141011 Banken Krise
16 de outubro de 2011Os bancos alemães discordam das medidas que a União Europeia pretende implementar para o setor bancário do bloco, devido aos receios de um colapso. O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, exigiu que as instituições financeiras aumentem sua liquidez para que possam assegurar negócios de risco.
Durão Barroso afirmou na semana passada que o dinheiro do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) também deve ser usado para recapitalizar os bancos. O dinheiro estatal, todavia, não poderá ser usado para pagar dividendos nem bônus.
Neste domingo (16/10), o presidente do Deutsche Bank, Josef Ackermann, fez duras críticas a uma possível recapitalização dos bancos europeus. Segundo a edição dominical do jornal alemão Bild, Ackermann teria dito em um congresso do Deutsche Bank que o problema não estaria na adequação do capital bancário, "mas sim no fato de os títulos da dívida pública terem perdido seu status de ativos sem risco".
O presidente do maior banco alemão assegurou que sua instituição irá superar a crise da dívida sem a necessidade de ajuda estatal, como o fez na crise de 2008 após a falência do Lehman Brothers.
Ackermann exigiu ainda que os países da zona do euro consolidem paulatinamente seus orçamentos para superar a crise. Além disso, ele defendeu uma reforma do tratado constitucional da União Europeia. "Eu acredito que seja inevitável uma integração política e econômica mais intensa". Segundo Ackermann, isso exigiria também mudanças constitucionais. "Se queremos delegar mais competências para Bruxelas, temos de pensar sobre mudanças da Constituição".
Novo corte da dívida
As afirmações de Ackermann provocaram acirradas reações entre políticos alemães. Cem Özdemir, líder do Partido Verde, disse à revista Spiegel: "Eu não sei se o Sr. Ackermann está realmente interessado numa solução duradoura para a crise". Não deve ser plausível que os bancos aceitem correr grandes riscos, que se endividem até o pescoço, para depois serem salvos pelos contribuintes.
O especialista em política orçamentária dos Partido Social Democrata (SPD), Carten Schneider, afirmou à Spiegel em alusão ao Deutsche Bank: "Mesmo que na última crise financeira ele não tenha recebido ajuda estatal, ele se beneficiou do fato de os políticos terem evitado um colapso no mercado financeiro".
O jornal Bild também informou que Ackermann seria uma figura central das negociações para um corte parcial da dívida grega. Segundo o jornal, trata-se de um corte de até 50%, que os bancos privados teriam de efetuar de forma voluntária. Em julho último, os credores privados da Grécia já concordaram em abrir mão de, em média, 21% das obrigações que o país tem para com eles.
No momento, fala-se de um novo corte parcial da dívida grega. Ainda não está claro se isso vai ser resolvido até o fim da semana, afirmou o Bild. Além de CEO do Deutsche Bank, Ackermann também preside o Instituto de Finança Internacional (IIF), associação que reúne os maiores bancos internacionais. Neste domingo, um porta-voz do Deutsche Bank não quis comentar as informações do jornal alemão.
Matriz e filial
O debate em torno de uma maior participação dos bancos europeus no processo de desendividamento da Grécia está em pleno vapor. Ao mesmo tempo, a agência de avaliação de risco Fitch ameaça rebaixar a nota de uma série de grandes bancos, diante da crise da dívida soberana.
Além de instituições nos EUA, Reino Unido e Suíça, especialistas financeiros preveem perspectivas sombrias também para os bancos alemães. Na França, o temor de um corte parcial da dívida da Grécia é particularmente grande. Pois tanto o banco cooperativo Crédit Agricole quanto o Société Générale têm filiais na Grécia.
Como os títulos da dívida da Grécia foram comprados sobretudo por bancos gregos, as filiais gregas dos grandes bancos franceses iriam sobrecarregar as matrizes com pesadas depreciações, caso um corte parcial da dívida da Grécia fosse aprovado. Algo semelhante aconteceu com o grande banco italiano Unicredit e sua filial alemã, o HypoVereinsbank, que já foi o segundo maior banco alemão.
A grande interconexão entre os bancos acontece, todavia, no mercado financeiro – já que, para realizar operações de crédito com outros clientes, há muito tempo os bancos não operam somente com o dinheiro que os poupadores lhe confiaram. Bancos com necessidade de caixa dependem do dinheiro emprestado de outros com excedente de dinheiro. No entanto, caso a desconfiança mútua seja muito grande, então o fluxo de dinheiro é interrompido.
Recapitalização dos bancos
O banco belgo-francês Dexia, por exemplo, dependia de empréstimos regulares a curto prazo. Este dinheiro era emprestado a seus clientes a longo prazo. O fluxo de dinheiro, no entanto, foi interrompido, o que levou os governos da Bélgica, França e Luxemburgo a desmantelarem o banco para evitar a sua falência.
Há uma semana, os governos da Alemanha e da França, as maiores economias da zona do euro, concordaram com a recapitalização dos bancos europeus. Um futuro pacote de medidas deverá garantir uma maior liquidez às instituições financeiras do bloco europeu.
Segundo o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, os países da zona do euro pretendem apresentar um abrangente pacote para solucionar a crise da dívida até a próxima reunião de cúpula da União Europeia, que será realizada no próximo domingo (23/10).
Autor: Carlos Albuquerque / Michael Braun
Revisão: Mariana Santos