Beethovenfest mistura samba e ópera de Wagner em um só concerto
2 de setembro de 2013A ficha técnica do concerto já previa que seria uma miscelânea de estilos. Reunidos pelo trompetista alemão Otto Sauter, 24 músicos de diversos países subiram ao palco para apresentar o Projeto Richard Wagner, uma homenagem ao bicentenário do famoso compositor alemão. Realizado na última sexta-feira (30/08), o concerto faz parte do festival Beethovenfest, que se inicia no próximo dia 5, quinta-feira, em Bonn.
A ideia foi inserir nas famosas óperas do compositor, como Os Mestres cantores de Nuremberg, Tristão e Isolda, Siegfried e Parcifal, ritmos de fora da Alemanha e bem atuais. "Quem conhece as obras do compositor, vai reconhecer cada compasso", comenta Sauter. "Aqueles que ainda não o conhecem, vão simplesmente ouvir uma música fascinante".
Seja com bolero de origem hispânica ou com o hip hop que toma as ruas norte-americanas, a ópera de Wagner se entrelaçou a estilos musicais que muito se distanciam da época em que suas composições foram criadas.
"A música é o que une pátrias"
Parte do concerto foi dedicada à música brasileira. Para representá-la, Sauter convidou o cantor e contratenor brasileiro Edson Cordeiro, com quem, desde 2006, já fez várias parcerias musicais. O trompetista alemão conta que se impressionou ao ouvir Edson atingindo a quinta oitava, uma potência aguda muito difícil de alcançar e mais recorrente em vozes femininas. “Ele se transforma, é genial. Dá para sentir essa energia, que é típica dos brasileiros”, comenta Sauter.
Edson conta que, apesar da ópera barroca ser o seu campo de trabalho, ele conhece e aprecia Wagner como compositor. "Minha relação com Wagner é de amor e ódio. Não nego a importância dele como músico, mas como pessoa não concordo com as suas ideias, com o seu passado antissemita."
Wagner, de acordo com pesquisadores, levou a público o menosprezo aos judeus numa época em que a discriminação a eles já não tinha uma justificativa apenas religiosa, mas também política e racista. Após a sua morte, em 1883, o legado antissemita sobreviveu através dos seus descendentes e foi materializado no famoso Festival de Bayreuth, que excluía artistas judeus e perpetuava ideias racistas.
O brasileiro descontrai, dizendo que a integração proposta pelo concerto e a junção da ópera de Wagner com ritmos muito diferentes e vindos de várias partes do mundo é a melhor "vingança" contra os ideais pregados pelo compositor alemão. Ele comenta que uma das únicas coisas que pode ser capaz de juntar os povos é a música. "A música é o que une duas pátrias, ela é generosa com todas as culturas."
A tragédia de Tristão e Isolda na Bahia
Cordeiro cantou as cinco últimas músicas do espetáculo e abriu a participação brasileira com Brazil Wedding, de Marcelo Lessa, e a ópera romântica de Lohengrin. Em seguida, a ópera Os mestres cantores de Nuremberg foi misturada à canção Sunshine in your eyes, de Luiz Carlos da Silva, e também a um potpourri que une dois clichês brasileiros: samba e futebol.
A trágica história de amor de Tristão e Isolda é embalada pela romântica composição de Ary Barroso Na baixa do sapateiro, que descreve as lamentações de um amor perdido na Bahia. E, para encerrar o concerto, a composição de Jorge Ben Jor Mas que nada, acompanhada pelo compasso operístico de O holandês voador.