Berlim estuda dar ajuda militar ao Iraque
12 de agosto de 2014Um dia após a recusa categórica em fornecer armas para os curdos que lutam contra os jihadistas do "Estado Islâmico" no norte do Iraque, o governo alemão recuou. O Ministério da Defesa, em coordenação com o Ministério do Exterior, admitiu que estuda a possibilidade de uma cooperação com o Exército iraquiano e com os curdos, através do fornecimento de material militar não letal.
O anúncio surpreendente foi feito pela ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, nesta terça-feira (12/08), e acendeu na Alemanha uma discussão interna entre políticos e especialistas – uns salientam os malefícios de novas armas no Iraque e outros defendem o armamento militar para proteger a existência de minorias na região.
O governo alemão, no entanto, se mantém firme na decisão de não enviar armamento letal para o Iraque. Von der Leyen, da União Democrata Cristã (CDU), o mesmo partido da chanceler federal Angela Merkel, declarou que a Alemanha tem o dever de "aproveitar todas as oportunidades disponíveis" para ajudar o Iraque.
A ministra citou veículos blindados, detectores de metal, capacetes, coletes e suprimentos médicos como possíveis materiais militares a serem enviados. "A Bundeswehr está verificando como apoiar os iraquianos da maneira mais rápida e útil", disse Von der Leyen, que garantiu que a decisão será tomada em questão de dias.
O ministro do Exterior da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, do Partido Social Democrata (SPD), concordou com a decisão. "Considerando a ameaça existencial, sou a favor de usar todas as possibilidades políticas e jurídicas", salientou. "Precisamos ajudar essas pessoas."
O ministro ainda garantiu que está em contato com o presidente da região autônoma curda no Iraque, Massud Barzani, "para ver como se pode oferecer apoio nesta situação extremamente crítica". Barzani e os combatentes curdos esperam que o apoio alemão inclua o envio de armas. Mas este desejo não deverá ser atendido por Berlim.
"É um dos princípios das políticas de exportação de armas deste governo, assim como de todos os governos anteriores, não enviar armas a zonas de crise e de guerra", disse o porta-voz do governo Steffen Seibert. "Este é um princípio ao qual o governo se sente comprometido a seguir."
Debate político
Esta também é a opinião do presidente da comissão para relações exteriores do Bundestag, o democrata-cristão Norbert Röttgen. "Envio de armas em uma situação aguda de conflito militar infringiria claramente as diretrizes alemãs para exportação de armas e também não contribuiria para a solução do conflito", disse.
Já o colega de partido de Röttgen, o especialista em política externa Karl-Georg Wellmann, discorda. "A Alemanha está em uma situação que está gradualmente me envergonhando", reclamou o parlamentar.
O apoio ativo vem principalmente dos Estados Unidos, segundo ele. "E nós só dizemos que fornecemos algumas tendas e que daremos mais um milhão e que acolheremos mais alguns refugiados", lamenta Wellman. "Só ficar observando e fazendo promessas não é o suficiente para mim. Os curdos são moderados e pensam como nós no Ocidente.".
Já o parlamentar e perito em política externa do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) Rolf Mützenich acredita que o envio de armas não traria melhora alguma. Segundo ele, não existe falta de armas no Iraque. "Mais de 12 bilhões de dólares foram gastos em armas nos últimos anos. O problema decisivo é que os diversos grupos no Iraque não estão preparados para agir juntos contra seu inimigo comum. E eu acho que temos de nos concentrar nisso e que armas também podem, eventualmente, ser utilizadas novamente em uma nova guerra civil."
Ele acredita que a Alemanha deve cooperar com outros Estados ocidentais para alcançar que seja formado no país um governo de unidade nacional.
Ironicamente, são os tradicionalmente pacifistas do Partido Verde que se dizem a favor de envio de armas. O líder do partido Cem Özdemir diz que os combatentes curdos já salvaram as vidas de milhares de yazidis.
"Eles não fizeram isso com um tapete de yoga debaixo do braço, mas com armas, armas que eles que receberam dos americanos", ressalta.
Políticos do partido A Esquerda rejeitam tanto o fornecimento de armas aos curdos quanto as ações militares dos Estados Unidos. Segundo a deputada Ulla Jelpke, não são os ataques aéreos americanos, mas milícias curdas, especialmente os guerrilheiros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que salvam dezenas de milhares de vidas. A política está atualmente visitando regiões curdas, para ter uma impressão pessoal sobre a situação. "Os refugiados precisam urgentemente de ajuda humanitária", ressalta.
O líder da bancada de A Esquerda, Gregor Gysi, também rejeita os ataques aéreos dos EUA. "Mas apoio, em qualquer caso, que eles joguem água e comida para a população. Isso é importante", sublinha. "A verdadeira tragédia é, no entanto, que não haveria esse conflito se não tivesse existido antes uma guerra no Iraque", comenta.
Ajuda humanitária
Uma aliança de políticos, ativistas dos direitos humanos, artistas e comunidades religiosas apela para que o governo alemão dê mais ajuda humanitária aos cristãos, yazidis e outras minorias religiosas perseguidas no Iraque. Devido à situação tensa de refugiados na região, cresce a preocupação de que a Alemanha reaja tarde demais.
"A ascensão da organização radical islâmica 'Estado Islâmico' ameaça as vidas de dezenas de milhares de pessoas no Iraque", diz uma carta aberta assinada por líderes dos partidos governistas CDU e SPD, além dos opositores Verdes, FDP e do partido A Esquerda.
O governo alemão aumentou sua ajuda humanitária para os perseguidos em cerca de 4,4 milhões de euros. Até agora, haviam sido disponibilizados cerca de 2,9 milhões de euros. A verba se destina a financiar essencialmente o fornecimento de medicamentos e itens para reabilitação física, acesso à água potável e para o restabelecimento de meios de subsistência para os refugiados.
O governo alemão está em contato estreito com agências da ONU, como o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), e também com organizações internacionais e alemãs, para possibilitar eventuais ações adicionais.