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Biden, Macron e Johnson criticam revés sobre aborto nos EUA

24 de junho de 2022

Líderes dos EUA e de outros países defendem direito de interromper gravidez, e empresas dizem que pagarão viagens de funcionárias que fizerem procedimento em outros estados. Trump e órgão do Vaticano celebram veredito.

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Biden discursando na Casa Branca
Biden pediu aos americanos que elejam congressistas comprometidos em estabelecer o direito ao aborto em uma lei federalFoto: Alex Wong/Getty Images

A decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos que derrubou o direito ao aborto, nesta sexta-feira (24/06), despertou reações de autoridades do país e de outras nações.

O presidente americano, Joe Biden, afirmou ser um "dia triste para a Corte e para o país" e que faz os Estados Unidos retrocederem 150 anos. "Agora que [o caso] Roe [que garantia o direito ao aborto] se foi, vamos ser bem claros, a saúde e a vida de mulheres em todo o país estão sob risco", disse ele em um pronunciamento na Casa Branca. "A Corte fez algo que nunca tinha feito antes – retirar, de forma expressa, um direito constitucional, que é tão fundamental para muitos americanos."

Biden prometeu seguir empenhado em defender os direitos reprodutivos, mas lembrou que nenhuma ordem executiva editada por ele poderia garantir o direito de uma mulher escolher se deseja interromper uma gravidez.

Ele pediu aos americanos que elejam congressistas comprometidos em estabelecer o direito ao aborto em uma lei federal. "Neste outono [quando os EUA realizam eleições legislativas], [o caso] Roe está nas urnas. Liberdades pessoais estão nas urnas", disse.

Biden também alertou que a decisão sobre o aborto pode ser o prenúncio de novos vereditos conduzidos pela maioria conservadora da Suprema Corte que também afetem o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e o direito à contracepção.

A ex-primeira dama Michelle Obama divulgou uma nota em que afirma estar "de coração partido" que o país iria enfrentar novamente as "lições dolorosas" de um período anterior à legalização do aborto no país – "uma época em que as mulheres corriam o risco de morrer ao fazerem abortos ilegais". "Isso é o que nossas mães, avós e bisavós viveram, e agora voltamos a esse ponto."

O ex-presidente Barack Obama declarou: "Hoje, a Suprema Corte não apenas reverteu quase 50 anos de precedente, como relegou a decisão mais intensamente pessoal que alguém pode tomar aos caprichos de políticos e ideólogos – atacando as liberdades essenciais de milhões de americanos."

Trudeau, Macron e Johnson se manifestam

Para o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, a decisão da Suprema Corte dos EUA é "horrível". "Nenhum governo, político ou homem deveria dizer a uma mulher o que ela pode ou não pode fazer com seu corpo", escreveu ele no Twitter.

O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que a decisão minava a liberdade das mulheres. "O aborto é um direito fundamental para todas as mulheres. Precisa ser protegido. Expresso minha solidariedade às mulheres cujas liberdades estão sendo minadas hoje pela Suprema Corte dos Estados Unidos", escreveu Macron.

A ministra das Relações Exteriores da França, Catherine Colonna, disse que o veredito significa um retrocesso para os direitos humanos. "Consternação: a revogação pela Suprema Corte dos EUA do direito ao aborto marca um grande revés para os direitos fundamentais. A França seguirá pronta para defendê-los", escreveu ela, também no Twitter.

Outro político europeu que criticou a decisão da Suprema Corte foi o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que a definiu como "um grande passo para trás" que tem "um imenso impacto no pensamento das pessoas em todo o mundo". "Sempre acreditei no direito da mulher de escolher e mantenho essa posição", disse Johnson.

O diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que está "muito desapontado" com a decisão. "Os direitos das mulheres precisam ser protegidos. E eu esperava que a América protegeria esses direitos", afirmou.

Diversas companhias sediadas nos Estados Unidos informaram, após a decisão da Suprema Corte, que irão reembolsar os custos com viagens de funcionárias que precisem ir a outros estados para realizar o aborto legal, como a Walt Disney Co., a Meta (dona do Facebook e do Instagram), a Netflix e a Alaska Airlines. Outras empresas já haviam anunciado o mesmo antes da decisão, como a Microsoft e a Tesla.

Trump e Vaticano comemoram

O ex-presidente Donald Trump, que nomeou três ministros da atual composição da Corte que garantem a sua atual maioria conservadora, disse à emissora Fox News que "Deus tomou a decisão", e que o veredito "segue a Constituição e coloca em seu lugar direitos que deviam ser reconhecidos há muito tempo".

A Pontifícia Academia para a Vida, um órgão oficial do Vaticano, também elogiou a decisão da Suprema Corte americana e disse que o veredito iria desafiar todo o mundo a refletir sobre o tema.

"O fato de que um grande país com uma longa tradição democrática ter mudado sua posição sobre o tema também desafia todo o mundo", disse a Academia em um comunicado.

O arcebispo Vincenzo Paglia, que comanda o órgão, afirmou que o veredito é "um convite poderoso a refletir sobre o tema" em um momento em que "a sociedade ocidental está perdendo a paixão pela vida".

bl/ek (Reuters, AP, AFP)