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PolíticaBolívia

Bolívia registra violentos protestos após prisão de opositor

31 de dezembro de 2022

Manifestantes exigem libertação de governador de Santa Cruz, que foi acusado de terrorismo no caso que investiga a renúncia forçada de Evo Morales.

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Manifestantes jogaram jogos de artifício contra policiais em protesto em Santa Cruz
Manifestantes jogaram jogos de artifício contra policiaisFoto: Ipa Ibáñez/dpa/picture alliance

A prisão do governador de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, desencadeou nesta sexta-feira (31/12) violentos protestos na Bolívia. Acusado de terrorismo, o influente líder da oposição foi detido no âmbito do caso que investiga renúncia forçada de Evo Morales da presidência em 2019.

Camacho foi detido na quarta-feira na cidade de Santa Cruz e posteriormente transferido para La Paz, em uma questionada operação policial. Na manhã desta sexta, um juiz ordenou a prisão preventiva do opositor por quatro meses. Na audiência, Camacho afirmou que "nunca" vai desistir e que vai continuar "lutando" contra o que considerou um "abuso" do partido governante Movimento ao Socialismo (MAS).

O Ministério Público o acusa de crime de terrorismo pelos fatos registrados durante a crise de 2019 que levou à renúncia da presidência de Evo Morales, que posteriormente denunciou ter sido vítima de um "golpe de Estado", em meio a denúncias de fraude eleitoral a seu favor nas eleições fracassadas daquele ano.

Após a prisão de Camacho, uma greve geral foi convocada em Santa Cruz, maior região da Bolívia e motor econômico do país. Ruas desertas bloqueadas com pneus ou bandeiras e algumas poucas pessoas se deslocando a pé ou de bicicleta compuseram o cenário que prevaleceu na primeira metade da sexta no centro histórico da cidade de Santa Cruz.

Também houve vigílias nas portas de instituições estatais como o Tribunal Eleitoral Departamental e o escritório distrital da Direção Geral de Migração.

Algumas pessoas protestaram na porta da sede regional da Receita Federal com bandeiras e faixas com palavras de ordem como "A luta é de todos", "Basta de perseguição política", "Não foi golpe, foi fraude ".  Por sua vez, o Palácio da Justiça em Santa Cruz acordou sob forte proteção policial após a destruição registrada no prédio na quarta-feira após a prisão de Camacho.

Em outras dependências foram relatados outros danos, como no prédio da estatal Companhia Nacional de Telecomunicações, que acordou com alguns vidros quebrados. Além da capital regional, a paralisação também atingiu várias províncias de Santa Cruz e houve bloqueios em estradas que ligam o departamento ao resto do país.

Confrontos entre polícia e manifestantes

A detenção do líder da oposição provocou ainda vários protestos no departamento de Santa Cruz, que exigem a libertação de Camacho. Em algumas das manifestações, foram registrados confrontos entre os manifestantes e a polícia, que respondeu com gás lacrimogêneo.

Os manifestantes jogaram fogos de artifício contra os agentes de segurança na cidade de Santa Cruz, considerada o reduto da oposição de direita no país. Os manifestantes tentaram ainda invadir o prédio do comando da polícia. Carros e pneus foram queimados na região.

A paralisação de 24 horas foi convocada a pedido da chamada "Assembléia de Cruceñidad", que reúne as principais entidades locais e organizações civis da região de Santa Cruz, após a prisão de Camacho, ferrenho opositor do presidente boliviano, Luis Arce.

Alguns comitês cívicos de outras regiões, como a andina Potosí, anunciaram que a partir da próxima semana iniciarão mobilizações em seus departamentos e também está agendado um encontro nacional dessas organizações em Santa Cruz para coordenar outras ações de protesto, segundo anunciou o presidente do Comitê Pro Santa Cruz, Rômulo Calvo.

ONU manifesta preocupação

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, manifestou nesta sexta-feira preocupação "com os recentes acontecimentos na Bolívia. Em comunicado, ele pediu calma e exortou todos os atores políticos e sociais para que "exerçam a máxima contenção".

Guterres enfatizou "a importância de respeitar o Estado de direito e garantir o devido processo e a transparência nos processos judiciais".

Líder oposicionista

O papel de Camacho como líder da oposição se consolidou em novembro, quando ele liderou a greve convocada para exigir ao governo de Arce, que antecipe um ano o censo populacional previsto para 2024. Em julho, o governo adiou a realização do censo, para entre maio e junho de 2024, sob argumentos da "qualidade" dos dados e a necessidade de "despolitizar" o processo.

Santa Cruz acredita estar sendo prejudicada por um censo populacional – usado para recalcular a repartição de lugares no Congresso e de recursos públicos – desatualizado. A última contagem foi realizada há mais de 10 anos.

Camacho liderou também os protestos de 2019 que forçaram o então presidente Evo Morales a deixar o poder. Morales tentava a quarta reeleição consecutiva.

Em junho, um tribunal boliviano condenou a ex-presidente Jeanine Añez a dez anos de prisão por ter organizado o golpe de 2019. Ela assumiu a presidência após a renúncia de Morales.

cn (Efe, Lusa, AFP)