Berlim tem jardim das 1001 Noites
1 de outubro de 2005Quatro canais bem estreitos dividem o jardim interno do parque em quatro áreas, cujo centro é um oásis cheio de flores. Em seu meio, um pavilhão de madeira representa de forma estilizada a fonte da vida.
Jardim celestial como modelo
A fonte de inspirações do arquiteto que projetou o jardim, Kamel Louafi, foi o jardim celestial descrito no Corão. Esta tradição tem origem no século 7º e está presente na jardinagem islâmica desde o norte da África até a Índia.
Na Europa, o testemunho desta arte pode ser encontrado também em Alhambra, na Espanha. Só que os jardins das proximidades de Granada foram construídos ainda na Idade Média.
"Finalmente algo do meu mundo"
"Eu pensava que hoje em dia nem se podia mais fazer algo assim de forma tão suntuosa",disse Reinhard Jeda, de 57 anos, ao visitar o parque "por acaso" com a esposa, Hilde. Ambos procuravam paralelos entre o que viam e o que achavam ser características do mundo islâmico.
"É protegido dos olhares de fora, um pouco como o Ocidente dos olhares europeus", comenta Reinhard. Hilde confessa que sentiu "simplesmente um silêncio celestial ao entrar no jardim". O sírio Hammud, de 27 anos, veio com amigos: "Finalmente posso mostrar algo do meu mundo a eles".
Harmonia é a resposta mais freqüente quando se pergunta o visitante sobre a principal característica do Riyad, que em árabe significa "grande jardim".
Dang Phan, de 16 anos, berlinense de origem vietnamita, nunca esteve no Oriente. Mesmo assim, considera a arquitetura monumental do jardim como um clichê. "Os originais não podem ser tão idílicos", desconfia. Já Helena Siuts, de 52 anos, que visitou o parque com duas amigas, não duvida da autenticidade do Riyad: "Estou justamente lendo um livro sobre o médico de Ibn Sina. O que antes só existia na minha imaginação, encontrou aqui uma forma concreta".
Rígidas normas alemãs de construção
O Jardim Oriental de Berlim é uma "co-produção" teuto-árabe. Todo o projeto foi de responsabilidade do arquiteto Kamel Louafi, natural da Argélia e residente na capital alemã.
Empreiteiras alemãs assumiram a edificação, parte técnica da obra e colocação das plantas. As áreas mais ricas do local foram trabalhadas por um marroquino que veio especialmente à Alemanha. Sejam os trabalhos em relevo ou com azulejos, ornamentos como os tridimensionais "muquarnas", ou arabescos poligonais, chamados de "zillij", pinturas ou caligrafias: as mãos dos artesãos árabes deram um toque inconfundível ao jardim.
"Os artesãos tiveram grandes dificuldades para trabalhar sob as rígidas normas alemãs", explica o arquiteto Louafi. Os rejuntes dos azulejos tiveram de ser feitos com massa especial e mesmo a argamassa teve de receber uma proteção especial contra o frio, conta. Da mesma forma, as plantas, como laranjeiras, têm de ser transportadas para locais protegidos durante o inverno alemão.
Uma das raras "críticas" ouvidas dos árabes que visitam o parque é a falta de chás aromáticos ou o amargo café árabe. "Aí sim estaria tudo perfeito", exclama o marroquino Bachir Saad, de 32 anos.