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Berlim e Paris combinam reforma da UE

Estelina Farias15 de janeiro de 2003

Alemanha e França vão apresentar uma proposta conjunta para reforma da União Européia, mas evidenciam diferenças quanto ao Iraque. Berlim mantém seu não a uma guerra e Paris vê o uso de armas como último recurso.

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Gerhard Schröder (direita) e Jacques Chirac, no Palácio EliseuFoto: AP

O chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, e o presidente francês, Jacques Chirac, concordaram em apresentar uma proposta conjunta de reforma da União Européia (UE), no encontro que tiveram em Paris, na noite de terça-feira (14). A iniciativa comum prevê a eleição de dois políticos para a presidência da UE, por maioria qualificada dos chefes de Estado e de governo dos países-membros, bem como do presidente da Comissão Européia (órgão executivo da UE) pelo Parlamento Europeu. A presidência da UE deixaria, portanto, de ser rotativa, e passaria a durar dois anos e meio ou cinco anos, em vez dos seis meses atuais.

Schröder e Chirac concordaram também com a criação de um posto de ministro das Relações Exteriores da UE. A política externa comum européia é definida pelo Conselho de Ministros, ou seja, de comum acordo com os chefes da diplomacia dos 15 países-membros. A proposta teuto-francesa vai ser agora apresentada aos outros 13 parceiros europeus e à Convenção sobre o Futuro da UE, dirigida pelo ex-presidente da França Valéry Giscard d'Estaing. Os líderes alemão e francês combinaram também divulgar uma declaração conjunta por ocasião do 40º aniversário do Tratado de Amizade Teuto-Francês, na próxima quarta-feira (22).

Motor europeu funciona

Agora, a França aceita que o presidente da Comissão Européia (órgão executivo da UE) seja eleito pelo Parlamento Europeu. Para isso, os alemães concordam que o presidente da comunidade seja eleito pelo próprio Conselho da UE, revelou o chefe de Estado da França, após o encontro com o chefe de governo alemão. "Cada lado deu um passo em direção ao outro", declarou Chirac sobre o acordo, acrescentando que "isto mostrou mais uma vez como funciona bem o motor teuto-francês".

Schröder disse, por sua vez, que Berlim quer fortalecer a Comissão Européia, porque este órgão é responsável pela unidade européia e o seu aprofundamento. E a proposta de reforma fortaleceria também o Parlamento Europeu, segundo ele. O líder alemão destacou que a cooperação entre Berlim e Paris sempre foi um guia para a política externa na UE.

Parte da imprensa alemã publicou no último fim de semana rumores de que o ministro alemão das Relações Exteriores, Joschka Fischer, estaria cogitando ser presidente da Comissão Européia. O ministro do Partido Verde é o político alemão mais popular, conforme as pesquisas de opinião pública. Ele e o seu colega francês, Dominique Villepin, participaram do encontro de várias horas entre Schröder e Chirac.

Diferenças sobre Iraque

Enquanto o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, mantém-se um fiel escudeiro do presidente dos Estados Unidos, os mandatários alemão e francês evidenciaram novamente suas diferenças sobre uma possível guerra contra o regime do presidente iraquiano Saddam Hussein. Schröder confirmou o seu não incondicional a uma guerra. A Alemanha continua sendo pela aplicação das resoluções da ONU sobre desarmamento do Iraque, sem operação militar, e pediu mais apoio e tempo para a equipe de inspetores da ONU averiguar os palácios e arsenais no Iraque.

O governo francês, por outro lado, mantém sua tática inicial, segundo a qual o Conselho de Segurança é a instância decisiva no conflito com o Iraque, mesmo contra a vontade dos Estados Unidos. Paris apostou, desde o início, numa resolução para desarmar o Iraque, com ou sem guerra. O governo conservador francês não chegou a rejeitar os planos bélicos de Washington, mas deixou espaço para dizer não à guerra.