Banco-adega
29 de agosto de 2010Hattenheim é uma cidadezinha pitoresca localizada a 50 quilômetros a oeste de Frankfurt do Meno, em meio a uma paisagem dominada pela força do Rio Reno. Além dos aconchegantes cafés e restaurantes que amenizam o passeio dos turistas, a fertilidade do solo faz com que seja extraordinariamente alta a concentração de vinhedos de renome, nesta cidadezinha de apenas 2.200 habitantes.
A primeira divisão dos vinicultores alemães está bem representada na região, e há alguns meses seu tino para negócios tem se desenvolvido de forma notável, graças a uma instituição muito peculiar: o WineBank, o Banco de Vinho de Hattenheim.
Aproveitando a liquidez
Se não fosse o letreiro luminoso com os dizeres "WineBank", muitos passariam direto por essa casa, sem nem notá-la. Pois a fachada parece tudo, menos a entrada para uma adega de vinhos: onde se esperaria encontrar um velho e rangedor portão de madeira, encontra-se uma sofisticada porta eletrônica, mais adequada a uma galeria de arte contemporânea.
Quem aluga um compartimento no banco recebe uma chave semelhante a um cartão de crédito. Ela dá acesso à cava das garrafas, uma sala com ar misterioso, repleta de jaulas metálicas, aonde se chega após descer uma escadaria.
O WineBank não empresta dinheiro, mas funciona com um banco de investimentos. A reserva do menor dos compartimentos, onde cabem 35 garrafas, custa 49 euros por mês. Mas o vinicultor Christian Ress tem a oferecer espaços bem maiores, àqueles cujo é mais exclusivo e a carteira mais abastada.
Os objetos de luxo da adega são as grutas subterrâneas, protegidas por grades de aço maciço, com espaço para abrigar milhares de garrafas e um valor em euros que apenas Ress e seus clientes conhecem. De fato: o proprietário é bastante reticente ao falar sobre o custo total do projeto.
Decadência com elegância
O WineBank foi inaugurado em dezembro de 2009, com capacidade de abrigar 35 mil garrafas e o devido seguro para todas elas. Em menos de um ano, a metade de seus compartimentos estava alugada.
Embora Hattenheim esteja repleta de porões com adegas, nenhum deles oferece a sobriedade arquitetônica do WineBank, que faz lembrar os aposentos futuristas dos filmes de James Bond dos anos 1970. A pedra tosca harmoniza com o aço polido, e os espaços são banhados por luz indireta, criando uma cenografia de fazer inveja aos mais requintados arquitetos de interiores.
O contraste entre a secular abóboda e os elementos arquitetônicos mais modernos não é mero acaso. Parte desse banco-adega foi construída no século 16, o restante foi crescendo organicamente ao redor das estruturas primordiais, e essas marcas do tempo são algo que Ress insistiu em manter.
Perto da "Manhattan alemã"
"A maioria usa o WineBank para se reunir com seus parceiros de negócios, muitos empresários recebem aqui seus clientes para impressioná-lo com algo inusitado", comenta Christian Ress. Uma enorme vantagem para seu projeto, naturalmente, é a proximidade entre Hettenheim e Frankfurt, base de operações de inúmeros banqueiros.
Na adega respira-se um sutil ar de decadência, mas o proprietário não planeja converter o local em uma casa de eventos. A tranquilidade é um valor em si para quem prefere o vinho à cerveja, e os amantes do vinho financeiramente abastados sabem apreciar a atmosfera que o WineBank tem a oferecer.
Autoria: G. Birkenstock/ E. Romero-Castillo (la)
Revisão: Augusto Valente