Depois de 15 anos parcialmente fechada para reformas, a sede da Biblioteca Estatal de Berlim, localizada na avenida Unter den Linden – conhecida como Stabi Ost –, foi reaberta nesta segunda-feira (25/01) numa cerimônia online. A reinauguração do prédio, que abriga desde 1904 a biblioteca criada em 1661, foi ofuscada pela pandemia de covid-19. Os visitantes terão que esperar, pelo menos, até meados de fevereiro para visitar o local.
Uma da maiores da Europa, a biblioteca abriga uma rica coleção, incluindo partituras originais de Johann Sebastian Bach e Wolfgang Amadeus Mozart. Do lado oriental de Berlim, durante a antiga República Democrática Alemã (RDA), o prédio danificado durante os bombardeios da Segunda Guerra Mundial passou apenas por reformas essenciais e, por isso, essa grande obra foi necessária.
Desde que moro em Berlim, a Stabi Ost está em obras, conheci apenas a nova e impressionante sala de leitura e espero em breve ter a oportunidade de conhecer o resto do prédio, do qual já ouvi muito falar sobre os espaços incríveis para se trabalhar.
Sempre gostei muito de bibliotecas. Desde cedo fui incentivada a emprestar livros: na pré-escola, tínhamos o dia de levar um livrinho que gostávamos para trocarmos entre os colegas da turma. Depois cresci emprestando livros no colégio, onde havia um dia do mês no qual toda a turma era "obrigada” a ir na biblioteca escolher um livro. Era uma biblioteca pequena, mas na época parecia enorme e sempre havia um livro interessante para ler.
Na adolescência, passei a frequentar a Biblioteca Pública, buscando títulos nos arquivos, anotando os números daqueles que chamavam a atenção e levando o máximo possível para casa, pois, afinal, ela ficava longe de onde morava. Com o tempo, esse costume foi se perdendo um pouco: veio faculdade, estágio, trabalho e já não havia mais tanto tempo livre para simplesmente dar uma passada na biblioteca e ficar lá horas buscando títulos interessantes nos arquivos.
Quando vim para a Alemanha, o interesse por bibliotecas voltou com tudo. Fazendo mestrado, bibliotecas eram espaços fundamentais. E esses locais aqui também impressionam. Em Berlim, fica a biblioteca do Instituto Ibero-Americano, popularmente conhecido como Ibero, que possui a maior coleção da Europa de livros de língua espanhola e portuguesa. Há quase tudo ali, nunca procurei um título que eles não tinham. A possibilidade de ter acesso e poder ler a autores brasileiros no original dá uma sensação de estar mais próximo de casa.
Além das grandes bibliotecas, como as Stabi Ost e West e o Ibero, frequentadas principalmente por estudantes das universidades da cidade e pesquisadores, há várias menores distribuídas pelos bairros berlinenses. Nelas, há acesso à internet, salas de leituras, jornais e revistas. Atualmente, a carteira de leitor para essas bibliotecas públicas estaduais custa 10 euros para maiores de 18 anos. Já para menores ela é gratuita, assim como para quem depende de benefício social. Há também um desconto para estudantes.
Com a pandemia e o lockdown, o secretário de Cultura de Berlim disponibilizou a todos os moradores da cidade uma carteira de leitor digital gratuita, válida por três meses. Com ela, é possível ter acesso a todo acervo digital das bibliotecas públicas locais, que, além de livros digitais, possui álbuns de diversos artistas e vários filmes disponíveis num streaming próprio – muitos bem interessantes.
Ao anunciar a decisão na semana passada, Klaus Lederer lembrou a importância de disponibilizar o acessos ao acervo das bibliotecas em tempos de pandemia, não somente para o aprendizado, mas também para o lazer. "A carteira gratuita é um sinal importante de que nossas bibliotecas estão disponíveis para todos, inclusive agora". Ele ainda convidou os moradores a aproveitarem essa chance para conhecer o conteúdo cultural destes espaços.
Falando em leitura, aqui em Berlim, durante o lockdown apenas serviços essenciais podem permanecer abertos. E entre eles estão as livrarias.
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Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy. Siga-a no Twitter.