Destaque a artistas com "vontade própria"
7 de setembro de 2012Por que nos dias de hoje ainda se vai a uma sala de concertos, para ouvir artistas que executaram seu repertório ao vivo nos séculos passados? O Beethovenfest 2012, que tem início nesta sexta-feira (07/09) em Bonn, na Alemanha, dá uma possível resposta. O lema deste ano, "vontade própria", além de remeter aos artistas selecionados para o programa, faz referência a uma frase de Ludwig van Beethoven, de 1820: " A verdadeira arte tem vontade própria, não se deixa constranger dentro de formas lisonjeiras".
À primeira vista, o slogan parece um pouco pesado – difícil de se traduzir e até mesmo com conotações negativas. Ilona Schmiel, diretora-geral do Beethovenfest, tem consciência disso. "Uma democracia vive de consensos. Nos tempos de Beethoven, as forças que começavam a estabelecer uma sociedade burguesa eram, ao mesmo tempo, opressoras em relação à arte. E foram aqueles artistas que tentaram crescer, aguçar e aprofundar suas visões durante toda sua vida que a história mostra como os mais bem-sucedidos", diz.
Desta sexta-feira até 7 de outubro, 66 eventos reúnem artistas que certamente se adequam ao slogan "vontade própria". É o caso do jovem maestro letão, Andris Nelsons, que dirigirá o concerto de abertura, e do regente sueco-americano Herbert Blomstedt, de 85 anos, que conduzirá a Missa solemnis, de Beethoven.
Vontade própria também caracteriza o compositor e maestro finlandês Esa-Pekka Salonen, de 54 anos, que regerá o ciclo de todas as nove sinfonias de Beethoven ao final do festival. As três gerações de regentes demonstram o reflexo de diferentes histórias pessoais nas interpretações individuais.
Cage, Schönberg, Beethoven
A "Noite Cage" do Beethovenfest homenageará o talvez mais obstinado de todos os compositores modernos, o norte-americano John Cage, que teria completado 100 anos de idade em 5 de setembro de 2012. Dez dias após o jubileu, oito concertos serão realizados em três pontos da chamada Museumsmeile de Bonn. Assim, o visitante pode migrar de um concerto para o outro – algo que Cage certamente teria apreciado.
A pianista Susanne Kessel, de Bonn, ajudou a criar o conceito do evento, que não apenas apresenta a obra de Cage, mas também leva suas ideias revolucionárias mais adiante. "Acredito que Cage terá potencial por mais mil anos, porque se trata de modelos criativos que podem ser usados em qualquer momento", considera. "Quando se inclui a vida cotidiana, Cage sempre permanece atual e sempre soa diferente."
Outro compositor que desenvolveu a abordagem de Beethoven em relação à arte no século 20 foi o austríaco Arnold Schönberg. Suas composições vanguardistas Gurrelieder estão no programa do festival, que também inclui a exposição Beethoven e Schönberg.
Christian Meyer, diretor do Centro Arnold Schönberg em Viena, ressalta os paralelos entre os dois músicos. "Vontade própria só tem sentido quando se defende alguma causa. Beethoven e Schönberg defendem a verdade na expressão, a honestidade na criação artística", afirma. "Por isso, valeu a pena ter vontade própria, mesmo que o público demandasse algo diferente."
Inédito em todos os sentidos
O formato de um concerto também pode ter vontade própria. Nesse sentido, o festival apresenta uma abordagem incomum com um concerto coreografado, no qual solista, orquestra e bailarinos dão vida às Quatro Estações de Vivaldi.
Já a apresentação Paprika, Zucchini & Co aproxima-se do bizarro. Uma orquestra de vegetais da Áustria produz música a partir de objetos comestíveis. O resultado – da música clássica à eletrônica – parece agradar ao paladar e aos ouvidos do público.
Também é incomum, pelo menos para um festival com Beethoven no nome, a performance dos rappers Samy Deluxe & Tsunami Band. Ela faz parte de um projeto premiado em que dez jovens de Bonn foram encarregados de planejar um concerto em todos os seus âmbitos.
Festival sem casa
Os organizadores do Beethovenfest podem estar mais perto do sonho de ver uma casa de concertos para o festival ser construída em Bonn – uma cidade de porte médio, que compete com outros centros culturais da região, como Colônia. O tema parecia esgotado, o projeto abandonado.
Mas o prefeito de Bonn, Jürgen Nimptsch, reascendeu as esperanças. "Sou totalmente a favor de construí-la, porque não fazê-lo seria desperdiçar uma oportunidade que o mundo inteiro nos inveja por termos. Por isso, acho que isso tem que acontecer", enfatizou.
Tal iniciativa privada não depende apenas da aprovação do prefeito. "Nas próximas semanas, precisaremos criar uma base legal segura para obtermos crédito", disse Nimptsch.
Tendo em vista o 250° aniversário de Ludwig van Beethovens em 2020, o prefeito até mesmo especificou uma data. "Se quisermos fazer a inauguração um ano antes do aniversário, para testar a nova casa de concertos, então, precisaríamos entrar com um pedido de concessão de alvará de construção na primeira metade de 2013. E é isso o que pretendemos fazer", afirmou Nimptsch.
Autor: Rick Fulker (lpf)
Revisão: Carlos Albuquerque