Bactérias contra a dioxina
26 de janeiro de 2003A região onde se situa Leipzig foi uma das mais poluídas pelos resíduos das antigas indústrias químicas da Alemanha comunista. Há muito desativadas, elas deixaram uma grave herança, principalmente em Bitterfeld, o grande pólo químico da Alemanha Oriental: dioxinas e furanos, as substâncias tóxicas mais nocivas para o ser humano e o meio ambiente. A dioxina surgiu décadas atrás como resíduo de processos industriais ou da queima de substâncias. A mais perigosa de todas ficou conhecida como "o veneno de Soveso", é altamente cancerígena e provoca deformações em fetos.
As dibenzo-p-dioxinas policloradas (PCDD) não são degradáveis, isto é, não são transformadas pelo meio ambiente. A sua eliminação tornou-se um desafio para os cientistas, que passaram a fazer experiências com bactérias. Primeiramente, constatou-se que muitas delas suportavam as dioxinas. Depois, que essas bactérias podiam auxiliar na decomposição das PCDD.
A bactéria que decompõe cloro
Com a ajuda dos bioquímicos da Universidade Técnica de Berlim, o Instituto de Microbiologia da Universidade de Halle-Wittenberg conseguiu identificar uma dessas bactérias e cultivá-la em laboratório. Ela pertence à espécie dos dehalococoides e foi encontrada em sedimentos no rio Spittelwasser, um pequeno afluente do Elba, bastante poluído.
Esses sedimentos anaeróbios (sem oxigênio) encontravam-se no fundo do rio, mas a quantidade de bactérias era ínfima, pois não conseguiam sobreviver na luta contra outras espécies. Como seu manejo era muito difícil, até agora ninguém conseguira reproduzi-las em laboratório, o que fizeram os cientistas alemães, encabeçados por Michael Bunge e Ute Lechner, que descrevem seu experimento na última edição da revista científica Nature.
As bactérias dehalococoides têm a capacidade de decompor átomos de cloro, inclusive dos hidrocarbonetos, que costumam ser resistentes a qualquer "ataque" do gênero. "Elas conseguem romper as ligações dos átomos de cloro, de forma que, a seguir, outras bactérias podem concluir o processo de dissolução", declarou o professor Jan Andreesen, diretor do Instituto de Microbiologia, ao jornal Die Welt. O processo é controlado por enzimas que as dehalococoides têm em sua membrana celular. Como isso se dá através do seu metabolismo, a bactéria é uma verdadeira "devoradora de cloro".
Aplicação no saneamento ambiental
Além de cultivar as bactérias em laboratório, os cientistas documentaram todo o processo de dissolução da dioxina. Seu trabalho é avaliado como um importante passo para o saneamento eficaz de rios contaminados ou grandes áreas industriais. O uso de bactérias seria bem mais econômico do que transportar grandes quantidades de terra, lama ou dejetos contaminados, que ainda teriam que ser devidamente armazenados ou eliminados.
Em Halle e Wittenberg, porém, os cientistas querem continuar seus estudos, pois acham que será muito difícil soltar na natureza culturas de bactérias que se multiplicaram a duras custas em laboratório. Elas são muito sensíveis ao oxigênio. Uma das possibilidades é modificá-las geneticamente, para aumentar sua resistência no meio fluvial.