Contra três juízas
16 de fevereiro de 2011O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, ainda não se manifestou publicamente após a Justiça italiana decidir levá-lo a julgamento. Já a oposição é implacável e pede a renúncia do líder político que protagoniza o escândalo sexual que ficou conhecido como Rubygate, em referência ao nome da mulher envolvida.
"O princípio da presunção de inocência da nossa Constituição também vale, naturalmente, para ele. Mas nós dizemos: chega. Como qualquer político de qualquer democracia do mundo, ele deveria renunciar. E se ele está convencido de ser um inocente vítima de perseguição, como afirma constantemente, deveria comparecer diante do juízes para se defender", afirmou o líder do Partido Democrático (PD), Dario Franceschini.
Berlusconi já escapou outras vezes do confronto jurídico. Desta vez, no entanto, o início do julgamento já tem data marcada: 6 de abril. E o tribunal será composto por três juízas, que analisarão o envolvimento de Berlusconi com uma prostituta de 17 anos. Tudo indica que o destino do Cavalier está nas mãos de mulheres.
Sem apoio popular
"Mais uma vez, a Justiça está sendo usada com um objetivo político. Por trás disso, está uma clara vontade de me perseguir", afirmara Berlusconi ainda antes do anúncio judicial desta terça-feira (15/02).
Os italianos, no entanto, não estão convencidos da inocência do sei líder. Uma pesquisa feita por um canal de televisão mostrou que 79% dos entrevistados são a favor da renúncia do primeiro-ministro. Mas Berlusconi não deve deixar o poder por livre e espontânea vontade.
Enquanto seu chefe de governo tenta se livrar das acusações, a Itália segue numa situação difícil e num rumo incerto. Para quem acompanha o desenrolar da história de perto, o país pode estar diante de uma grave crise institucional.
"Caso Berlusconi não renuncie, o que ele não deverá fazer mesmo, haverá uma situação na qual não se sabe nem mesmo quem poderá ser o juiz. Há um processo e o acusado é Berlusconi. Eu não tenho nem ideia de como o presidente Giorgio Napolitano poderia intervir", analisa o jornalista Francesco Verderani, do Corriere della Sera.
"Bunga bunga"
O escândalo pelo qual o primeiro-ministro será julgado surgiu em outubro de 2010. Na época, jornais publicaram que a então menor de idade conhecida como Ruby Rubacuori (Ruby Rouba Corações) havia participado de várias festas privadas numa propriedade de Berlusconi. Os eventos eram chamados de "bunga bunga", em referência às atividades sexuais que seguiam os jantares.
Mas o caso de Ruby é apenas um dos vários que já chegaram a público. Diversas mulheres já disseram ter recebido dinheiro de Berlusconi, que também lhes concedia acesso livre a apartamentos luxuosos na região de Milão.
As provas contra o primeiro-ministro foram reunidas num documento de 700 páginas pela promotoria de Milão. O político, de 74 anos, terá que se defender da acusação de prostituição de menores e de abuso de poder – Berlusconi teria pedido a um chefe da polícia que liberasse Ruby quando ela foi presa, em maio do ano passado, sob a alegação que ela era sobrinha do ex-presidente egípcio, Hosni Mubarak.
Um país em crise
Segundo o código italiano, Berlusconi tem 15 dias para se decidir por três alternativas. O primeiro-ministro poderia negociar um acordo – no entanto, ele teria que admitir a culpa, o que é improvável.
O político também poderia optar por um processo curto: nesse caso ele se livraria de comparecer ao tribunal e o julgamento se daria com base na documentação apresentada. Mas seus advogados teriam um campo de ação reduzido, não podendo, por exemplo, nomear testemunhas.
É mais provável que ele deixe o processo correr e tente, com sua legião de advogados, encontrar uma lacuna para escapar das acusações. Do ponto de vista jurídico, Berlusconi ainda não está derrotado. Mas, do ponto de vista político, o estrago é grande.
Autoras: Daniela Stahl / Nádia Pontes
Revisão: Alexandre Schossler