Bamberg guarda único túmulo papal ao Norte dos Alpes
7 de maio de 2005Quem pára em frente ao altar da Catedral de Bamberg, não imagina que está a poucos passos do túmulo de um papa. Há 950 anos, Clemente 2º quebrou uma tradição da Igreja Católica e ordenou, como último desejo, que fosse enterrado na Alemanha. Na Catedral de Bamberg – que já foi chamada de "Roma da Francônia" – encontra-se o único túmulo pontifício ao Norte dos Alpes.
Há quem diga que o papa ali enterrado foi vítima de um assassinato. "Eles o envenenaram", explica um segurança, quando curiosos questionam sobre a causa da morte de Clemente 2º. Esses rumores espalharam-se logo após a morte do Santo Padre, em 1047, e persistem até hoje. Os principais suspeitos eram seu antecessor deposto, Bento 9º, e a nobreza romana, na qual o novo papa queria fazer uma "faxina". Ambos os inimigos supostamente teriam razões suficientes para servir-lhe um cálice mortal.
Muito chumbo no corpo
Após a Segunda Guerra Mundial, médicos criminalistas examinaram restos do cadáver papal e encontraram um alto teor de chumbo numa costela. No entanto, eles não puderam dizer se Clemente 2º foi vítima de um atentado ou se o excesso de chumbo resultara do uso de vasilhames à base desse material. "O clima e a alimentação, que lhe eram estranhos na Itália, também podem ter afetado sua saúde", intervém o vigário da catedral, Luitgar Göller. Outros acreditam que ele morreu de malária.
Ainda que a causa da morte continue uma incógnita, a abertura do túmulo, em 1942, revelou uma sensação: no sarcófago encontrou-se os paramentos oficiais completamente preservados de Clemente 2º, que hoje são uma das principais atrações do Museu Diocesano, ao lado dos trajes do casal real Henrique e Kunigunde.
Pontificado curto, mas significativo
O pontificado de Clemente 2º durou apenas nove meses e 16 dias. Apesar disso, ele foi um papa que deixou profundas marcas, dando início à reforma da Igreja medieval. Em 1046, três papas disputavam o posto de sucessor de São Pedro. O rei Henrique III os depôs e, na noite de Natal, impôs o bispo Suidger, de Bamberg, como novo líder da Igreja Católica.
Suidger, nascido em Hornburg, na atual Baixa Saxônia, e que se tornara bispo na Francônia seis anos antes, seguiu a convocação para Roma meio a contragosto. "O dom divino quis que nossa insignificância fosse eleita para sucessor o superdotado príncipe dos apóstolos, embora nos opuséssemos com toda força", escreveu ao seu bispado. Ele pediu autorização ao rei, para continuar sendo bispo de Bamberg durante seu pontificado.
A "mais doce noiva"
O primeiro ato oficial de Clemente 2º foi coroar Henrique III como imperador (kaiser) do Sacro Império Romano-Germânico. Juntos, os dois perseguiram a meta de acabar com a simonia (o comércio de cargos eclesiásticos), um mal que grassava na Igreja da Idade Média. Mas antes de implementar as primeiras medidas depurativas, o papa adoeceu e morreu no Sul da Itália. Pouco antes de sua morte, ele ainda pensara com saudades em Bamberg e, numa espécie de carta de despedida, a chamou de "filha mais amada por Deus" e "sua mais doce noiva".
Essa declaração de amor à cidade (cujo centro é tombado como patrimônio histórico da humanidade), porém, parece não impressionar os habitantes de Bamberg, que vêem o papa com certa frieza. Talvez, porque o acesso ao túmulo é restrito. Além disso, o trono do bispo praticamente impede que se veja o túmulo, o que é uma pena, já que se trata de uma das obras mais significativas da arte sepulcral do século 13. Mas o prelado Luitgar Göller conhece um macete: de julho a setembro, quando não há grandes festas religiosas, ele desloca trono do bispo, para que os visitantes possam ver de perto o único túmulo papal ao Norte dos Alpes.