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Berlim saúda soberania antecipada para o Iraque

av28 de junho de 2004

Os Estados Unidos e o governo iraquiano de transição surpreenderam o mundo, antecipando em dois dias a entrega de soberania àquele país do Oriente Médio. Motivo foi a tensão reinante e a ameaça terrorista.

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Iyad Allawi é primeiro-ministro interino do IraqueFoto: AP

O administrador civil norte-americano no Iraque, Paul Bremer, entregou nesta segunda-feira (28) ao novo governo interino um documento, selando as alterações das relações de poder naquele país. Segundo a emissora norte-americana CNN, Bremer deverá deixar o Iraque ainda neste mesmo dia.

Esta transferência estava originalmente prevista para o dia 30 de junho. Com a cerimônia, o país ocupado pelos norte-americanos desde abril passado recebe de volta sua soberania. Entretanto, uma tropa multinacional de mais de 150 mil soldados, sob o comando dos EUA, continuará encarregada da segurança.

O ministro iraquiano do Exterior, Hoshiar Sibari, anunciou de forma surpreendente a transferência antecipada durante o encontro de cúpula da Otan em Istambul. A decisão já se esboçara na noite do domingo. Sibari explicou que, através da antecipação, espera-se evitar novos atentados terroristas.

Sinal de amadurecimento

O governo alemão saudou a transferência de poder antecipada. O chanceler federal, Gerhard Schröder, enviou um telegrama parabenizando o premier interino do Iraque, Iyad Allawi. Nascido em 1945 numa família xiita e formado em neurologia, Allawi é líder do Acordo Nacional Iraquiano, formado por exilados.

Segundo porta-voz do Ministério alemão do Exterior, para o Iraque trata-se de "um importante passo de volta ao círculo das nações independentes".

Por um lado, esses dois dias foram considerados "não relevantes". Por outro lado, a antecipação mostra que "agora as coisas estão amadurecidas" para a transferência, declararam fontes do governo durante a cúpula em Istambul.

A Alemanha comunicou que manterá sua recusa de enviar soldados para aquele país do Oriente Médio. Obedecendo ao desejo dos iraquianos, o país continuará ajudando na formação de forças de segurança, em cursos de treinamento nos Emirados Árabes.

Democracia distante

Segundo o jornalista Peter Philipp, da Deutsche Welle, "há planos concretos e promissores para o Iraque após a transição: democratização e soberania". Contudo, diante da escalada de violência terrorista, "esses planos parecem ser nada mais do que tinta no papel".

Prova é que o governo de transição já considera adiar as eleições e se vê forçado a decretar leis de emergência suspendendo todas as liberdades, na "luta contra o terrorismo".

Philipp acredita que um Iraque democrático ainda é uma visão distante. Ele cita o ex-embaixador israelense na Alemanha, Avi Primor: num debate recente este afirmou que tão cedo não haverá democracia verdadeira no Iraque. Em sua opinião, o país precisa é de um "homem forte".

Más cartas para o novo governo

No momento ocorre no Iraque uma luta contra ocupadores, membros do governo de transição, estrangeiros e contra todos os que "participem da construção de um Iraque novo e melhor", afirma o comentarista político da Deutsche Welle.

E quando os próprios EUA falam em "rebeldes", cresce a impressão de que se trata de uma luta justificável, não só do ponto de vista emocional como até do direito internacional. Enfim, a entrega de poder ocorre sob uma estrela negativa.

"Foi exagerado esperar a democratização do país no espaço de alguns meses", afirma Philipp. "Após a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha precisou de quatro anos até as primeiras eleições livres e de dez até ter a soberania. Por que o processo transcorreria mais rapidamente no Iraque, que nunca teve um passado democrático, mas sim, quase exclusivamente, o domínio totalitário?"