Banco de alimentos alemão para de registrar estrangeiros
23 de fevereiro de 2018O banco de alimentos de Essen (a "Tafel") – uma organização de caridade que recolhe alimentos em mercados e os redistribui a pessoas necessitadas – restringiu novas inscrições de beneficiários a cidadãos alemães. O presidente da organização, Jörg Sartor, justificou nesta quinta-feira (22/02) a medida com o aumento desproporcional no número de estrangeiros atendidos.
Ele afirmou que a proporção de migrantes subiu para 75%, um percentual que não reflete a proporção de estrangeiros entre os necessitados da cidade. Antes da crise migratória de 2015, os não alemães eram 35%, disse. A decisão de não aceitar mais novos beneficiados estrangeiros está em vigor desde meados de janeiro e deve continuar até que "a proporção esteja novamente equilibrada", afirmou Sartor. Ele negou que a medida tenha caráter xenófobo.
Sartor acrescentou que muitos alemães – especialmente idosos e mães solteiras – se sentiam desconfortáveis nas filas de distribuição e até mesmo deixavam de comparecer. Alguns dos estrangeiros, muitos deles homens jovens, mostravam "pouco respeito em relação às mulheres", disse Sartor. Segundo ele, o banco de alimentos de Essen atende a cerca de 6 mil pessoas. "Vamos ver como funciona e, em seis ou oito semanas, talvez voltemos atrás na decisão."
Enquanto refugiados ainda estavam alojados em abrigos da cidade, eles não faziam uso dos bancos alimentares, explicou Sartor. "Eles eram atendidos lá", disse. A situação mudou quando muito receberam permissões legais de permanência e, consequentemente, acesso aos benefícios sociais.
Críticas da associação, elogios da AfD
A Federação dos Bancos de Alimentos da Alemanha criticou a decisão. "Não há como entender isso. Para a Tafel, o que conta é a necessidade e não a origem", afirmou o presidente da associação, Jochen Brühl. Já deputados e membros da direção do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) elogiaram a medida, que chamaram de "passo corajoso".
Outros bancos de alimentos também criticaram a decisão da unidade de Essen. "Condicionar a distribuição de alimentos a uma nacionalidade contradiz os princípios da nossa organização", disse a presidente do banco alimentar de Colônia, Karin Fürhaupter. "O que conta para nós é a necessidade, e não a origem", disse a responsável pelo banco alimentar de Düsseldorf, Eva Fischer.
"É uma vergonha que num país tão rico como a Alemanha as pessoas sejam forçadas a ir a banco alimentares porque não podem pagar por comida", disse Jules el-Khatib, do partido A Esquerda. "Mas, enquanto for assim, não é a origem que pode determinar se as pessoas podem ou não fazer uso dos bancos alimentares."
A organização de caridade recupera excedentes alimentares que seriam descartados para redistribuí-los a pessoas necessitadas. Todos que recebem ajuda social do Estado e possam provar isso à Federação dos Bancos de Alimentos têm direito de usufruir da ajuda dos bancos alimentares, desde que haja uma vaga.
O projeto de bancos alimentares comemorou esta semana 25 anos de existência. O primeiro banco alimentar foi implementado em 22 de fevereiro de 1993 em Berlim. Hoje há cerca de 2.100 pontos de entrega de alimentos organizados por 934 bancos alimentares em todo o país. Eles atendem a cerca de 1,5 milhão de pessoas. O projeto conta com o engajamento de cerca de 60 mil voluntários. Os bancos alimentares são considerados um dos maiores movimentos sociais do país.
PV/kna/dpa/epd
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