Baixa participação invalida referendo na Hungria
2 de outubro de 2016Os resultados parciais das urnas mostram que menos de 40% dos húngaros com direito a voto participaram neste domingo (02/10) do referendo promovido pelo governo contra as cotas de refugiados da União Europeia. Para que o resultado seja válido, seria necessária a participação de mais da metade do censo.
O presidente do Escritório Eleitoral Nacional (ONE), András Patyi, antecipou que "é provável que a participação seja maior que 40%, mas menor que 50%". Cerca de 8,3 milhões de húngaros foram convocados para responder "sim" ou "não" à pergunta: "Você quer que a UE disponha, sem o consentimento do parlamento [da Hungria], sobre o assentamento obrigatório de cidadãos não húngaros na Hungria?"
Coincidindo com as pesquisas prévias, a participação foi baixa durante toda a jornada e, apesar da energia e do dinheiro gastos na campanha eleitoral pelo governo de Viktor Orbán, os húngaros parecem ter lançado uma forte mensagem política, ao não sair de casa.
Consciente da muito provável alta abstenção, Orbán já adiantara pela manhã, após votar, que não importa a validade da consulta popular, mas que o "não" ganhe com amplitude. "Sempre é melhor um referendo válido que um inválido, mas as consequências legais serão aplicadas", afirmou, sem descartar que o governo proponha uma emenda constitucional.
O partido Fidesz, de Orbán, contou com o apoio do ultradireitista Movimento por uma Hungria Melhor (Jobbik), que convocou seus partidários a votar "não". Mesmo assim, o presidente do Jobbik, Gabor Vona, opinou que, se o referendo não for válido, "Orbán deveria renunciar, tal como fez David Cameron", referindo-se ao ex-premiê britânico que entregou o cargo após o referendo do Brexit.
A expectativa é que o ONE apresente ainda esta noite números sobre a porcentagem de participação, mas os dados definitivos e oficiais apenas serão divulgados na quarta-feira.
Jogando com o medo da população
Orbán e seu governo se opõem categoricamente ao sistema de realocação de refugiados entre os países comunitários e fizeram uma campanha na qual relacionaram os refugiados com o terrorismo e a criminalidade, apelando ao medo.
O primeiro-ministro da Hungria definiu como "ingênua" a atual política europeia sobre migração e considera que a chegada em massa de refugiados muçulmanos representa "um perigo para a cultura húngara e europeia".
O referendo e a campanha do governo receberam críticas no interior e exterior do país por serem considerados uma forma de criminalizar os refugiados. Os partidos de esquerda estimularam o boicote à consulta, enquanto 22 ONGs pediram à população que anulasse o voto.
Há um ano Hungria ergueu cercas em suas fronteiras meridionais, para deter os milhares de refugiados que cruzavam seu território em direção ao norte da Europa, e introduziu leis que castigam a entrada ilegal no país com até cinco anos de prisão.
AV/efe,ap,afp