Avanço de rebeldes na Síria é ameaça existencial para o Irã
7 de dezembro de 2024Depois de Aleppo e de Hama, os rebeldes sírios estão avançando rumo a Homs, a terceira maior cidade da Síria. O objetivo declarado deles é a derrubada do governo do presidente Bashar al-Assad, como reiterou o líder rebelde Abu Mohammed al-Jolani numa entrevista à emissora americana CNN. "Esse regime está morto", disse.
Nesta sexta-feira (06/12), o Irã, um forte aliado do regime de Assad, prometeu entregar mais mísseis e drones. Também o número de conselheiros militares será aumentado, segundo um representante iraniano de alto escalão. O Irã está atualmente fornecendo à Síria apoio de inteligência e dados de satélite.
A milícia libanesa Hezbollah, que é apoiada pelo Irã, também reagiu. De acordo com os círculos de segurança libaneses, ela enviou combatentes a Homs na noite de quinta-feira. O líder do grupo xiita, Naim Qassem, garantiu que o Hezbollah estará ao lado do regime da Síria para frustrar os objetivos da ofensiva insurgente.
É provável que Assad cause novos estragos entre os rebeldes com o apoio de forças ligadas ao Irã e dos ataques aéreos russos, de acordo com um estudo do think-tank European Council on Foreign Relations no início de dezembro. "Essa é uma perspectiva sombria. A crise humanitária na Síria e a instabilidade regional vão piorar."
EUA e Israel querem Irã fora da Síria
O avanço dos insurgentes na Síria também tornou mais improvável o sucesso de negociações secretas de bastidores, conduzidas pelos Estados Unidos e países do Golfo, para tentar fazer Assad abandonar sua parceria estratégica com o Irã, de acordo com o jornal The New York Times. Washington teria oferecido a retirada das tropas americanas restantes no nordeste da Síria e a flexibilização das sanções em troca do fim da presença do Irã no país. Essa tentativa ocorreu em paralelo aos ataques aéreos israelenses na Síria.
O Irã e sua Guarda Revolucionária lutaram ao lado do regime de Assad na guerra civil contra os insurgentes. A Rússia e o Hezbollah, que é apoiado pelo Irã, também estão entre os aliados da Síria. O Irã tem, portanto, uma forte influência no regime em Damasco.
É exatamente essa presença estratégica que Israel não deseja, de acordo com um estudo da ONG International Crisis Group (ICG), voltada à prevenção e resolução de conflitos armados. O principal interesse de Israel na Síria é impedir uma presença militar estratégica iraniana no país, incluindo o desenvolvimento de uma infraestrutura militar e o treinamento de milícias locais. Na análise do ICG, há o risco de que o agravamento da situação possa levar a uma guerra aberta entre Israel e o Irã, a qual poderia se espalhar para o Líbano.
A importância da Síria para o Irã
"A Síria é uma parte muito importante da estratégia de segurança regional do Irã. O regime em Teerã quer construir um grupo de aliados próximos no chamado Crescente Xiita", diz o especialista em Oriente Médio Marcus Schneider, da Fundação Friedrich Ebert, que é ligada ao partido social-democrata alemão SPD. "Durante décadas, a Síria foi o único país aliado próximo do Irã, apesar das diferenças ideológicas." A Síria é considerada secular, enquanto o Irã é uma teocracia.
"Se perder a Síria, o Irã também perderá o acesso direto ao Hezbollah e, portanto, ao Mediterrâneo", diz Schneider. O Hezbollah, no Líbano, é o aliado militar mais forte do Irã, mas ficou extremamente enfraquecido devido à guerra contra Israel. "Sem o corredor entre o Iraque e o Irã, que passa pela Síria, O Hezbollah dificilmente conseguirá se recuperar militarmente."
A Síria, o Hezbollah, a milícia Houthi no Iêmen, o Hamas e o Irã formam o Eixo da Resistência, uma aliança antiocidental e anti-Israel no Oriente Médio.
O Irã está enfraquecido
A margem de manobra do Irã na região vem diminuindo há anos, diz a especialista Sara Bazoobandi, do instituto alemão de estudos globais Giga, lembrando das recentes perdas impostas por Israel. Entre elas estão as mortes de comandantes de alto escalão da Guarda Revolucionária Iraniana no ano passado, bem como o do general Qasem Soleimani, comandante da unidade especial da Guarda Revolucionária para atividades no exterior, em Bagdá em 2020, assim como as de altos comandantes do Hezbollah e também do Hamas.
Tudo isso gerou um certo grau de incerteza dentro do governo iraniano, afirma Bazoobandi. "Especialmente em relação a Israel, o Irã se tornou extremamente vulnerável em termos de suas capacidades militares e de inteligência."
As sanções econômicas impostas pelos países ocidentais pioram ainda mais a situação, prosegue Bazoobandi. As atividades na Síria já agora estão custando muito para o Irã, e poderão ficar ainda mais caras sob a presidência de Donald Trump, nos EUA, a partir de 2025.
É por isso que o Irã fará tudo o que estiver ao seu alcance para defender o regime de Assad na Síria, diz Schneider. "A Síria não é uma 'guerra por opção' para a República Islâmica, mas uma 'guerra por necessidade'."