Galerias
9 de abril de 2008Até o próximo 15 de junho, a promessa dos organizadores da 5ª Bienal de Berlim é a de que a cidade respire arte dia e noite. Enquanto o programa diurno da mostra tem quatro estações com trabalhos recentes de artistas contemporâneos de todo o mundo, a oferta noturna tem nada menos que 63 eventos espalhados por toda a cidade. As exposições da Bienal são acompanhadas de concertos, shows, sessões de cinema, performances, palestras e oficinas.
A idéia é tornar público o que já se sabe há muito no circuito das artes plásticas, ou seja, que Berlim se tornou, nos últimos cinco anos, a cidade preferida dos galeristas e artistas na Europa. A Confederação das Galerias Alemãs (BVDG) registra que a capital alemã tem hoje 350 galerias. Outros especialistas acreditam que este número pode chegar até a 500, o que significa um número maior que o registrado em Nova York.
Metrópole (barata) das artes
"A atmosfera de Berlim como metrópole é muito atraente, não só devido à arte. Onde as coisas acontecem, seja no âmbito social, político ou artístico, estão obviamente presentes muitos artistas importantes, tanto do país quanto estrangeiros", diz Klaus Gerrit Friese, presidente da BVDG. Atrás dos artistas vieram a Berlim, então, incontáveis galeristas.
Outro fator que atrai artistas à capital alemã é o fato de que "aqui se pode viver com muito menos dinheiro do que em outras cidades européias. Paga-se muito menos tanto por um apartamento quanto por um ateliê", lembra o galerista Martin Mertens. Para alugar a sua galeria num prédio onde estão também alojadas outras vinte galerias na Brunnenstrasse, no bairro Mitte, Mertens paga 400 euros por mês. "Em Paris, Hamburgo ou Londres teria que gastar muito mais", diz o galerista.
Longa tradição
A tradição de Berlim como "metrópole das artes" é longa e vem dos anos 1920, lembra o galerista Thomas Schulte no International Herald Tribune. Um dos fatores que propiciam essa atração exercida pela cidade sobre os artistas é sua localização, no centro da Europa. Embora interrompida durante o período do regime nazista, a cidade parece que vem recuperando toda a sua aura desde a queda do Muro, em 1989.
Uma questão, porém, paira no ar: como (sobre)vivem marchants e galeristas numa cidade que, de acordo com os padrões europeus, é considerada pobre e isenta de uma população com alto poder aquisitivo? Segundo Friese, há realmente boa parte da população da cidade sem poder de compra, embora isso não tenha tanta importância.
Mais relevante neste contexto é a fascinação e o movimento em torno do cena artística. "Além disso, todo mundo espera que, aos poucos, se crie um círculo bem estruturado de colecionadores como na região da Renânia. É esperar mais cinco anos para ver o que os números dizem".
Influência dos grandes colecionadores
Na opinião de Mertens, nem é preciso esperar tanto, uma vez que já são visíveis os sinais de aumento do poder aquisitivo no circuito artístico da cidade. Muito importante neste sentido, segundo ele, é a presença dos grandes colecionadores que se mudaram para a cidade e expõem suas coleções ao público, entre eles Boros, o casal Hoffmann, Haubrock e Schürmann.
Com a manchete Cada um constrói seu museu, o semanário Die Zeit publicou recentemente uma matéria sobre o poder que esses colecionadores adquiriram em Berlim. E como eles, desta forma, ditam os rumos da cultura alemã.