Bibliothek: Os escritores mais populares da Alemanha hoje
9 de maio de 2017Há algumas maneiras de se pensar em popularidade. Há a lista dos mais vendidos. Há os livros que parecem segurar o carinho dos leitores alemães ao longo das décadas, sempre aparecendo nas estantes das gerações mais variadas.
Na lista dos mais vendidos da semana no portal Spiegel Online, o alemão melhor colocado nas edições de bolso é Sebastian Fitzek, nascido em Berlim em 1971, com o livro AchtNacht (Knaur, 2017). A premissa do livro: num mundo alternativo, a Alemanha institui uma "loteria da morte". Toda noite de 08/08 (daí o título, Acht / oito, Nacht / noite), o nome de uma pessoa é sorteado, e qualquer um no país pode matá-la com impunidade. E ainda recebe 10 milhões de euros. O livro está em terceiro lugar.
Entre os livros de capa dura, o melhor colocado em língua alemã é o suíço Martin Suter (Zurique, 1948), que aparece em 6° lugar com Elefant (Diogenes, 2017). Também ambientado em um futuro possível no qual experimentos genéticos criam animais para nosso prazer, o livro centra-se em um minielefante... cor-de-rosa e que brilha.
Na seção de brochuras (paperback), há um alemão em primeiro lugar: o escritor que mescla sátira e crime Jörg Maurer, com Im Grab schaust du nach oben (Do túmulo olha-se para cima).
Fora desse aspecto, há dois autores alemães que eu citaria como recomendações, que explodiram na década de 1990 e têm tanto o carinho dos leitores como o respeito dos críticos, com atuações também na imprensa. Em primeiro lugar, falaria de Sibylle Berg, nascida em 1962 em Weimar, na Alemanha, mas naturalizada suíça. Crítica mordaz, com uma escrita ágil e penetrante, dirige sua escrita tanto contra a complacência dos engravatados de Zurique como contra os moderninhos de Berlim. Seu livro de estreia, Ein paar Leute suchen das Glück und lachen sich tot ('Um par de gente procura a felicidade e morre de rir', 1997) foi um dos livros marcantes daquela década. Seu último livro é Wunderbare Jahre. Als wir noch die Welt bereisten (Anos incríveis. Quando nós ainda viajávamos, 2016).
O outro é Rainald Goetz, nascido em Munique em 1954. Seu primeiro livro foi o romance Irre (Engano) ainda em 1983. Mas foi com Rave (1998), centrado na Berlim pós-Muro, com suas festas intermináveis e o nascimento do movimento do techno, que se tornou um dos escritores mais conhecidos do país. Os dois ganharam alguns dos prêmios literários mais importantes da língua alemã.
Na poesia, há três autores que sempre encontro nas estantes de amigos. Mesmo que não haja nenhum outro poeta na biblioteca, um destes três está sempre lá: o alemão Heinrich Heine, o austríaco Erich Fried ou o alemão Rolf Dieter Brinkmann. Vou me concentrar em Fried aqui. Com uma escrita bastante simples e direta, é talvez o mais popular de todos. É ótimo para quem está começando a aprender alemão, por exemplo.
Para quem quiser tentar traduzir, segue abaixo um poema que já virou canção bem popular há alguns anos. Na semana que vem, posto a minha tradução. E sintam-se à vontade para mandar recomendações de autores que vocês gostariam de ver discutidos por aqui!
Was es ist
Erich Fried
Es ist Unsinn
sagt die Vernunft
Es ist was es ist
sagt die Liebe
Es ist Unglück
sagt die Berechnung
Es ist nichts als Schmerz
sagt die Angst
Es ist aussichtslos
sagt die Einsicht
Es ist was es ist
sagt die Liebe
Es ist lächerlich
sagt der Stolz
Es ist leichtsinnig
sagt die Vorsicht
Es ist unmöglich
sagt die Erfahrung
Es ist was es ist
sagt die Liebe
Na coluna Bibliothek, publicada às terças-feiras, o escritor Ricardo Domeneck discute a produção literária em língua alemã, fala sobre livros recentes e antigos, faz recomendações de leitura e, de vez em quando, algumas incursões à relação literária entre o alemão e o português. A coluna Bibliothek sucede oBlog Contra a Capa.