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Dia de derrotas

8 de novembro de 2011

Primeiro-ministro italiano perde a maioria absoluta no Parlamento e diz ao presidente Giorgio Napolitano que irá renunciar após aprovar as reformas econômicas prometidas à União Europeia.

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Berlusconi sob pressãoFoto: picture alliance/abaca

Enquanto a iniciativa franco-alemã de introduzir um imposto sobre transações financeiras enfrentava a resistência de diversos países na reunião de ministros de Finanças da União Europeia (UE), nesta terça-feira (8/11) em Bruxelas, o politicamente abalado primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, perdia a maioria no Parlamento em Roma.

O resultado da votação desta terça-feira na Câmara dos Deputados italiana não teve significado político, mas psicológico, já que a votação não estava associada a uma moção de confiança. Tratava-se da aprovação da prestação de contas do orçamento de 2010, uma mera formalidade. "Mas a votação mostrou que o governo perdeu a maioria na Câmara", declarou o líder da oposição Píer Luigi Bersani, do Partido Democrático.

Somente 308 dos 639 deputados votaram a favor da prestação de contas do governo  Berlusconi. Os partidos oposicionistas de esquerda e uma série de dissidentes da ala da coalizão de centro-direita haviam decidido se abster de votar, embora estivessem presentes à votação. Dessa forma, a prestação de contas foi considerada aprovada.

Males da Itália

Com o seu comportamento, a oposição italiana deixou claro que o enfraquecido Berlusconi não possui mais a maioria absoluta de 316 votos dos 630 assentos na Câmara dos Deputados em Roma. Em outubro, após não ter conseguido aprovar a prestação de contas, Berlusconi pediu o voto de confiança, recebendo na ocasião exatos 316 votos a favor.

Mesmo antes da atual votação, seu parceiro de coalizão Umberto Bossi, líder do partido nacionalista Liga Norte, clamou Berlusconi na manhã desta terça-feira a abrir o caminho para que Angelino Alfano, líder do partido de Berlusconi Povo da Liberdade (PdL), assumisse a chefia do governo em Roma, acalmando assim os mercados e aliviando a pressão política.

O anúncio da perda de maioria absoluta no Parlamento em Roma pressionou o euro e a cotação nas bolsas de valores em toda a Europa. No passado, os mercados financeiros responderam com precisão milimétrica a boatos e especulações sobre um pedido de demissão de Berlusconi, que se tornou uma razão crucial para o problema de credibilidade da Itália nos olhos de políticos, analistas e da mídia.

Silvio Berlusconi Flash-Galerie
Berlusconi espera resultado da votação ao lado de Roberto Maroni (e) e Umberto BossiFoto: dapd

O fim de Berlusconi?

Já humilhado no encontro de cúpula do G20 em Cannes, na semana passada, quando também os chefes de Estado e de governo de outros países industrializados nomearam o Fundo Monetário Internacional (FMI) para vigiar as contas da Itália, Berlusconi cai agora ainda mais fundo no poço da crise política.

Jogar a toalha ou correr o risco mais uma vez? Essa é a pergunta que Berlusconi se faz após o fiasco numa votação de "mera formalidade", que pode ter se tornado a porta de saída para o bilionário e magnata da mídia de 75 anos.

No início da noite, Silvio Berlusconi foi chamado pelo presidente italiano, Giorgio Napolitano, para discutir a estratégia após o fiasco na votação parlamentar desta terça-feira. Segundo agências de notícias, Berlusconi não planejava entregar o cargo, mas discutir as implicações da votação.

Mais tarde, no entanto, o palácio presidencial italiano anucniou que Berlusconi disse ao presidente que irá renunciar assim que as reformas econômicas prometidas à União Europeia forem aprovadas. Para alguns observadores, no entanto, o primeiro-ministro italiano procura apenas ganhar tempo.

Até agora, a Itália foi o único país do sul da Europa duramente afetado pela crise, no qual nada de drástico ocorreu no governo. A Espanha faz novas eleições, e os gregos também estão à procura de um novo governo – e de um novo governante.

Resistência em Bruxelas

No entanto, não foi somente Berlusconi quem sofreu uma derrota nesta terça-feira. Durante o G20 em Cannes, os líderes da zona do euro não conseguiram impor a introdução de um imposto global sobre transações financeiras. Para muitos especialistas, essa ideia só faria sentido em nível mundial, caso contrário os negócios seriam transferidos para países sem a taxação.

Mas, mesmo dentro da União Europeia, a iniciativa apoiada pelas maiores economias do bloco, Alemanha e França, enfrenta dura resistência. Na reunião de ministros de Finanças da UE, nesta terça-feira em Bruxelas, a proposta de introdução de tal imposto na Europa enfrentou duras críticas, principalmente do Reino Unido e da Suécia, mas também da Holanda.

Reunião de ministros em Bruxelas resiste a iniciativa franco-alemã
Reunião de ministros em Bruxelas resiste a iniciativa franco-alemãFoto: dapd

"Eu sugiro que arquivemos a ideia de um imposto europeu sobre transações financeiras", disse o ministro britânico das Finanças, George Osborne, em Bruxelas.

Seu colega de pasta sueco, Anders Borg, afirmou por sua vez que a taxação sobre todas as transações financeiras "seria uma forma bastante eficaz de elevar a pressão sobre o desenvolvimento e os custos de empréstimos a países endividados". Tal preocupação também foi compartilhada em Bruxelas pelos maltratados italianos.

Autores: Carlos Albuquerque / Christoph Hasselbach
Revisão: Roselaine Wandscheer