Cidade sem luz
26 de novembro de 2011O guia turístico Axel Rudolph explica exata e detalhadamente aos participantes da blindwalk como eles devem colocar a máscara sobre seus olhos. "Poderia-se chamar de tapa-olhos, mas acho máscara para os olhos um termo melhor. Pois a ideia não é que a pessoa descanse, mas sim que ela faça algo durante a caminhada. Por isso gosto mais dessa expressão", diz o inventor da blindwalk. Os participantes, munidos de suas máscaras, passam a não reconhecer absolutamente nada, vivenciando uma Colônia completamente às escuras.
Rudolph tem, há muito, uma grande afinidade com esse tipo de experiência, através da qual o participante tem que abdicar do olhar. Aos 55 anos, ele é especialista em design acústico e, como tal, já criou, por exemplo, espaços escuros, nos quais deficientes visuais conduzem pessoas de visão perfeita por uma instalação com objetos sensoriais, intitulada pertinentemente de "Diálogo no Escuro".
Alguns anos mais tarde, foi ele quem abriu o primeiro restaurante no escuro da Alemanha, no qual deficientes visuais servem os clientes em um ambiente totalmente sem luz. "Agora estou ligando essas duas ideias, trazendo-as para o mundo real através da blindwalk", diz ele. A ideia é sair dos espaços escuros fechados e protegidos, para passar pela experiência da escuridão na vida do lado de fora, diz Rudolph.
Comunicação com um aparelho no ouvido e microfone
As visitas guiadas começam pontualmente às 15 horas e preveem um percurso de 1,2 quilômetro. O ponto de partida é o Museu Ludwig, em Colônia, nas imediações da catedral e da estação central da cidade. Cada um recebe um aparelhinho para o ouvido, através do qual ouve o que o guia diz pelo microfone, como observações sobre obstáculos no caminho ou anúncios de mudança de direção. Os participantes seguram na alça da mochila de quem está na frente e caminham bem próximos uns dos outros.
Os primeiros passos são normalmente dados com uma certa insegurança. Com cuidado, os participantes vão caminhando sobre o asfalto, sempre seguindo o guia e tentando não soltar a alça de quem está à frente. Os ruídos ao redor são registrados com intensidade, de maneira muito mais consciente que o normal. Para Lydia Kieven, essa foi a primeira experiência do gênero. "Piso com cuidado, prestando muita atenção no caminho, pois é possível haver alguma elevação no chão", diz ela.
Colônia com sons do porto de São Francisco
Aos poucos, chega-se à estação central, e o barulho dos trens vai se tornando cada vez mais intenso. Rudolph manda parar e coloca os participantes como que debruçados sobre uma sacada, a fim de que ouçam bem o barulho da estação, que tem um pavilhão semiaberto. Devido a esse tipo de construção, o som da estação central de Colônia é diferente daquele de outras estações, explica Rudolph.
"Há 20 anos, os sons da estação central de Colônia foram também motivo de uma instalação visual de Bill Fontana. Os ruídos foram gravados e enviados, por satélite, para São Francisco, para serem apresentados lá", lembra ele. Em contrapartida, foi possível ouvir, em Colônia, o ruído do porto em São Francisco e o murmúrio da água, que se misturava ao som da estação de trem, conta Rudolph.
Catedral com cheiro de porão
O participante da blindwalk mergulha em um mundo à parte, no qual os ruídos dominam a percepção sensorial. De repente, a sensação é a de se estar dentro de uma novela radiofônica. O cérebro trabalha e produz imagens relativas à ideia que se tem do ambiente por onde se transita.
"Não pode faltar uma visita à catedral de Colônia. Estou caminhando em direção à sua entrada principal. Quando abrimos a porta e entramos ali, precisamos ficar mais perto uns dos outros, talvez de tal forma que o braço chegue a encostar no de quem está do lado", alerta Rudolph os participantes antes de passarem pelo portão da catedral.
Ali dentro, a amplitude do lugar torna-se perceptível, bem como a frieza das paredes e das pedras. Os outros visitantes da catedral quase não são ouvidos, pois pouca gente conversa. Um dos participantes da blindwalk comenta: "Estou sentindo cheiro de incenso, o que será isso?". Rudolph passa com o grupo ao lado de velas, para que o calor delas possa ser sentido. "Acho que aqui está com cheiro de porão", diz alguém.
Piquenique no escuro
Já no Museu Romano-Germânico, os participantes tateiam, do lado de fora, esculturas e sarcófagos. Depois disso, o grupo se reúne para um piquenique do lado de fora, para comer uvas, croissants, ovos, tomates e tomar chá. No escuro, a experiência do paladar é também outra: a sensação consciente de estar comendo diferentes alimentos é mais intensa.
E, apesar da escuridão, os participantes de blindwalk reconhecem coisas da cidade, como, por exemplo, os "cadeados do amor", colocados em uma ponte sobre o Reno. Uma ideia que simboliza a ligação amorosa entre apaixonados, vinda da Itália e espalhada por diversas cidades europeias.
Lentamente de volta à realidade
A rota termina à beira do Reno. Os participantes tiram lentamente as máscaras que vendavam seus olhos, virando-se com cuidado para a luz do sol e olhando uns para os outros ainda sem orientação e direção. Depois de um tempo no escuro, é preciso se acostumar de novo à luz. "As pessoas ficam sempre pensativas no fim da rota. Elas se perguntam quais as percepções que têm no dia a dia? E o que puderam perceber durante o percurso, que não conseguem perceber na vida cotidiana", finaliza Rudolph.
Autor: Arne Lichtenberg (sv)
Revisão: Marcio Damasceno