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Bolívia planeja ofensiva para explorar lítio

Srinivas Mazumdaru rk
18 de julho de 2017

Presidente Evo Morales quer expandir produção de metal usado para fabricar baterias. Enquanto governo promete gerar empregos com projeto, ambientalistas alertam para impactos da extração.

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Salina de Uyuni, na Bolívia: país concentra as maiores reservas de lítio do mundo
Salina de Uyuni, na Bolívia: país concentra as maiores reservas de lítio do mundoFoto: Robert Sieland

Num mundo cujo futuro deverá ser movido por baterias, o lítio emerge como uma das matérias-primas mais importantes da economia internacional e já é tido como um dos potenciais substitutos do petróleo.

Essa projeção está levando a Bolívia, considerada o país com as maiores reservas mundiais do metal, a manter o lítio sob rígido controle estatal. O presidente Evo Morales enxerga um futuro próspero para o país e aposta no veloz aumento do preço global do valioso recurso.

"Vamos desenvolver uma imensa indústria de lítio. Mais de 800 milhões de dólares já foram colocados à disposição", disse Morales à agência de notícias alemã DPA.

O lítio é o metal mais leve e menos denso entre os elementos sólidos. Por causa de sua leveza e da capacidade de recarregamento, é o principal ingrediente de baterias de lítio-íon, atualmente considerada a melhor tecnologia disponível para abastecer uma imensa diversidade de produtos, incluindo celulares e carros elétricos.

Bolivien - Lithiumgewinnung mit Boliviens Präsidenten Evo Morales
Presidente boliviano, Evo Morales (centro), quer investir pesado na produção de lítioFoto: picture-alliance/dpa/Agencia Boliviana De Informacio

Segundo artigo publicado no início de 2016 pela revista britânica The Economist, o preço internacional do carbonato de lítio puro, um dos elementos usados na produção de baterias, quase dobrou entre dezembro de 2015 e janeiro de 2016, subindo para 13 mil dólares por tonelada. Esse pico num espaço tão curto de tempo estimulou várias empresas ao redor do mundo a correr atrás de reservas de lítio.

Acredita-se que os desertos de sal na Bolívia contenham milhões de toneladas de lítio ainda inexploradas. De acordo com a US Geological Survey, o principal instituto de estudos de topografia e recursos naturais dos EUA, só o Salar de Uyuni – a maior salina do mundo e principal atração turística da Bolívia – contém nove milhões de toneladas de lítio, mais de um quarto das reservas mundiais conhecidas. No total, estima-se que o país possua cerca de metade do lítio do planeta. Alguns especialistas até sugerem que a Bolívia poderá se tornar "a Arábia Saudita do lítio".

Um aumento da demanda mundial por lítio – se o mercado passar a produzir mais veículos elétricos, por exemplo – pode se revelar propício para a Bolívia, cujas enormes reservas significariam um lucro repentino para o país.

Construindo uma indústria                                                

Mas, por enquanto, a Bolívia ocupa um lugar modesto no mercado global de lítio. Ao mesmo tempo, países vizinhos como Chile e Argentina dominam o mercado, apesar de possuírem reservas menores da matéria-prima.

Um complexo de exploração mineral para extração de lítio e cloreto de potássio (usado na produção de fertilizantes) está sendo construído atualmente na salina de Uyuni, numa área de 40 km². O governo diz que se trata de um projeto piloto e que quer investir centenas de milhares de euros na exploração de lítio e no desenvolvimento das capacidades de processamento do metal. Os planos do governo boliviano preveem o início da produção de carbonato de lítio em 2020.

Ainda assim, a Bolívia precisa superar uma série de desafios para concretizar o objetivo de desenvolver toda uma indústria de lítio.

O governo diz que não quer que o país seja um mero exportador da matéria-prima, preferindo que a Bolívia centralize toda uma cadeia de atividades de valor agregado envolvendo o metal. Isso incluiria, por exemplo, a construção de fábricas de baterias e de carros no país, com a esperança de gerar empregos e riqueza para a população boliviana.

Outra questão envolve a pureza do lítio extraído. As reservas da Bolívia são consideradas relativamente impuras porque contêm mais magnésio que o lítio encontrado em outros países. As planícies de sal do país são palco de inundações sazonais, o que dificulta e encarece o refinamento do produto porque a taxa de evaporação das salmouras acaba sendo reduzida (muitas vezes, o lítio é extraído de tanques de salmoura com o lítio suspenso e por meio da evaporação da água da suspensão).

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A infraestrutura deteriorada do país também é um obstáculo. A Bolívia tenta equiparar seus sistemas de serviços públicos, logística e transportes aos de países como o Chile, aumentando a construção de estradas, portos, redes elétricas e linhas de comunicação.

No médio prazo, a exploração e o processamento do metal também podem depender do fato de as baterias de lítio-íon continuarem sendo a tecnologia líder de armazenamento de energia para carros, smartphones e outros aparelhos móveis, como laptops.

Porém, o armazenamento de energia para veículos elétricos é uma tecnologia que precisa ser bastante amadurecida. Nos próximos anos, é possível que surjam tecnologias mais eficientes, ou com melhor relação custo-benefício, que a que se baseia no lítio.

Ecologia versus economia

Outro fator que pode afetar negativamente os planos do governo Morales quanto à indústria do lítio é a confiança dos investidores no governo boliviano.

No poder desde 2006, Morales é o primeiro presidente indígena da Bolívia e se tornou o líder que está há mais tempo no poder desde a independência do país, em 1825. Mas empresas multinacionais veem Morales com desconfiança devido à sua orientação política de esquerda, temendo que o governo boliviano nacionalize rapidamente o dinheiro investido no país.

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Sob Morales, porém, a Bolívia registrou uma das maiores taxas de crescimento da região. O presidente boliviano também é conhecido por ter utilizado os lucros das exportações de gás para modernizar a economia e por ser um dos líderes mais prudentes com políticas fiscais na América do Sul.

Atualmente, empresas como a alemã K-UTEC Ag Salt Technologies e a chinesa China's Linyi Dake Trade extraem lítio na Bolívia. Em setembro de 2016, o país também enviou 15 toneladas de carbonato de lítio para a China. Foi a primeira exportação do metal boliviano.

Ao mesmo tempo em que o governo adota um discurso otimista com os investimentos na indústria do lítio, aumentam as críticas sobre o impacto da extração do metal sobre o meio ambiente. Enquanto alguns apontam para a degradação causada pela produção de lítio nas salinas, há quem afirme que o processo de evaporação utilizado na extração do metal é menos poluente que outras formas de mineração. Porém, os especialistas são unânimes ao alertar que a ecologia sensível da região pode sofrer sérios impactos com qualquer projeto de extração mineral de grande porte.