Biodigestores ajudam no saneamento e produzem energia limpa
2 de outubro de 2012Transformar resíduos em fontes de energia e, com isso, diminuir o volume de materiais descartados no meio ambiente tem sido o desafio de muitos pesquisadores. O Futurando dessa semana mostrou um projeto que transforma flores do campo em fonte de energia. O processo utilizado, os biodigestores, é conhecido dos brasileiros e tem sido empregado especialmente por suinocultores no Sul do país.
O processo de biodigestão é relativamente simples. Material orgânico é colocado em uma câmara de compostagem: o biodigestor. Bactérias se encarregam da decomposição da matéria orgânica e produzem gás metano, que pode ser usado para a queima direta ou para produzir eletricidade. Os resíduos do biodigestor, por sua vez, podem ser usados como adubo orgânico.
No Brasil, essa é uma tecnologia bastante utilizada na produção de suínos, como explica o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Wilson Tadeu Lopes da Silva, pós-doutor em química analítica e ambiental. Ele pesquisa, entre outros assuntos, o aproveitamento de resíduos na agricultura. Segundo ele, os estados do Sul têm usado intensamente a técnica, embora seja difícil precisar em números o volume de produção. “É uma fonte de energia que não pode ser desperdiçada”, enfatiza.
Potencial para produzir mais
Conforme o pesquisador, a produção bovina de leite ou carne não oferece um cenário tão propício para o uso de biodigestores, já que o material orgânico encontra-se diluído, como no caso da água residual da ordenha. O dejeto suíno apresenta as características ideais para a técnica: é pouco fibroso e rico em gases. Além disso, é um campo que oferece potencial de expansão no país.
Nos cálculos do pesquisador, o rebanho suíno brasileiro é estimado em 36 milhões de cabeças confinadas, o que poderia gerar 10,8 milhões de metros cúbicos de biogás todos os dias. Isso equivale a cerca de 30 mil botijões de gás de 30 quilos, como os usados nas residências. Silva explica que, no entanto, o engarrafamento do biogás não é necessariamente uma alternativa econômica viável para o cenário brasileiro, embora isso ocorra em países como a Alemanha. “A melhor forma de aproveitamento é a queima direta para aquecer granjas ou para movimentar motores estacionários na produção de energia elétrica”, explica.
Lucro com o excedente
Segundo o pesquisador da Embrapa, o mais importante, no entanto, não é o desempenho energético do biodigestor, mas sim seu potencial de saneamento. O biodigestor oferece uma forma segura de tratar os dejetos suínos que, de outra forma, acabariam oferecendo risco de poluir o meio ambiente. “É um sistema muito adequado, um ciclo fechado”, explica.
Na opinião de Silva, é fundamental que os produtores rurais tenham em mente que a energia e o adubo produzido pelos biodigestores são um bônus no processo de saneamento básico e ambiental. “A produção paga a manutenção do sistema e alguns produtores têm vendido o excesso para as concessionárias de energia”. Trata-se de uma forma de preservar o meio ambiente e completar a renda das propriedades rurais.
Autora: Ivana Ebel
Revisão: Francis França