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Bayern é campeão, descobre no vestiário e sai para o abraço

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
11 de maio de 2021

Clube bávaro conquistou nono título consecutivo na Bundesliga. Os anos em que outros times alemães subiram ao pódio após uma luta renhida pelo título parecem ser de outra era, perdida no tempo em outra galáxia. 

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Robert Lewandowski, Thomas Müller e Manuel Neuer celebram mais um título na Bundesliga
Robert Lewandowski, Thomas Müller e Manuel Neuer celebram mais um título na BundesligaFoto: Cchristof Stache/AFP/Getty Images

Ironia do destino. O maior rival dos bávaros nos últimos dez anos acabou dando de bandeja o título de campeão ao Bayern, cujos jogadores ainda se preparavam no vestiário para enfrentar o Borussia M'Gladbach. Enquanto trocavam de roupa, acompanharam a partida entre Dortmund e Leipzig. Uma vitória aurinegra selaria mais um triunfo bávaro – e foi exatamente o que aconteceu. O Leipzig derrotado ficava definitivamente alijado da disputa pelo título e agora tem que se contentar em disputar o simbólico vice-campeonato.

Ainda nas catacumbas da Allianz Arena, Thomas Müller e companhia continham o seu contentamento por mais uma salva de prata, e o técnico Hansi Flick, de saída do clube, discretamente manifestou sua alegria por mais um título – o sétimo em sua curta carreira de apenas 18 meses no comando do Bayern.  

Nem sempre, durante a atual temporada, o ambiente em Munique foi marcado por contentamento e alegria. Pelo contrário. Consta que, numa das viagens com o ônibus do clube, houve um incidente que comprova a atmosfera conturbada. Após uma discussão acalorada, na presença de jogadores e membros da comissão técnica, Hansi Flick não se conteve e, dirigindo-se ao diretor de esportes Hasan Salihamidzic, disparou: "Agora chega, vê se cala essa boca."

No último sábado, porém, as divergências entre os dois galos de briga foram colocadas de lado, mesmo porque não se conquista um nono título consecutivo todo dia. O time entrou em campo contra o Gladbach como campeão e saiu vitorioso do confronto jogando como eneacampeão contra os "potros", que nos anos 1970 disputavam cabeça a cabeça o título com os bávaros.

Bons tempos aqueles em que havia emoção na Bundesliga pela disputa da salva de prata. Mesmo nas décadas posteriores, de 1980 e 1990, a superioridade bávara vira e mexe era abalada por intrusos, como Hamburgo, Borussia Dortmund, Werder Bremen, Stuttgart e Kaiserslautern. Naquela época, algumas vezes o Bayern chegou a ficar três temporadas consecutivas sem por a mão na taça.

Nas primeiras cinco temporadas da década de 1990, por exemplo, o Bayern foi campeão apenas em 1995. Foi naquela época que jogos da Bundesliga foram transmitidos pela primeira vez na televisão brasileira (TV Cultura de São Paulo). 

Tudo mudou a partir de 2000. Fato é que o século 21 trouxe uma nova era para o futebol alemão. Foi inaugurada a era do domínio praticamente absoluto de um só clube sobre todos os demais. Desde então, o clube com sede na Säbener Strasse em Munique venceu 15 títulos dos 21 em disputa. Para deixar claro: títulos merecidos. O Bayern foi durante anos e continua sendo o melhor time com o melhor elenco e, na maioria das vezes, com os melhores técnicos. Parabéns!

O problema desse domínio absoluto é que o futebol e o esporte em geral, via de regra, vivem da disputa acirrada entre concorrentes, quando antes do pontapé inicial ninguém sabe ao certo no que vai dar. Só que, atualmente, na Alemanha basta perguntar a qualquer criança quem será o próximo campeão, e a resposta estará na ponta da língua.   

Para os torcedores do futebol disputado palmo a palmo e ponto a ponto, os anos em que outros clubes subiram ao pódio, como Werder Bremen (2004), Stuttgart (2007), Wolfsburg (2009) e até o Borussia Dortmund (2011 e 2012) após uma luta renhida pelo título, parecem ser de outra era, perdida no tempo em outra galáxia. 

O maior fator que alimenta e realimenta sem cessar a atual desigualdade entre grandes e pequenos é o rateio do montante pago pela TV e pelas plataformas de streaming à Bundesliga. Os valores pagos pela transmissão dos jogos representam parte considerável no faturamento dos clubes. A atual distribuição dessa dinheirada toda privilegia os times de ponta. O Bayern, por exemplo, recebe quase tanto quanto metade dos 18 clubes da 1ª divisão.

Dessa maneira, cria-se um círculo vicioso com uma pequena elite encabeçada pelo dominante Bayern e um resto perambulante que faz das tripas coração para sobreviver, especialmente nestes tempos de pandemia. Esses que pertencem ao resto, aos poucos se tornam meros figurantes e muitas vezes acabam rebaixados para a segunda divisão. Uma vez na segundona, dificilmente conseguem voltar. Hamburgo, Kaiserslautern, Hannover e Nuremberg estão nessa condição faz anos e não me deixam mentir. 

Outro fator que deveria ser reavaliado é o que diz respeito às dezenas de milhões de euros auferidos por alguns clubes por sua participação na Champions League ou Europa League. Na Holanda, por exemplo, desde 2018 uma parcela do dinheiro recebido por participação em torneios internacionais é separada e distribuída para o restante dos clubes da Eredivisie.

A Bundesliga corre sério perigo de se tornar desatraente. E os seus dirigentes, a começar pelos próprios cartolas do Bayern de Munique, bem que poderiam encaminhar soluções para tornar o campeonato alemão competitivo novamente para não se tornar definitivamente uma competição de cartas marcadas.       

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças.

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.