Bolsonaro e Musk se reúnem para tratar da Amazônia
20 de maio de 2022O fundador da Tesla e da SpaceX, Elon Musk, se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro nesta sexta-feira (20/05) para discutir conectividade e outros projetos na Amazônia.
O encontro foi organizado pelo ministro das Comunicações, Fabio Faria, que disse que o governo está buscando parcerias com o homem mais rico do mundo para levar ou melhorar a internet em escolas e unidades de saúde da zona rural da região amazônica, usando tecnologias desenvolvidas pela SpaceX e pela rede de satélites de Musk, a Starlink. A preservação da maior floresta tropical do mundo também seria tema do encontro.
Apesar do encontro com Bolsonaro, o objetivo principal da visita de Musk ao Brasil é manter contato com empresários, visando acordos comerciais. Por essa razão, Musk e Bolsonaro se encontraram em um luxuoso resort no interior de São Paulo – e não no Palácio do Planalto, em Brasília, como é de praxe em encontros oficiais.
Nesta sexta-feira, Musk anunciou o lançamento da rede Starlink para conectar 19 mil escolas em áreas rurais e monitorar a Amazônia.
"Super empolgado por estar no Brasil para o lançamento do Starlink para 19 mil escolas não conectadas em áreas rurais e monitoramento ambiental da Amazônia", escreveu Musk no Twitter.
No encontro, não foram dados detalhes desta parceria e nem divulgados valores e prazos para o sistema entrar em funcionamento.
Bolsonaro quer ajuda para acabar com "mentiras"
Durante a conversa com Musk, Bolsonaro disse que a região amazônica é "muito importante" para o Brasil e que espera que o bilionário ajude a acabar com supostas "mentiras" sobre sua gestão da Amazônia, que é amplamente criticada internacionalmente. Durante o governo Bolsonaro, o desmatamento na região bateu recordes.
"Contamos com Elon Musk para que a Amazônia seja conhecida por todos no Brasil e no mundo, para mostrar a exuberância desta região, como a estamos preservando e o quanto nos prejudicam aqueles que espalham mentiras sobre esta região", disse o presidente.
A afirmação vem após Bolsonaro ser condenado globalmente por defender mais mineração e agricultura na Amazônia e pelo retrocesso ambiental do Brasil.
Vários órgãos de pesquisa, apoiados por inúmeras imagens de satélite, afirmam que o desmatamento na Amazônia aumentou sob a gestão de Bolsonaro. Em dezembro de 2021, um levantamento divulgado pelo Instituto Socioambiental (ISA) revelou que o desmatamento em áreas que deviam estar protegidas aumentou 79% nos três anos do governo de Bolsonaro, em comparação com período de 2016 a 2018.
Críticos apontam que o presidente é o principal culpado, tendo encorajado e apoiado madeireiros e grileiros a se apoderaram da região, sob a bandeira do "desenvolvimento".
Embora o governo argumente que na agenda de discussões com Musk estavam formas de monitorar a Amazônia, as atividades ilegais na vasta floresta já são acompanhadas por diversas instituições brasileiras, entre elas, a Polícia Federal, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e, sobretudo, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), alvo frequente de críticas e ataques de Bolsonaro.
Elogios pela possível compra do Twitter
Bolsonaro e Musk apareceram juntos em uma transmissão ao vivo na conta do presidente no Facebook, respondendo perguntas de um grupo de estudantes. "Muito pode ser feito para melhorar a qualidade de vida por meio da tecnologia", disse o bilionário.
Embora nenhum dos alunos tenha perguntado sobre a possível compra do Twitter por Musk, Bolsonaro disse que o negócio representava um "sopro de esperança". "A liberdade é o cimento para o futuro", disse o presidente, chamando o bilionário de "lenda da liberdade".
Assim como Musk, Bolsonaro procurou se posicionar como defensor da liberdade de expressão e se opôs ao banimento de membros da plataforma, incluindo do ex-presidente dos EUA, Donald Trump.
Bolsonaro criticou as principais plataformas de mídia social por seus esforços para combater a desinformação, incluindo a eliminação de seus comentários infundados ligando as vacinas contra covid-19 ao desenvolvimento de aids.
Musk se ofereceu para comprar o Twitter por 44 bilhões de dólares, mas, nesta semana, disse que o acordo não poderá ir adiante até que a empresa forneça informações sobre quantas contas na plataforma são spam ou robôs.
Uso político do encontro
O encontro de Bolsonaro com Musk ocorre apenas cinco meses antes das eleições presidenciais de 2022, que tem como líder nas pesquisas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A reunião de última hora de Bolsonaro com o bilionário é vista pelos responsáveis por sua campanha de reeleição como uma oportunidade positiva de promovê-lo, após uma semana de ataques do presidente ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Embora agora, com Musk, Bolsonaro fale em monitorar a Amazônia, o presidente se mostrou contra isso ao longo de seu mandato.
Em agosto de 2019, em meio à crise gerada pela contrariedade do governo com a divulgação de dados do desmatamento da Floresta Amazônica, o diretor do Inpe Ricardo Galvão foi exonerado.
Depois, em julho de 2020, Bolsonaro exonerou a coordenadora-geral de Observação da Terra do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), departamento responsável pelos sistemas Deter e Prodes, que monitoram o avanço do desmatamento da Amazônia. A exoneração ocorreu pouco menos de uma semana depois que o Inpe divulgou um número negativo sobre a devastação da Amazônia, apontando que em junho daquele ano o bioma registrou o maior número de alertas de desmatamento desde 2015.
le/cn (AFP, reuters, ots)