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Avanço do Boko Haram aterroriza milhares de nigerianos

Hilke Fischer (rc) 10 de setembro de 2014

Se ocuparem Maiduguri, extremistas darão passo importante para a criação de um Estado islâmico no norte da Nigéria. Exército do país é inapto para conter os radicais, e milhares de moradores estão em fuga.

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Foto: picture alliance/AP Photo

Acordado durante a noite, ele ouve tiros à distância. "Ninguém consegue mais dormir", conta um ouvinte da DW da cidade de Maiduguri. A capital do estado de Borno, localizado no nordeste da Nigéria, possui mais de um milhão de habitantes. O ouvinte prefere ficar no anonimato, por medo da milícia islâmica Boko Haram, que se aproxima cada dia mais de Maiduguri.

Gwoza, Bama, Gulak, Michika, Duhu, Shuwa, Kirshinga – os extremistas conquistam, quase que diariamente, uma nova cidade. Eles chegam em veículos roubados do Exército, espantam as tropas nigerianas e aterrorizam os moradores.

"Os guerrilheiros do Boko Haram matam e estupram. Eles também levam embora as mulheres mais jovens e deixam um rastro de cadáveres", descreve o senador Ahmed Zanna. Essa é também a situação da cidade que ele representa no Senado nigeriano, Bama, que fica a 70 quilômetros de Maiduguri e foi tomada pelos islamistas dias atrás.

Zanna conta ainda que os soldados que deveriam libertar Bama se recusaram a avançar. "Eles estavam mal equipados e decidiram ficar em Konduga", explica o senador. Em Konduga, localizada a apenas 40 quilômetros de Maiduguri, já teriam tido confrontos com o Boko Haram, no último fim de semana.

A caminho de Maiduguri

A ocupação de Maiduguri seria de suma importância para o principal objetivo do Boko Haram: a criação de um Estado islâmico no norte da Nigéria. "Mesmo uma conquista rápida da capital de Borno seria uma vitória simbólica significativa", afirma o consultor sul-africano em segurança Ryan Cummings.

Nigeria Soldaten
Mal equipados e sem moral, soldados nigerianos estão evitando entrar em combate com o Boko HaramFoto: -/AFP/Getty Images

Também o especialista do Internacional Crisis Group (ICG), o nigeriano Nnamdi Obasi, salienta que a posse da cidade daria um grande impulso aos extremistas. Com Maiduguri, os islamistas não teriam apenas o controle sobre uma das maiores cidades do país, mas também o de um aeroporto internacional.

E o Exército nigeriano? A moral das tropas do governo anda em baixa, e seus equipamentos são piores do que os dos terroristas. "Um oficial contou que ele nada pode fazer contra o Boko Haram. O grupo miliciano possui metralhadoras automáticas e o Exército fuzis AK-47", reporta o correpondente da DW Sheriff Alhassan.

Alhassan é um dos poucos repórteres que ainda ousam se aventurar nas áreas de conflito. Ele se encontra na cidade de Mubi, no estado de Adamawa, que também corre risco de cair nas mãos dos islamistas. "Nós todos estamos com medo", conta um dos moradores. "Os soldados entram em nossas casas, tiram seus uniformes e vestem roupas civis. Se os militares já estão abandonando a luta, então nós teremos nenhuma chance."

Dezenas de milhares em fuga

Milhares de pessoas fogem das áreas de conflito em direção à Yola, capital do estado de Adamawa. Lá, moradores abrigam os fugitivos, que chegam a dividir um quarto com mais de dez pessoas.

"Não sobrou ninguém na nossa cidade. Todos fugiram", diz uma refugiada à DW. "Os terroristas chegaram à cidade e matam as pessoas. Acabei de receber uma ligação telefônica, dizendo que bombas estavam sendo lançadas em minha cidade natal." Em Yola, ela agora necessita de ajuda. "Precisamos de comida para nós, para as crianças e para os parentes que vieram com a gente."

Em Maiduguri, a 400 quilômetros ao norte de Yola, muitos moradores já estão arrumando suas coisas. "As pessoas estão assustadas. Muitos já deixaram a cidade", conta uma mulher, que também preferiu não ter seu nome divulgado. "Nós, que aqui ficamos, esperamos que Deus nos ajude."

Já outros moradores de Maiduguri estão decididos a combater o Boko Haram, mesmo que armados apenas com pedaços de pau. Milhares de jovens exigem do governo que, como parte de uma espécie de exército civil, eles possam apoiar os soldados na defesa da cidade.

Straßenszene in Maiduguri
Em Maiduguri, população forma tropas civis para apoiar Exército da Nigéria a defender a cidadeFoto: picture-alliance/AP Photo

"Há soldados na cidade, mas eles não têm armamento pesado", relata o ouvinte da DW. Até mesmo o senador Ahmed Zanna é cético que o Exército possa defender Maiduguri. "Se uma cidade como Bama, que tinha mais de mil soldados, caiu em três, quatro horas, então a preocupação que eles agora estão visando Maiduguri é grande", afirma o senador.

Enquanto isso, fontes militares anunciaram que Bama estaria novamente sob controle das Forças Armadas, e que Maiduguri estaria segura. Porém, ainda não há relatos independentes que confirmassem essas informações. Assim, dormir com tranquilidade ainda é algo distante para os cidadãos nigerianos.