Bate-boca cara a cara
8 de fevereiro de 2003Após sua comparação da Alemanha à Líbia e à Cuba durante a semana, a presença Donald Rumsfeld era ansiosamente aguardada na Conferência Internacional de Segurança, em Munique, neste fim de semana. Em seu discurso neste sábado, perante uma platéia de militares e políticos de 40 países, o secretário americano da Defesa voltou à carga, mas desta vez recebeu resposta ao vivo e imediata do ministro alemão do Exterior, o verde Joschka Fischer.
Os alvos europeus da ira americana ganham cada vez maior abrangência. Se até poucos dias, Washington restringira seus ataques à Alemanha e à França, países que identificou como "Velha Europa", Rumsfeld incluiu em Munique a Bélgica na lista de atuais desafetos do governo Bush.
Adiamento "indesculpável"
Sem citar os nomes dos três países, o secretário de Defesa considerou "indesculpável" o adiamento de uma decisão da Otan em apoio à Turquia. Washington quer que a aliança atlântica ponha aviões de reconhecimento Awacs e mísseis de defesa antiaérea Patriot à disposição de Ancara, para proteger o país euro-asiático de um contra-ataque de Saddam Hussein, no caso de uma intervenção militar no Iraque. Na quinta-feira, Berlim, Paris e Bruxelas solicitaram mais tempo para analisar o requerimento dos EUA.
O bloqueio dos três aliados europeus "vai além da minha compreensão", disse Rumsfeld. Ele ressaltou que o estatuto da Otan obriga todos seus membros à defesa da Turquia neste momento. "Aqueles que se esquivam até de medidas mínimas na prevenção, correm o risco de minar a credibilidade da Otan", disparou o secretário.
O quão perigoso é Saddam?
O alemão Joschka Fischer reagiu com uma defesa emocional contra uma guerra no Iraque no atual momento. O ministro do Exterior disse que, após ter ponderado todos os riscos, concluiu que ainda não se esgotaram todos os meios pacíficos. O líder verde criticou "a lógica da mobilização militar" adotada por Washington.
Ele enfatizou a necessidade de dar mais tempo para os inspetores da ONU verificarem o perigo potencial que o regime de Saddam Hussein ainda representa para a humanidade. "A pergunta decisiva é se o risco já é tão grande que justifique uma guerra", questionou Fischer. O ministro lembrou que a Alemanha vê a situação de forma diferente dos EUA. Quanto o apoio à Turquia, afirmou que Berlim busca uma solução.
Recuo ou cautela diplomática?
Para alguns observadores, o discurso de Rumsfeld revelou um certo recuo ou ao menos cautela, apesar da clara insatisfação com a falta de apoio de aliados europeus. O secretário americano chegou a declarar que "ninguém quer guerra", mas que as nações livres não podem descartar o uso da violência em caso de necessidade, mesmo que desejem uma solução pacífica. "Entretanto os riscos de uma guerra têm de ser pesados com os riscos da omissão, enquanto o Iraque empenha-se em obter meios de extermínio em massa", destacou.
Rumsfeld negou-se a responder perguntas sobre a possibilidade de uma iniciativa militar isolada dos Estados Unidos. O secretário garantiu, porém, que prefere a renúncia e o exílio de Saddam Hussein e sua família do que a guerra.