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Baviera vota sob expectativa de terremoto político

Rebecca Staudenmaier av
13 de outubro de 2018

Por décadas os conservadores da CSU elegeram o governador – e muitas vezes governaram sozinhos. Ascensões do Partido Verde e da AfD colocam esse domínio em xeque, em eleição que pode ter efeitos também no governo Merkel.

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Katharina Schulze e Ludwig Hartmann são a linha de frente do Partido Verde na eleição bávaraFoto: picture-alliance/dpa/T. Hase

Uma pequena estátua de Jesus pende da galhada de veado na parede de uma taverna nos arredores da cidade bávara de Deggendorf. Debaixo do rústico crucifixo, adeptos do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) vão passando uma caixa de doações coberta de adesivos contra Angela Merkel.

"A AfD é o castigo de Deus para a CSU", diz Katrin Ebner-Steiner, a candidata da AfD para a cidade, sob aplausos frenéticos da multidão.

A União Social Cristã (CSU), aliada da União Democrata Cristã (CDU), da chanceler federal Angela Merkel, no estado da Baviera, está lutando para evitar que os eleitores conservadores passem para o lado dos populistas, para os quais Deggendorf se tornou um bastião.

Nas eleições gerais de 2017, a AfD conquistou 18% dos votos locais, assim como 12,4% em nível estadual. Pesquisas atuais indicam que o partido pode chegar a 10% dos votos na eleição da Baviera, tirando eleitores da CSU.

Chefe de bancada da AfD Alice Weidel (esq.) e candidata Katrin Ebner-Steiner, de dirndl
AfD em Deggendorf: Chefe de bancada Alice Weidel (esq.) e candidata Katrin Ebner-Steiner, de dirndlFoto: DW/R. Staudenmaier

Ao contrário de outros eventos dos ultradireitistas, não há nenhum manifestante do lado de fora da taverna – fato registrado com felicidade pela principal oradora da noite, Alice Weidel, chefe da bancada da AfD no Bundestag (Parlamento alemão).

"O impacto da eleição bávara é imenso", ela afirma à plateia. "Quanto mais dura for a lição para a CSU e quanto mais forte a presença da AfD no parlamento estadual da Baviera, mais rápido vai chegar o fim do mandato de Angela Merkel."

CSU entre fidelidade à coalizão e populismo

Assim como outros presentes, Harald Fischer costumava votar na CSU, mas ficou desapontado com a resposta do governo alemão chefiado por Merkel à chegada em massa de refugiados e solicitantes de asilo em 2015. Ele acredita que os social-cristãos também sejam culpados: "Eles são parte do problema, não a solução. E vão ter que encarar as consequências", comenta.

A AfD não é a única a tratar a eleição estadual bávara deste domingo (14/10) como um referendo sobre o apoio popular ao governo Merkel. A CSU tem igualmente criticado a política migratória de Berlim, na tentativa de angariar respaldo eleitoral, num momento em que está ameaçada de perder sua tradicional maioria absoluta no parlamento regional.

Trata-se de um jogo arriscado para os conservadores bávaros, já que atualmente a CSU integra a coalizão federal, ao lado da CDU e do parceiro minoritário Partido Social-Democrata (SPD).

Seehofer e Söder
Seehofer e Söder estão diante de uma vitória com amargo sabor de derrota, segundo pesquisasFoto: picture-alliance/dpa/P. Kneffel

Poucos dias após o comício da AfD, a CSU realizou seu próprio evento de campanha em Deggendorf. O público basicamente mais idoso, em parte trajando as tradicionais lederhosen e dirndls, mastigava os pretzels grátis e bebericava a cerveja local, esperando a chegada do governador da Baviera, o social-cristão Markus Söder.

Para os partidários da CSU, tradição é tudo, e isso se expressa também em seus padrões eleitorais. Indagados por que apoiam a legenda, a resposta mais frequente é que votam na CSU porque sempre votaram nela. No entanto, as difundidas reservas entre os apoiadores tipicamente fiéis se refletem claramente nos magros dados das pesquisas de intenção de voto atuais, que colocam a CSU com 33% ou 34% dos votos, bem abaixo da maioria absoluta de eleições anteriores.

"Os políticos têm que tomar decisões mais locais. Eles só estão pensando na política nacional", comenta um eleitor da CSU de 82 anos. Ele se diz frustrado por o debate sobre a política de imigração ter desviado a atenção de outras questões, como melhorar a educação e as aposentadorias.

"Migração é a mãe do meu marido"

Embora em geral apreciado pelos adeptos do partido, Söder tem enfrentado uma boa dose de controvérsia nos poucos meses em que serviu como governador, sobretudo por tentar fazer o jogo da extrema direita, com medidas linha-dura na imigração e ao decretar que se pendurem crucifixos nos edifícios públicos. Seu recente anúncio sobre a criação de um programa espacial bávaro igualmente causou estranhamento.

Ao contrário de discursos anteriores, no comício em Deggendorf Söder mostrou-se mais moderado no tópico da migração, enfatizando o desejo da CSU de manter a Baviera aberta.

"Qual é a nossa missão? Continuarmos globalmente abertos, sem perder nossas metas nem nossa cultura", falou à multidão. "Queremos ser modernos, mas permanecer bávaros." Seus comentários contrastam não só com a retórica dos partidos populistas, mas também com a linha agressiva da própria CSU nos meses anteriores.

No entanto a mudança de tom do governador talvez seja débil demais e venha muito atrasada para o eleitorado mais jovem da Baviera, sobretudo em cidades grandes como Munique, onde diversos protestos têm se realizado, antecipando a pleito do dia 14. Em 3 de outubro, Dia da Unidade Alemã, milhares saíram em passeata na capital bávara com faixas condenando tanto a AfD quanto a CSU.

"Migração é a mãe do meu marido", dizia um cartaz portado por Simone Wiedemann, de 32 anos, referindo-se a comentários do ministro do Interior da Alemanha e líder da CSU, Horst Seehofer, de que "a migração é a mãe de todos os problemas".

Wiedemann relata que a onda de sentimentos negativos contra imigrantes e refugiados teve um impacto ruim em sua vida com o marido, que fugiu do Irã e está vivendo e estudando na Alemanha. A mensagem dela para Seehofer é que "migração é uma chance, não uma ameaça".

Esposa de refugiado iraniano em passeata em Munique. "Migração é a mãe do meu marido"
Esposa de refugiado iraniano em passeata em Munique. "Migração é a mãe do meu marido"Foto: DW/R. Staudenmaier

"O político mais perigoso de sua geração"

Com a recusa de abrandar sua política migratória linha-dura, em grande parte concentrada nas fronteiras da Baviera, o líder social-cristão quase fez cair o governo Merkel em meados deste ano. Sua postura lhe custou muitas críticas internas, e a perda da maioria absoluta poderá custar a Seehofer tanto a liderança da CSU como o cargo de ministro no governo Merkel – ou, no mínimo, a perda de influência.

Ele também foi alvo das críticas no protesto em Munique. O eleitor social-democrata Benjamin Glauss, de 33 anos, disse que "Seehofer é o político mais perigoso da geração dele", mais ainda do que os políticos de extrema direita, pois seus comentários repercutem mais entre a população. "Ele é de um partido estabelecido, e as pessoas ainda são fortemente influenciadas pelas palavras dele."

O eleitorado de esquerda deposita grande parte de suas esperanças no Partido Verde, atualmente o segundo mais cotado nas enquetes da Baviera, com 18% ou até 19%, e que também cresceu depois de a CSU adotar um discurso mais duro contra a imigração. Os verdes, ao contrário, se posicionam claramente à favor da recepção e integração de migrantes.

"É importante mostrar que há gente que é contra a xenofobia e a retórica de extrema direita", comenta uma jovem de 20 anos. "Eu quero algo novo."

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