Turbulências econômicas ameaçam linhas aéreas europeias
24 de maio de 2012A Ryanair, maior empresa de aviação de baixo custo da Europa, sempre chamou atenção por suas propostas extravagantes de corte de gastos. As mais originais vêm do próprio presidente da companhia, Michael O'Leary.
Ele determinou uma redução do gelo das bebidas, argumentando que menos gelo a bordo significa menos peso e menores gastos. A Ryanair também lançou a proposta de se voar com apenas um piloto, por razões de custo. A ideia que não foi adiante.
Outras companhias aéreas não são tão radicais, mas todas têm algo em comum, que é a má situação econômica na Europa e o alto preço do querosene de aviação. "Este ano, o preço do combustível está ainda mais alto. Além disso, tem também os 'pequenos detalhes', como o imposto sobre tráfego aéreo e o comércio de emissões", lembra o especialista em aviação Henry Grossbongardt, em entrevista à Deutsche Welle.
Segundo ele, as empresas cuja margem de lucro já é pequena são as que sentem a diferença mais dramaticamente. Além disso, todas as companhias aéreas europeias lutam contra a forte expansão das companhias estatizadas do Golfo Pérsico.
Rendimento paralelo
Desaquecimento econômico e recessão em alguns países europeus também são razões para que a Ryanair não encare o futuro de forma tão otimista. Apesar de um lucro recorde, os irlandeses temem um fim precoce de sua rota de sucesso.
“Há um bom tempo, as companhias de baixo custo vêm batendo em seus limites”, afirma Grossbongardt. “Elas tiveram um crescimento extremamente forte no passado. Além disso, a diferença de preço entre elas e as companhias tradicionais caiu sensivelmente.”
O especialista observa que, além disso, a Ryanair perdeu uma boa fonte de renda extra. Por muitos anos, os irlandeses fizeram bons negócios com o fabricante Boeing. "A Ryanair fechava grandes encomendas na Boeing, conseguindo bons preços com isso, para, em seguida, revender as aeronaves por preços mais altos", ressalta. No entanto, atualmente os fabricantes não permitem tais transações.
Air Berlin aposta em tarifa barata
Há meses, a Air Berlin, segunda maior companhia aérea da Alemanha, vem lutando contra a crise. A empresa espera superar as dificuldades através de um programa de corte de gastos e a criação de novas tarifas de baixo custo.
Uma delas, a ser introduzida em julho, se chama "JustFly". Nela, o check-in só é possível pela internet, e o cliente tem que pagar à parte pela bagagem despachada, como já ocorre na Germanwings, subsidiária da Lufthansa.
“A Air Berlin já estava numa fase de mudanças bastante difícil“, ressalta Grossbongardt. “Um programa de austeridade se faz necessário. Além disso, a companhia aérea está modificando completamente seu modelo de negócio.” A Air Berlin, que mantém a maioria das rotas dentro do continente europeu, está aumentando suas ofertas de voos de longa distância, tanto com sua própria frota, quanto com aeronaves da Etihad Airways, estatal de Abu Dhabi dona de parte da empresa alemã.
Reformas na Lufthansa
A Lufthansa também está cortando gastos, e é possível que venha a demitir funcionários e eliminar ou fusionar algumas de suas subsidiárias. Com o novo programa de austeridadeScore, ela quer ter cerca de 1,5 bilhões de euros em lucro adicionais até o final de 2014. No ano passado, a companhia transportou pela primeira vez mais de 100 milhões de passageiros, mas a receita não foi suficiente para lhe proporcionar lucros reais.
Ela planeja, no futuro, abrir mão da classe executiva em determinadas rotas e, em troca, expandir essa classe nas rotas em que há mais demanda, até o final de 2014. Os novos assentos poderão se transformar em cama plana, algo que outras linhas aéreas já oferecem há anos. Com esse programa de modernização, a empresa alemã pretende manter sua posição de liderança no segmento premium.
Boatos na Air France
Também na concorrente Air France há nervosismo, devido a rumores sobre a possível eliminação de 5 mil postos de trabalho. No ano passado, a proprietária franco-holandesa Air France-KLM havia tido prejuízos superiores a 800 milhões de euros. Um programa de corte de gastos deverá ajudar a reduzir os custos em cerca de 2 bilhões de euros, até o fim de 2014.
Grossbongardt acredita que o setor poderá ter outras fusões no futuro. Ele lembra que na Europa ainda há uma série de companhias aéreas em dificuldades para sobreviver sozinhas. "Mais recentemente, temos a discussão sobre a possível venda da portuguesa TAP. A Lufthansa mostrou interesse, assim como o International Airlines Group, proprietário da British Airways.
Mas nem toda venda é coroada de sucesso. “No caso da suíça Swiss Air, a Lufthansa obteve bons resultados: a integração deu certo e a Swiss conseguiu altos lucros rapidamente", comenta Grossbongardt, O mesmo não ocorre com a deficitária Austrian Airlines, subsidiária da Lufthansa: a alemã ainda vai ter que investir muito em sua subsidiária austríaca.”
Autora: Monika Lohmüller (md)
Revisão: Augusto Valente