Berlinale aposta em política
31 de janeiro de 2006Poucos dias antes da inauguração do Festival Internacional de Cinema de Berlim, o diretor da Berlinale, Dieter Kosslick, fez questão de destacar a tônica política do evento deste ano. Ao incluir na programação o filme britânico The Road to Guantánamo, ele quis dar ao cineasta Michael Winterbottom a oportunidade de se pronunciar sobre direitos humanos, declarou Kosslick.
O filme mostra a trajetória de três muçulmanos britânicos encarcerados durante dois anos na prisão norte-americana em Cuba, sem qualquer acusação formal. O enredo é fictício, mas se baseia em entrevistas e relatos verídicos. Indagado sobre quem ele gostaria de cumprimentar na cerimônia de gala do festival, Kosslick disse: "Os 450 prisioneiros de Guantánamo, presos sob violação dos direitos humanos".
De sindicato de ladrões a Teerã
O cineasta britânico Michael Winterbottom, já premiado com o Urso de Ouro por seu filme Neste Mundo (2003), não é o único diretor envolvido com temas políticos no festival deste ano. Os demais filmes da programação também são bastantes políticos e próximos da realidade, garantiu Kosslick.
Zemestan, de Rafi Pitt, um testemunho do cotidiano em Teerã, é a primeira contribuição iraniana ao festival em anos. A produção bósnia Grbavica, de Jarmila Zbanic, mostra os efeitos da Guerra dos Bálcãs sobre um adolescente. O ator e diretor italiano Michele Placido descreve um "sindicato de ladrões" romano em Romanzo Criminale. Syriana (EUA), de Stephen Gaghan, lança um olhar crítico sobre a atuação de grandes empresas no Oriente Médio.
O 56º Festival de Cinema de Berlim, realizado entre 9 e 19 de fevereiro, inclui 26 filmes na seção oficial, dos quais 19 participarão da competição pelo Urso de Ouro e o restante será apenas exibido ao público:
- Snow Cake, de Marc Evans (Grã-Bretanha / Canadá)
- En soap, de Pernille Fischer Christensen (Dinamarca)
- Syriana, de Stephen Gaghan (EUA) (fora do concurso)
- Slumming, de Michael Glowogger (Áustria)
- The New World, de Terence Malick (EUA) (fora do concurso)
- Elementarteilchen, de Oskar Roehler (Alemanha)
- The science of sleep, de Michel Gondry (França) (fora do concurso)
- Grbanica, de Jasmila Zbanic (Bósnia)
- A Prairie Home Companion, de Robert Altman (EUA)
- Wuji, de Chen Kaige (China) (fora do concurso)
- Der freie Wille, de Matthias Glasner (Alemanha)
- El custodio, de Rodrigo Moreno (Argentina / Alemanha)
- V for Vendetta, de James McTeigue (EUA) (fora do concurso)
- Invisible Waves, de Pen-ek Ratabaruang (Tailândia)
- The Road to Guantánamo, de Michael Winterbottom (Grã-Bretanha)
- Zemestan, de Rafi Pitts (Irã)
- Sehnsucht, de Valeska Grisebach (Alemanha)
- Romanzo Criminale, de Michele Placido (Itália)
- Candy, de Neil Armfield (Austrália)
- Isabela, de Pang Ho-Cheung (China)
- L'ivresse du pouvoir, de Claude Chabrol (França)
- Find me Guilty, de Sidney Lumet (EUA)
- Offside, de Jafar Panahi (Irã)
- Requiem, de Hans-Christian Schmid (Alemanha)
- Capote, de Bennett Miller (EUA) (fora do concurso)
- Pat Garret & Billy the Kid: Special Edition, de Sam Peckinpah (EUA) (fora de concurso)
Os filmes da seção Perspectiva Cinema Alemão 2006 são:
- Auszeit (Time Out), de Jules Herrmann
- Der die Tollkirsche ausgräbt (Digging For Belladonna), de Franka Potente
- Esperanza, de Zsolt Bács
- Hochhaus (Towerblock), de Nikias Chryssos
- Katharina Bullin – Und ich dachte ich wär’ die Größte (Katharina Bullin – And I Thought I Was the Greatest), de Marcus Welsch
- Der Lebensversicherer (Running On Empty), de Bülent Akinci
- Nichts weiter als (Nothing More Than), de Friederike Jehn, Sebastian Stern, Jens Schillmöller, Lale Nalpantoglu e Lars Büchel
- Schöner leben (Riding Up Front), de Markus Herling
- Vier Fenster (Four Windows), de Christian Moris Müller
- Warum halb vier? (why tree.thirty – you´ll never walk alone), de Lars Pape
- Wholetrain, de Florian Gaag
- Neun Szenen (Nine Takes), de Dietrich Brüggemann
A participação brasileira no festival deste ano é reduzida. O ciclo paralelo Fórum mostra Atos dos Homens, de Kiko Goifman, uma co-produção teuto-brasileira. Além do longa Casa de Areia, de Andrucha Waddington e do documentário Meninas, de Sandra Werneck e Gisela Câmara ), o festival mostra o curta Sexo e Claustro, de Cláudia Priscilla, na mostra Panorama.