outro lado", explica o organizador Hans-Georg Meyer, da LpB.
Em 1994, por exemplo, a autora israelense Ruth Almog pôde falar pela primeira vez com um palestino e dar-lhe a mão. Segundo Meyer, Almog declarou na época que "ainda não entendia bem, precisava primeiro se conciliar com a idéia, o que só ocorreria quando estivesse de volta à casa". Atualmente ela é uma presença marcante nos encontros.
Contudo, ainda que os autores conversem entre si em Landau, a possibilidade de contatos pessoais na região natal é praticamente nula. Boa parte dos escritores palestinos não tem permissão de entrar em Israel, e os israelenses não estariam seguros nos territórios autônomos.
A vantagem de um terreno neutro
Os escritores fazem parte de duas sociedades diferentes, que existem paralelamente. As reuniões na Alemanha não alteram muito este fato, reconhece Meyer. Porém, um pouco se conseguiu, sublinha: "Que eles às vezes se telefonem, se encontrem no estrangeiro, e que se alegrem de estar de volta à Alemanha e de fazer um intercâmbio".
Muitos já são participantes fiéis, que estão sempre trazendo novos colegas. A Alemanha é o solo neutro, onde os literatos podem se encarar de igual para igual. Dois encontros em Israel e na Cisjordânia fracassaram pelo fato de um grupo sentir-se em posição inferior ao outro.
Ao mesmo tempo, os colegas alemães agem como mediadores, em casos de conflito, o que foi necessário sobretudo nos primeiros eventos. Devido à presença da imprensa, por vezes as discussões se transformaram em declarações de conflito. "Cada um se sentia no dever de defender a própria nação", relata Meyer, "a crítica de um levava logo ao protesto do outro". Mas agora "tudo isso se relativizou e aplacou um pouco".
Pequenos progressos
O sucesso do encontro de autores se demonstra sobretudo no aspecto literário. Por exemplo, quando um escritor palestino traduz um texto de um colega israelense, conquistando assim o interesse do público palestino para as intenções do autor. As reuniões também provocaram em alguns literatos mudanças radicais na escolha dos temas.
Para o organizador da Central Estadual de Educação Política, este é um claro progresso. Quando alguém afirma "'o que o governo X ou Y faz em meu país é errado', ou 'os direitos humanos dos palestinos são violados por meu governo', considero isso um grande êxito", declara Hans-Georg Meyer.